Conspiração Total

Capítulo IV: A Reação

 

Japão, Okinawa, 17 de Março de 1987

 

Kaneda observava o amanhecer do telhado da casa de Takashi. Ele estava muito impressionado com o mundo. As cores, laranja, vermelho, roxo e azul faziam lindos desenhos no céu. Certamente, Kaneda já sentia muito mais como o Chi fluia ao seu redor. Takashi finalmente iniciara o treinamento no elemento ar, e Kaneda já estava aprendendo a sentir seu elemento.

De repente foi avisado, mesmo que de leve, pelo seu novo sexto sentido. Kaneda se virou bruscamente, e viu a imagem de Key, que subia com dificuldades. Se aproximou e a ajudou a subir. Ela estava radiante. Certamente, a noite anterior fora uma das melhores que já passaram juntos. Mas algo afligia Kaneda.

– O que houve, amor? – perguntou Key.

– Hein?

– Nem tente disfarçar... Algo está te deixando triste.

– Não é nada não. Impressão sua.

– Kaneda! Eu te conheço há muito tempo, e sei muito bem quando está triste!

– É... Não adianta tentar mentir para você...– a face de Kaneda ficou mais desanimada.

– Eu sei disso... Mas não entendo. Estamos num relacionamento melhor do que nunca, você venceu um torneio, está cada vez mais poderoso. O que há de errado, afinal?

– É Hwoarang... Sinto falta da nossa competitividade... Nem tenho treinado direito nos últimos dias...

– Isso está te afetando mesmo, mas não é só isso não, né?

– Nossa, você me conhece bem mesmo! – se assustou Kaneda.

– É... Pra você me deixar sozinha e vir ficar aqui nesse frio, algo muito grande está errado.

– Nossa noite foi demais, linda mesmo. Mas depois, quando eu dormi, sonhei com meu pai.

– O quê?! Me desculpe... – Key se sentiu constrangida.

– Não precisa se desculpar... Eu é que preciso... Com ele, com você, com minha mãe, com Takashi-sama, com todos!

– O que é isso, Kaneda? Pare de se repreender!

– Mas é verdade. Enquanto eu não tiver vingado meu pai, não conseguirei ser um bom marido para você, não conseguirei ser um bom filho para minha mãe e nem um bom aluno para Takashi. E se não for um bom aluno, não conseguirei vencer Hwoarang. Se não vencê-lo, nunca serei capaz de vingar meu pai. Tudo é um ciclo, e devo vingar meu pai para que passe a dar certo!

– Kaneda...

 

Key não sabia o que dizer. O jovem garoto estava muito mais sereno do que antes. Além disso, muito certo de seus objetivos. Key viu seus olhos cheios de lágrimas, e apenas abraçou-o. Logo Kaneda se soltou do abraço. Sua tristeza de antes já havia passado, e um sorriso acompanhava suas doces palavras.

– Vamos descer e tomar o café!

– Kaneda?

– Vamos logo, eu te ajudo! Os dois novos integrantes do time vão chegar hoje!

Key apenas sorriu e acompanhou-o em sua repentina alegria. Enfim ela percebeu que seu abraço podia fazer muita coisa. Ela percebeu como Kaneda a amava. Ele desceu e Key pulou em seus braços. Logo, se beijaram. Mas, de repente:

– Nossa, logo cedo?

– Ahn? – virou-se Kaneda, assustado. Iori!

– Fala, Kaneda! Fiquei sabendo que os dois novos integrantes do time vão chegar hoje, né?

– É...

– E você sabe quem são?

– Ah, um deles luta Luta Livre, mas é um pouco místico. Acredito que seja um guerreiro tribal. Já o outro é um Ninja. Mas não é de clãs. Ele, na verdade, conhecia o wrestler, e por isso veio junto. Takashi-sama nem sabe qual é a procedência.

– Kaneda, vou arrumar nosso café! – disse Key, desanimada com o papo dos lutadores.

– Certo... Ah, Kaneda, Yamazaki-sama colocou a gente num torneio do Hawaii. Os dois novos ainda não estão inscritos, mas ele reservou seus lugares!

– Tudo bem... Obrigado, Iori! Agora, vamos entrar para comer alguma coisa!

– É, 'tô morrendo de fome mesmo! – disse Iori, com um sorriso malicioso.

 

Iori comprimentou Takashi, que já estava de pé, e se sentou com ele, Kaneda e Key. Conversaram muito. Iori deu alguns recados de Yamazaki, grande amigo de Takashi. Após algumas horas de conversa, alguém bateu na porta do dojô.

– Fiquem aí, eu atendo! – se precipitou Takashi.

Takashi demorou um pouco. Kaneda e Iori cochicharam, se perguntando se seriam os novos membros do time. Key estava um pouco apreensiva. Após alguns minutos, finalmente entraram. Kaneda e Iori examinaram ambos. Um deles era alto e forte, com certeza o wrestler. Seus cabelos castanhos eram um pouco longos, e suas roupas levemente countries indicavam sua condição de interiorano. 'Como Kaneda disse', pensou Iori.

Já o outro, era um rapaz esbelto, com longos cabelos negros e uma aparência muito bonita. Kaneda percebeu que Key o admirava e isso lhe deixou com uma ponta de ciúmes. Takashi finalmente quebrou o silêncio, apresentando-os:

– Esses aqui são Ian – apontando para o mais esbelto – e Matt – o robusto country. Matt e Ian, esses são Kaneda, Iori e Key, namorada de Kaneda.

– Prazer. – várias vozes ecoaram dizendo essa palavra, que muitas vezes soou.

Ambos se sentaram e começaram a conversar. Takashi saiu e levou Key, para que o time se introsasse. Primeiramente, as duas duplas estavam inibidas. Após algum tempo, conversavam normalmente, como velhos conhecidos.

Depois Takashi os acomodou, e nos dias seguintes treinaram, para se conhecerem melhor.

 

Hawaii, 25 de Março

 

Com certeza um lugar paradisíaco. E dessa vez, para economizarem, Key não pôde vir. Ela e Kaneda tiveram sérias discussões, mas no final ela acabou cedendo, pois Kaneda colocou à prova a confiança dela nele. Os quatro vieram, enfim.

Lindas praias, lindo céu, lindas... garotas! Com certeza os turistas foram recebidos com muitas festas. Mas Kaneda, para evitar qualquer problema, apenas ficara treinando no hotel.

Dois dias se passaram, e enfim chegou a hora do torneio. No Hawaii o street fighting não é permitido, mas não há um rígido controle sobre torneios secretos – principalmente quando são grandes magnatas que os promovem.

Kaneda, Iori e Ian olhavam atentos para a arena, onde Matt ia lutar. Seu oponente, Kalin Olench, era um perigoso kickboxer de Posto 3. Contra um Guerreiro Mundial, não seria grande coisa. Mas para Matt, um iniciante, era um grande adversário.

– Veremos do que ele é capaz! – disse Iori.

Ian olhou para ele com desaprovação, mas não disse nada, por ser novo no time. Matt subiu na arena, e mesmo com os gritos do pequeno público, não se glorificou. Kalin apenas agitava o público. 'Qual é mesmo o meu nome?', se referindo ao apelido K.O., pelas suas iniciais. Com certeza, uma alcunha muito sugestiva.

– PODEM COMEÇAR!

Assim que o juiz autorizou, Kalin partiu pra cima. Matt aguardou sua aproximação e atacou ferozmente com seu Ataque do Trovão, subindo aos ares. Após o ataque, Matt voou por cima dele e finalmente pousou. Kalin caiu feio no chão. Matt, vendo-o nessa humilhante posição, se aproximou e preparou um golpe.

Kalin se levantou furioso, e Matt atacou-o com um chute forte. O chute acertou, mas depois Kalin virou o jogo. Seu poderoso Chute Tesoura acertou Matt no rosto duas vezes, derrubando-o no chão. Nesse momento Kaneda se lembrou de Hwoarang: 'Qual será seu novo truque na nossa próxima luta?'.

Matt tentou se levantar, mas Kalin aproveitou sua fraqueza e atacou-o novamente, dessa vez com um forte Chute no seu joelho. Matt apenas caiu no chão com a mão na perna. Logo depois, perdeu a consciência.

– E O VENCEDOR É... K.O.!

– Que fracote! – gritou Iori.

– Iori, ele perdeu por um detalhe. Além disso, esse Kalin jogou sujo. – repreendeu Kaneda.

– Humf, mas espero que você não seja fraco como o seu amigo! – disse Iori, se virando para Ian.

 

– AGORA... IORI VERSUS... IAN!

– Boa sorte pra vocês dois! – disse Kaneda.

Iori apenas sorriu e subiu na arena. Ian, olhando para ele e para o público, demonstrava estar muito assustado. Ambos se encararam um pouco, e logo Ian tomou um susto. Iori não entendeu, mas Kaneda percebeu que ele tinha visto alguém na platéia, e que fora essa a razão dos susto. No entanto, nada impediu Iori de saltar sobre ele quando o juiz autorizou.

– LUTEM!

Ian tentou atacá-lo com um chute, mas Iori foi mais rápido e derrubou-o no chão com seu Soco do Dragão.

– Shoryuken!

Ian se levantou vagarosamente. Iori concentrou seu Chi e partiu pra cima dele, preparando mais um golpe. Ian ainda acertou-o várias vezes com seu Ataque com Cambalhotas, uma sequência de cambalhotas com vários socos. Mas nada impediu Iori de acertá-lo com seu soco em chamas.

Ian rangeu os dentes. Com certeza, era quase impossível a vitória. Iori o chamou com um gesto, e ele partiu furioso pra cima do Hakushu. Ian o acertou novamente com seu Ataque com Cambalhotas. Iori, ainda sem muitos ferimentos, apenas o derrubou com uma rasteira. Ian caiu de cabeça no chão e não se levantou mais.

– E O VENCEDOR É... IORI!

– Haha, eu já sabia!

Kaneda percebeu que alguns homens se levantavam na platéia. Era a direção em que Ian tinha olhado. Logo depois, Kaneda foi chamado para a sua primeira luta. Isso o distraiu, e ele começou a se preparar...

 

Hawaii, 26 de Março

 

O sol iluminava fortemente a areia da praia na tarde em que o torneio acontecia. Já eram umas 4 da tarde, mas ainda assim o sol estava muito quente. Iori, que acabara de vencer Ewok, seu oponente, já era finalista. Kaneda se preparava enquanto aguardava ser chamado para a luta:

– E então, Kaneda, gostou da exibição? – disse Iori, sem um pingo de humildade.

– É, apesar das dificuldades você lutou bem...

– Parece desanimado, Kaneda. O que houve?

– É que meu oponente é bom... Além disso, na luta passada eu me esforcei muito, e meu corpo está cansado. Meu Chi está abalado, e dificilmente vencerei.

– Xiii... Bom, de qualquer forma, espero te ver na final, Kaneda!

– Vou tentar! – disse Kaneda, com o sorriso voltando ao rosto.

 

– E AGORA, A SEGUNDA SEMI-FINAL! KANEDA, DE OKINAWA CONTRA CHARLIE, DOS ESTADOS UNIDOS!

Kaneda subiu na arena e viu seu oponente se aproximando. Charlie era novato como ele, e era um poço de confiança. Kaneda começou a observar seu oponente. Charlie era um rapaz forte, e relativamente alto. Seus cabelos loiros até que eram arrumados, mas uma estranha mistura de franja e topete estavam na frente, mostrando que era um pouco desleixado. Antes de lutar o americano ainda tirou os óculos e entregou para um amigo que aguardava fora do ringue. Este amigo, com cabelos mais estranhos ainda, era um jovem sargento que em breve seria enviado a uma missão na costa tailandesa.

O nome do parceiro de Charlie é Guile! Guile não é um Street Fighter, e não tem motivos para isso. E Guile ainda não entendia porque o amigo insistia em lutar nesse circuito ilegal. Mas mesmo assim Guile o acompanhava, agora que aproveitava as últimas férias antes da perigosa missão na Tailândia.

– PODEM COMEÇAR!

O grito do juiz surpreendeu Kaneda. Charlie partiu sobre ele, que tentou atacá-lo com um soco. Mas Charlie foi mais forte, e seu salto com uma rápida joelhada derrubou Kaneda no chão. Kaneda levantou vagarosamente, ainda com uma forte dor.

Bastou Kaneda levantar para Charlie partir para cima novamente, dessa vez com um soco rodado. Mas o sexto sentido do americano o avisou sobre uma tormenta que estava por vir: Kaneda preparava o seu Bola de Fogo Múltipla, que poderia simplesmente acabar com a luta! Assustado com tanto Chi emanando do jovem garoto, Charlie desistiu do soco e apenas pôde se defender. As cinco Bolas de Fogo atingiram os braços de Charlie, que se movimentaram rapidamente para defender os golpes. Kaneda olhou e se surpreendeu, ao ver que o militar sofrera poucos danos!

– Grande golpe, rapaz! – disse Charlie.

– É, mas parece que soube se defender bem dele...

– Militares antes de tudo são pessoas que devem saber defender suas vidas mais do que tudo. Mas não deixa de ser um grande golpe. Quem sabe se fosse mais rápido?

Charlie terminou a frase e apenas sorriu. Kaneda se assustou. Mas Charlie não queria conversar. 'Vamos, garoto, o que está esperando?'. De fato, Charlie também era jovem, com menos de trinta anos. Mas Kaneda, com os seu quase dezessete ainda era uma criança perto dele. Kaneda partiu pra cima, com um misto de dor e medo pelo valoroso oponente. Ele o atingiu com um forte soco. Charlie ainda teve tempo de gemer.

Mas não era o dia de Kaneda, como ele mesmo previra. Charlie sentiu o soco, mas ainda pôde desferir seu golpe. O poderoso Flash Kick acertou Kaneda na face, jogando-o longe. Todos ficaram atentos olhando. Após alguns segundos, vendo que ele não se levantaria, o juiz finalmente anunciou o fim do combate.

– E O VENCEDOR É... CHARLIE!

– Droga! – Iori falou.

 

Iori queria muito lutar com Kaneda e provar seu valor. Mas agora, o máximo que podia fazer era buscar o corpo do amigo na arena e levá-lo para o hotel. Foi isso que Iori fez. No caminho, estava sério. Sentia um misto de medo e raiva do militar que lhe tirou a chance de lutar com Kaneda. 'Justo agora, que estou na final!'.

Iori deixou a moça do hotel cuidando de Kaneda e partiu novamente para o local do evento, pois a final ia começar logo. No caminho, foi surpreendido por uma jovem:

– Ei... Você é o cara do torneio, certo?

– Hein?! – Iori se assustou.

– Deixe-me ver... Iori! Iori Hakushu, não é mesmo!

– Sou sim, por quê? – Iori estava assustado. Mas dessa vez analisou a moça por completo. Ela era linda! Um pouco mais baixa que ele, loira, com olhos verdes e um corpo escultural.

– Eu te vi lutando... Você é muito bom! Com certeza vai ganhar! – disse com um sorriso no rosto.

– Quem é você?

– Ah, esqueci de me apresentar! – constrangeu-se um pouco – Meu nome é Kimberly. Kimberly Stoner!

– Prazer, Kimberly! – Iori começou a se animar com a conversa com a jovem desconhecida.

– Prazer... De onde você é, Iori?

– Ah, sou do Japão... Pra ser mais exato, de Tóquio... E você?

– Sou norte-americana, como pode ter percebido. De Ohio. Mas você fala bem inglês, hein!

– É, fiz um curso quando ainda era pequeno. Mas você é de longe, hein! – Iori parecia envolvido.

– É...

E os dois continuaram andando, até o local do torneio. Quando chegaram, já sabiam muito sobre o outro. Kimberly havia se assustado com os dezesseis anos de Iori, e ele mais ainda com os vinte dela. Conversaram muito. Iori enfim teve que se despedir, pois agora entraria na arena.

– Boa sorte!

– Eu vencerei essa por você! – prometeu Iori, como se já a conhecesse há muito tempo.

– Não está se esquecendo de algo? – disse Kimberly, com um olhar sensual. Com certeza, era muito decidida.

– Hein?

Iori ficou olhando para ela. Kimberly parecia gostar da ingenuidade do jovem, e também de sua impulsividade. Mas agora, ela percebeu que deveria agir. Kimberly o puxou. A grande força de Iori não mostrou nenhuma resistência nesse momento. Os dois se beijaram.

 

Algum tempo depois, Iori já encarava Charlie na arena:

– Você vai pagar agora pelo que fez com Kaneda!

– O quê?! Eu pensei que quem lutasse estivesse sujeito a derrotas! – resmungou Charlie.

– Mas eu queria muito lutar com meu amigo na final... E saiba que não será tão difícil assim te vencer!

– Hahahaha, ouviu o que ele disse, Guile? Garoto, vai se arrepender de ter nascido quando eu tiver acabado!

– Vocês americanos só sabem blefar...

– COMECEM A GRANDE FINAL!

Charlie estava furioso com os insultos de Iori. Ele avançou sobre o garoto com o seu Soco Giratório, acertando-o na face. Mas logo depois Iori jogou-o longe no chão com o seu Soco do Dragão. Charlie, ainda de joelhos, tentava se levantar, quando viu o forte soco de Iori com chamas atingindo-o na face.

– Vai pagar por isso, seu idiota! – gritou Charlie.

– Agora você vai perder...

Charlie, que estava na frente de Iori, tentou acertá-lo com seu Flash Kick. Mas Iori, mais rápido, atingiu-o com o seu Chute Furacão. Charlie foi levando, sendo atingido três vezes pela giratória. Enfim caiu, não se levantando mais.

– E O VENCEDOR DO TORNEIO É, SEM GRANDES DIFICULDADES... IORI HAKUSHU!

– Eu venci!

Iori desceu da arena, ainda comemorando e fitando o olhar bravo de Guile, que retirava o amigo Charlie da arena, que estava inconsciente. Logo Iori recebeu um abraço da recém conhecida Kimberly, seguido de um longo beijo. A platéia bateu palmas para o beijo dos pombinhos. Iori se virou para trás e viu o amigo Kaneda, que o parabenizava pela vitória:

– Parabéns, Iori! Grande luta!

– Kaneda?! O que faz aqui?

– A moça que você mandou me cuidar começou a me beijar e eu acordei. Só pensam em sexo por aqui, hein!

– Hahahaha, é verdade. – disse Iori, muito feliz pelo título ainda.

– Parabéns, Iori. – disse Matt, que se aproximava também.

– Ah, valeu. E aprendeu como se luta?

– Para com isso, seu bobo! – repreendeu Kimberly.

 

Estranhamente, Ian não estava com eles. Os quatro (Iori, Kimberly, Kaneda e Matt) voltaram para o hotel, e ficaram sabendo que Ian havia partido. Muito indignados, resolveram passar a noite no hotel mesmo. Na manhã seguinte partiriam.

– Kimberly, em que hotel está? – perguntou Iori. Ambos estavam sozinhos no seu quarto.

– Ahn? Na verdade, em nenhum. É que eu ia embora hoje, mas já que te conheci, não comprei a passagem que havia reservado.

– Ah sei... E sabe onde vai ficar?

– Não, ainda não...

– Se quiser... É... Bem... Pode ficar aqui se quiser... – disse Iori, com um certo embaraço.

– Está me convidando para dormir com você, Iori? – disse ela, com uma certa indignação.

– É... Bem... É mais ou menos isso... Hehe... – Iori parecia muito constrangido.

– Iori, não precisa ficar nervoso. Eu sei que é jovem, e pelo que parece ainda é virgem, não é?

– É... Sou...

– Mas você ainda precisa aprender a lidar com garotas, Iori.

– O quê?! Como assim? – disse Iori, meio assustado.

– Sabe, vocês, homens, são muito apressados. Eu vou aceitar seu convite, mas nos conhecemos hoje, portanto, nada de sexo, hein!

– É... 'Tá! Se você diz... – disse Iori, um pouco desanimado. A ansiosidade de antes havia se transformado em frustração, e ele expulsou o ar retido no peito com um assoprão discreto.

Ambos ficaram namorando até tarde. Beberam um pouco, e comemoravam o título de Iori. Após umas 5 ou 6 garrafas de champagne, Kimberly e Iori caíram no sono. Acordaram de manhã, Iori no sofá, e Kimberly na cama. Se arrumaram e saíram. Kaneda e Matt esperavam lá fora.

 

– Esse Ian... – falava o indignado Kaneda.

– Eu não entendo... Ele nunca fez isso... – falava Matt, um pouco constrangido com a situação.

– Estranho... Aqueles homens na platéia...

– Que homens?

– Ah, deixa pra lá... Olha, lá vem Iori com sua namorada! – apontou Kaneda.

Eles se cumprimentaram. Logo Kaneda os apressou, pois o vôo partiria às 10 da manhã, e já faltavam menos de 30 minutos. Eles foram, e Kimberly os acompanhou até o aeroporto. No caminho, Iori perguntou sua profissão. Kimberly contou que era uma ricaça patricinha norte-americana. E que estava tirando umas férias. Já no aeroporto, enfim chegou a hora da despedida. Ela e Iori se beijaram longamente.

– Kimberly...

– Oi... Fala.

– É quê...

– Iori, não gosto de rodeios! – disse ela, se referindo à noite anterior.

– Está certo! Você não quer ir comigo pra Okinawa? Pelo menos até suas férias acabarem...

– Fala sério? – ela se animou.

– Claro!

– Eu me apresentei pra você, eu te beijei, mas isso eu não podia fazer: me convidar para ir com você. Estava esperando o convite, e achei que não fosse fazê-lo! – disse ela, com um largo sorriso – É claro que vou!

Iori foi correndo comprar a passagem. Ele já pensava em fazer o convite e a tinha reservado na noite anterior logo depois que Kimberly havia caído no sono. Os quatro entraram no avião e enfim foram para Okinawa.

 

Japão, Okinawa, Noite de 27 de Março

 

Kaneda, Iori, Kimberly e Matt já haviam chegado em Okinawa. Eles já estavam na frente do dojô, quando um carro de polícia chegou rapidamente. O oficial desceu e cumprimentou-os com pressa, entrando na academia – era o mesmo oficial da noite em que morreu Chong-Li.

Kaneda e Iori entraram correndo, enquanto Matt e Kimberly ficaram sem ação. Lá dentro, puderam ver Takashi e Key assustados com o corpo morto de Ian no chão. Key, chorando, ao ver Kaneda correu e o abraçou.

– O que houve, Key? – indagou Kaneda.

– Uns ninjas apareceram e o mataram... – disse ela, ainda chorando.

– Yakuza, Takashi-sama? – perguntou Iori, para o velho mestre.

– Não... Alguns deles seguraram a mim e Key, e eram muitos, mais de 20. Pela segurança de Key, não pude fazer nada. Um deles se apresentou como Vega. Ele se dizia mestre de Ian e fundador do estilo Ninjitsu Espanhol. Disse que nós não importávamos, e que tinha contas a acertar com Ian. Ainda tentei atacá-los com meu poderes, mas logo me imobilizaram. – disse Takashi, mostrando os cortes feitos por garras nos braços e no tronco. – Por fim esse Vega o matou, e disse que além de ser um imprestável, Ian não havia agido como um ninja. Eles se foram, e em suas últimas palavras Ian disse que morreu porque não quis cometer um assassinato, que Vega havia mandado-o fazer.

– Entendo... Ian era espanhol, e esse Vega também... Vamos investigar a morte, mas acredito que não conseguiremos nada... Não poderemos invadir a espanha... – disse o policial, desanimado.

– Eu senti tando medo! – disse Key, chorando.

– Eu estou aqui agora. Estou pra te proteger! – disse Kaneda, a abraçando com muita força.

 

Japão, Okinawa, Tarde de 22 de Abril

 

Quase um mês já havia se passado. Assim como chegou, Ian se foi, sem deixar pistas, sem nenhuma informação. O time ainda tentava se estabelecer, mesmo desfalcado. Takashi aceitou a presença de Kimberly, e em pouco tempo ela e Key se tornaram colegas, reflexo da amizade de Kaneda e Iori.

Já Matt, aos poucos se enturmava. Mas tinha o hábito de sair sozinho. De fato, ainda estava se sentindo um pouco "fora". Enfim chegou o dia da partida de Kimberly. Suas férias haviam acabado.

– Iori, parece que teremos que nos despedir... Eu já reservei minha passagem... – disse ela, com os olhos cheios de lágrimas.

– Eu te levo até o aeroporto.

– Não! Eu odeio despedidas! – Kimberly parecia muito triste.

– ...

– Sabe Iori, eu já namorei outros rapazes, muitos outros, mas com você foi diferente... Eu não sei porque, mas esse um mês que fiquei com você foi muito mais significativo do que o um ano que fiquei com meu ex-noivo. Eu te amo muito, e sei que é o homem da minha vida!

Iori se assustou muito com essa revelação. Kimberly começou a derramar muitas lágrimas após dizer isso. De fato, ela ainda se conservava como antes, sendo sempre direta no que falava. Iori também derramou uma lágrima do olho direito, seguida por uma do olho esquerdo.

– Eu também já tive outras namoradas, Kim, mas sinto o mesmo em relação a você...

– Iori... – ela o beijou longamente. Depois, começou a se afastar. Mas a mão do Hakushu a segurou!

– Espere!

– O que foi, Iori? – a face de Kimberly ainda estava muito entristecida.

– Fique! Por favor, fique!

– O quê? Como pode me pedir isso? Sabe que tenho uma vida em Ohio. Sabe que tenho um emprego, sabe que tenho tanta coisa lá!

– Mas você não disse que sou o homem de sua vida? De que adianta tudo que você tem lá se não estará comigo? – Iori pensou que essa chantagem iria funcionar, mas acabou despertando mais raiva nela, indecisa como nunca.

– E por que você não faz isso? Por que não vai comigo?

– No meu caso é diferente! – disse Iori, mudando a expressão.

– É diferente por quê? Só por que você é homem?

– Se você soubesse o motivo, não falaria assim...

– E qual é o motivo, Iori? Anda, fala?

– Bom, eu nunca te contei, mas eu só conheci Kaneda porque meu pai trabalhava junto com o pai dele na polícia. Eles investigavam a Yakuza. Resumindo; nossos pais foram mortos porque estavam quase acabando com o esquema. E nós só nos tornamos lutadores para isso! Estamos no street fighting para nos testarmos, para melhorarmos e para descobrirmos mais sobre a Yakuza. Enfim, minha casa é em Tóquio, mas estou aqui por causa disso!

– Iori... – a face de Kimberly mudou completamente. Agora estava muito constrangida, coisa que acontecia raramente.

– Tudo bem... Vá... Eu sou um egoísta pedindo pra você ficar!

– Não Iori! Eu te amo! Eu ficarei!

– O quê? – disse Iori, segurando suas duas mãos – Tem certeza disso?

– Tenho sim!

 

Eles se beijaram novamente, e se abraçaram por algum tempo. Logo depois ela foi correndo e ligou para seu pai, que estava em Ohio. Após uma longa discussão, Kimberly enfim desligou. Ela deixou a empresa do pai por um tempo indeterminado, mas ele, furioso com isso, disse que não mandaria nenhum dinheiro pra ela até que ela "acordasse desse sonho e voltasse".

Kimberly desarrumou suas malas e se acomodou novamente. Key ficou muito feliz, e Kaneda também, por Iori.

Na noite do dia seguinte, Kaneda e Iori conversavam, enquanto Key e Kimberly preparavam um delicioso jantar. Matt havia saído na noite do dia anterior para se divertir, e ainda não tinha voltado. Kaneda e Iori ainda conversavam animadamente, quando Takashi apareceu e mandou-os até a delegacia – Takashi era um grande amigo do delegado – para pedir que ajudassem a encontrá-lo, pois 24 horas já haviam se passado.

Já na delegacia, após alguns minutos de espera Iori e Kaneda enfim puderam conversar com o delegado:

– Hum, entendo... Olha, eu não queria falar isso pra vocês, mas nessa manhã fui avisado que um corpo chegou no necrotério, e a descrição bate com a desse tal de Matt. Ele foi morto com vários golpes de espada, e ao que parece não foram de uma só pessoa.

– Ah, nem vem com isso de novo! – falou Iori, já indignado com as mortes em seqüência.

– Bom, só tem um jeito de termos certeza. – disse Kaneda.

Algum tempo depois, Kaneda, Iori e o delegado Sosaki já estavam no necrotério. Kaneda preferiu aguardar do lado de fora. Iori e Sosaki entraram. Após uns vinte minutos os dois enfim voltaram. Kaneda se aproximou para perguntar, mas pela expressão dos dois parecia já saber a resposta.

 

– E então, Iori? – perguntou Kaneda.

– Era ele. – disse, cabisbaixo – E foram yakuzas!

– Ainda não temos certeza, Iori! – repreendeu Sosaki.

– Mas nós temos, não é Kaneda? – disse, virando-se para o amigo.

– É, temos sim. E me cansei de ficar apenas na defesa. Eu tenho uma idéia, Iori.

 

Japão, Aeroporto de Okinawa, 25 de Abril

 

– Kaneda, tome cuidado! E volte logo! – disse Key, enquanto o abraçava fortemente.

– Tudo bem, amor, só demorarei alguns dias. Menos de uma semana. – Kaneda deu um último longo beijo.

– E você também, seu danadinho! – lembrou Kimberly, antes de beijar Iori.

– M-mmm, tudo bem!

– Kaneda e Iori, tomem cuidado! Foi em Tóquio que seus pais morreram, e com certeza a Yakuza está atrás de vocês. – disse Takashi.

– Tudo bem, Sensei. Mas antes temos que passar num lugar.

– É verdade, agora me diga, Kaneda, por que Seul?

No fim da tarde do mesmo dia, os dois já andavam pelas ruas de Seul, capital da Coréia do Sul. Iori andava meio contrariado, e Kaneda, muito atento, tentava não se perder nas ruas dessa cidade nunca visitada antes. Após longas duas horas de caminhada, Kaneda parou.

– É aqui! Não posso estar errado.

– Hum... Até que é um belo lugar. – disse Iori, examinando muito bem a casa.

 

Kaneda se aproximou e bateu. Após cerca de um minuto, enfim o portão foi aberto. Hwoarang se assustou muito ao ver Kaneda e Iori. Ele estava suado, e vestindo um gi. Com certeza estava treinando.

– Vocês, aqui?!

– E então Hwoarang, tudo bem?

Hwoarang os convidou para entrar. Kaneda e Iori acabaram conhecendo a casa, e cumprimentaram Kim, que estava supervisionando o treinamento do filho. Após um curto treino entre Hwoarang e Kaneda, e um lanche, enfim sentaram-se no telhado – parece que não era apenas de Kaneda essa mania – para apreciarem o pôr-do-sol.

– Então Kaneda, o que te trouxe aqui? – perguntou Hwoarang.

– O avião, idiota! – disse Iori.

– ... – o silêncio dos dois fez o Hakushu ficar sem graça. Hwoarang não ia mesmo com a cara dele, e Kaneda estava tratando o assunto com muita seriedade.

– Ah, qualé, foi uma piada... Bah, vão se danar se vocês não têm senso de humor!

– Hu-hum, como eu ia dizendo, o que te trouxe até aqui, Kaneda? – perguntou novamente o coreano.

– Você quer voltar para o time?