Conspiração Total

Capítulo VI: Renasce a Sede de Vingança!

 

Japão, Okinawa, 22 de Outubro de 1987

 

Há mais de três meses Kaneda havia desistido da vingança. Iori, furioso com ele no início, agora já o entendia. Mas Hwoarang se entristeceu, pois o amigo não treinava mais com tanto afinco, e se continuasse assim logo seria ultrapassado e não seria mais um desafio.

Mais um dia de treinos começava. Hwoarang trocava golpes com Kim, na falta do parceiro de treinos Kaneda. Iori treinava com Takashi. Key e Kimberly conversavam, juntas. Ryuji também conversava com Tetsuo, na sala:

– Fale mais baixo, droga! – repreendeu Ryuji.

– Tudo bem... Mas não entendo porque estamos aqui ainda! Eles não irão mais...

– Logo entenderá, Tetsuo...

 

Enquanto isso, Kaneda interrompia a conversa de Key e Kimberly:

– Me desculpe, Kimberly, mas Key vai ter que deixar sozinha! – disse com um sorriso no rosto.

– Ué, por acaso isso é um convite? – perguntou Key, já se levantando.

– Tudo bem, podem ir. Vou assistir os treinos um pouco.

Kaneda e Key foram saindo, abraçados. Hwoarang se virou para olhar, indignado, pela falta do antigo espírito guerreiro de Kaneda. Mas por outro lado ficava feliz, por Key. Essa virada para o lado lhe custou um chute na cara, que por pouco não o derrubou no chão.

Kaneda e Key se aproximavam da sala enquanto Ryuji e Tetsuo ainda cochichavam. Logo os yakuzas perceberam, e Ryuji fez um sinal para Tetsuo parar de falar.

– Aonde vão os pombinhos? – perguntou Ryuji.

– Vamos dar uma volta! – respondeu Key, muito animada.

– Onde pretendem ir? – perguntou Tetsuo.

– Eu acho melhor você ficar quieto! – disse Kaneda, ainda ressentido pelo incidente de mais de três meses atrás.

 

Ryuji e Tetsuo ficaram olhando os dois se afastarem. Logo, Tetsuo começou a rir. Ryuji não entendeu. Seu amigo apenas falou: 'Terei minha vingança desses dois idiotas!'. Depois de falar Tetsuo levantou e saiu correndo. Ryuji, sem entender, tentou detê-lo. Mas quando chegou na rua o viu conversando com vários outros yakuzas, e viu que era melhor voltar para dentro.

– Isso mesmo! Mas não se esqueçam de bater muito na barriga. Eu quero o filho dele morto! – disse Tetsuo, com um sorriso insano na face.

– Sim senhor! – os homens se afastaram. Eram seis. Tetsuo sabia das cinco bolas de fogo de Kaneda, e por isso convocou seis homens.

– Agora, Kaneda e Key, vão me pagar pelo que fizeram comigo! Hahahahahahaha!

 

Kaneda e Key trocavam alguns beijos. Estava um dia lindo, e mesmo no começo da manhã já estava esquentando. Pela elevação da praça, era possível ver o mar, mesmo já estando a alguns quilômetros dele. Kaneda abraçou Key com muita força. Depois beijou sua barriga.

– Eu te amo! Eu amo vocês dois!

De repente, Kaneda sentiu algo. Seu elemento lhe avisou, e se virou rapidamente. Então viu cinco homens se aproximando. Kaneda pôde apenas proferir uma frase ('Fuja Key!'). E ele os atacou com seu Bola de Fogo Múltipla quando tentaram atacá-lo com suas espadas. Todos caíram no chão, muito fracos. Kaneda não hesitou, atacando-os novamente com o golpe, mandando-os para o mundo dos sonhos!

Kaneda então se virou, para dizer para Key que estava tudo bem, para dizer que ele havia a salvado. Mas não foi bem isso que viu. Key estava no chão, nocauteada, com um pouco de sangue escorrendo pela boca. O sexto homem olhou para Kaneda rindo, e partiu pra cima dele, com sacando sua espada. Kaneda defendeu-se do seu golpe, e depois atacou-o com seu Bola de Fogo Múltipla.

O corpo do inimigo caiu no chão. Talvez estivesse morto. Mas isso não importava. Kaneda pegou Key no colo e correu para o hospital mais próximo. Após alguns minutos, seus amigos chegaram no hospital – Hwoarang, Iori, Kimberly e Ryuji. Kaneda aguardava impaciente, mas aceitou o abraço de Kimberly, que sofria muito por Key, como ele. Depois de cerca de uma hora o médico chegou, e contou a notícia para Kaneda: Key estava bem, mas o bebê havia morrido com as pancadas.

Kaneda sempre foi muito reservado. Ele não gritou, não esperneou, não fez escândalo. Mas foi correndo para o quarto de Key. Ela parecia estar dormindo. Kaneda abraçou-a e começou a chorar.

 

– Ainda bem que está aqui, Kaneda!

– Hein? Pensei que <snif> tivesse dormindo <snif>...

– E como poderia? – Key então começou a chorar, em prantos.

 

Três horas já tinham se passado, e Ryuji já havia voltado para casa. Mas Hwoarang, Iori e Kimberly ainda aguardavam. Kaneda enfim saiu da sala. Kimberly logo foi correndo para lá. Ele se sentou onde ela estava sentada, se virou para Hwoarang e Iori – principalmente – e disse:

– Eu vou acabar com essa Yakuza!

 

China, Pequim, 30 de Janeiro de 1988

 

Kaneda, Iori, Hwoarang, Ryuji e Tetsuo já estavam em Pequim há mais de duas horas – mas não conseguiam encontrar o restaurante Shenyang, onde haviam marcado com a detetive da Interpol! O pior é que nunca tinham estado nessa cidade tão estranha! O clima estava frio, e nada fazia-os quererem permanecer na rua.

De repente, Kaneda sentiu algo. Antes que a mão pudesse tocar seu ombro, ele se virou e tentou segurá-la. Mas não conseguiu. Todos pararam e ficaram olhando. Era um mulher, oriental, muito bonita. Seus cabelos pretos estavam presos em duas tranças, e sua roupa acrobata embaixo do sobretudo não combinava muito bem com o frio que fazia.

– Você é Kaneda Jones? – perguntou a moça.

– Sou sim, quem é você? ('Como ela é tão rápida?')

– Eu sou Chun Li, que marquei com vocês quatro. Mas como não apareceram no restaurante decidi ir atrás de vocês! – disse ela, com o belo sorriso que tinha.

– Ah sim, prazer! Esse é Hwoarang Hyung, esse é Iori Hakushu e esse é Ryuji Hatoshi! – disse apontando para eles.

– E eu sou Tetsuo Oda!

 

Após um pouco de conversa e maiores apresentações, já estavam os seis comendo no restaurante. Chun Li enfim começou a comentar sobre a investigação da Interpol sobre a Yakuza de Tóquio, e pediu para ver os documentos que Kaneda e Iori carregavam, provas encontradas pelos seus pais em anos de investigação – foi isso que fez ela ir atrás deles. Chun Li examinou por algum tempo, e enfim abriu a boca:

– Hmmm... Interessante. Muito interessante.

– E então, gata, só isso aí serve? – perguntou Iori, impaciente.

– Só isso? Como pode dizer "só isso"? É um prazer trabalhar com vocês, Srs. Jones e Hakushu. Seus pais eram grande investigadores, com certeza! – disse Chun Li, empolgada.

– Hehe, acho que devia ter lido os documentos, Hakushu! – disse Hwoarang, com uma gargalhada.

– Ah, qualé, é lógico que li!

– O que eles dizem, Chun Li? – perguntou Kaneda.

– Aqui diz tudo... Como se organizam, onde ficam os principais cartéis, onde ficam os líderes... Olha só, tem até estimativas para 1990, sobre seu domínio em Tóquio!

Tetsuo olhou para Ryuji, com um sorriso malicioso. Ryuji não retribuiu o sorriso, e olhou para o céu nublado, pensativo. A conversa durou mais um pouco. Chun Li os hospedou em sua casa, ficando todos um pouco apertados, alguns dormindo em colchões no chão e outros nos sofás. Logo estavam dormindo, pela cansativa viagem...

 

– Quem está aí? – disse Ryuji, vendo o céu todo colorido e brilhante.

– Não me reconheces mais?

– Pai? É você, pai?

– Sim filho. Eu não tenho muito tempo, mas preciso te contar algo.

– Pai, eu te amo pai! – disse Ryuji abraçando-o.

– Filho, não é hora para isso! Estou aqui para te contar uma coisa!

– Diga pai! – Ryuji enfim caiu na real.

– Filho, você deve vingar seu pai! Só assim nossa família estará honrada e poderei descansar em paz. Quem me matou foi meu superior, o mesmo assassino dos pais de seus amigos Kaneda e Iori!

– O quê?!

– Eu morri por causa de uma pequena falha após dez anos de sucessos e lealdade. Não cumpra os objetivos do assassino de seu pai!

– Sim pai! – a voz de Ryuji vinha aumentando, e agora já estava gritando.

– Agora preciso ir, meu filho.

– Não pai, espere! Pai...? Pai...? PAAAAIIIIII!!!

Ryuji abriu os olhos. Olhou para os lados. Após alguns segundos finalmente acordou de verdade. Estava sentado, no sofá da casa de Chun Li. Já vinha tendo esse mesmo sonho há meses, e estava muito indeciso. Ryuji viu Iori dormindo. E viu também Tetsuo. Ryuji não sabia o que fazer. Se deitou novamente. Com certeza, era uma decisão só sua; seguir o pai ou o clã que lhe acolheu quando estava sozinho no mundo?

 

Na manhã seguinte, Kaneda, Iori, Hwoarang, Ryuji e Tetsuo tinham a última conversa com Chun Li antes de se despedirem:

– Então é isso. Vamos nos esconder no dojô para evitar ataques, e depois acabaremos com a Yakuza de Tóquio, certo?

– Isso mesmo, Kaneda. Enquanto estiverem escondidos, a Interpol vai preparar o caminho, e vai fazer o que seus pais não tiveram tempo de fazer. Acreditamos que levará cerca de dois anos. Treinem incansávelmente, garotos. E que estejam prontos no final!

– Garotos? Quantos anos você tem? – perguntou Hwoarang.

– Vinte!

– É... Acho que somos garotos sim, hehehehe...

 

Japão, Okinawa, 22 de Dezembro de 1988

 

Mais um dia de treinamento começava. Antes, porém, Kaneda havia levado o café na cama para Key. Ela ainda estava abalada com a perda do filho. Kaneda foi muito doce com ela, e eles acabaram se amando por um longo tempo.

Enquanto isso, Hwoarang se divertia com Kim e Takashi, que "brincavam" de luta com ele. Iori namorava Kimberly na cozinha, ambos com muita adrenalina, pois alguém podia chegar a qualquer momento.

Como um bom Ninja, Ryuji percebeu tudo isso, e viu que era o momento oportuno. Se aproximou do subordinado Tetsuo, e chamou-o para uma conversa.

– Sabe Tetsuo, eu sinto que você não me entenderá.

– Do que está falando, Ryuji?

– Você sabia que o clã matou meu pai?

– Sim, mas ele falhou na missão! – gritou Tetsuo.

– E daí?! Ele foi fiel dez anos para o clã, droga!

– Ryuji, essa é a lei...

– Se essa é a lei, estou fora. – Ryuji sacou a espada, como se fosse entragá-la a Tetsuo.

– É uma pena, Ryuji. O clã virá te buscar. – disse Tetsuo, desapontado.

– Mas eles nem sabem disso. E não saberão, pois você não irá contar, não é Tetsuo?

– Por que diz iss...?

Tetsuo não pôde terminar de falar. A espada de Ryuji o surpreendeu e lançou fora sua cabeça, assim como se corta folhas de papel. O sangue jorrou, e o corpo de Tetsuo logo caiu no chão. Com certeza alguém forte como Kaneda, Hwoarang ou Iori não morreria tão fácil assim, mas Tetsuo ainda era jovem e fraco. Além disso, nunca imaginou morrer nas mãos de um irmão do clã.

Logo Takashi, Hwoarang e Kim se aproximaram, seguidos por Iori e Kimberly. Ao ser perguntado, Ryuji apenas disse que Tetsuo era um espião, que ainda estava no clã, e que graças a ele Key havia perdido o filho. Mesmo sendo uma nova mentira com fundo de verdade – já que Ryuji finalmente tinha se decidido -, a história colou. Kaneda e Key ainda agradeceram depois. E o tempo foi passando, o mundo mudando e a sede de vingança aumentando...

 

Japão, Okinawa, 2 de Julho de 1990

 

Kaneda e Iori trocavam alguns golpes, depois do amanhecer. Kimberly ainda dormia, e Key conversava com Hwoarang. Takashi estava ensinando umas lições básicas para Ryuji, e Kim, como Kimberly, também dormia.

 

– Vamos lá Iori, tem que ser mais rápido!

– É verdade, mudamos muito.

– 'Tá se achando, né Kaneda?

– Você foi a que mais mudou; agora é uma mulher.

As vozes das conversas pareciam se cruzar, apesar do quase cochicho de Hwoarang e Key e dos gritos de Kaneda e Iori. Após mais alguns minutos, o telefone tocou. Kaneda e Iori pararam de treinar, e Hwoarang e Key ficaram olhando para os dois. Ante ao impasse, Key quis mostrar-se útil.

– Eu atendo! – e a garota saiu correndo. Na verdade, não era mais uma garota, agora com seus dezenove anos.

 

– Sim... Ah, então é você a tal Chun Li! – Key parecia ter algum sentimento contra ela. Mas era apenas um ciúme bobo, depois de ouvir Kaneda e os outros comentando sobre sua beleza estonteante. – Sim, vou chamá-los!

Key voltou, mas sem a pressa de antes. Avisou para Hwoarang: "É a Chun Li...". Muito antes de Key se sentar Kaneda respondeu "Eu atendo!", e saiu correndo. Isso fez com que ela ficasse mais brava ainda. Hwoarang, percebendo isso, tentou limpar a barra do amigo:

– O que houve, Key?

– Ah, essa Chun Li!

– Que que tem ela? – perguntou Hwoarang, se fazendo de ingênuo.

– Nada não!

– Hahahaha, está com ciúmes?

– Ai Hwoarang, um homem não entenderia!

– É, não entenderia mesmo... Mas pode ficar fria, que o Kaneda só tem olhos pra você... Quando você está perto, hahahahaha!

– Ah, seu bobo! – disse ela, já num tom mais brincalhão.

 

– Sei... Nova Iorque?... Ahn... Está certo então Chun Li... Isso!... Amanhã iremos nesse lugar!... É... Então tá, tchau!

Iori apenas ouvia as frases de Kaneda e tentava imaginar o que eles estavam conversando. Enfim Kaneda desligou, e ele pôde perguntar. Mas antes mesmo, Kaneda, que viu sua cara de curioso, começou a contar:

– Bom, parece que teremos diversão!

– O quê?! Então sairemos da prisão, Kaneda? – disse Iori, se contendo para não pular de alegria.

– É isso mesmo!

– E pra onde vamos? Acabar com a Yakuza?

– Não... Chun Li descobriu um bar que funciona todas as noites em Nova Iorque e que aceita desafios na hora. É muito sombrio, mas tem muitos iniciantes.

– Que interessante! Mas o que temos a ver com isso?

– Bom, iremos pra lá para sabermos se estamos prontos! – disse Kaneda, com um sorriso confiante.

– Gostei...

 

EUA, Nova Iorque, 3 de Julho

 

Uma fumaça pairava no ar, e parecia mostrar como a noite é sombria nesse canto da cidade. As luzes brilhantes do centro dos ricos foram trocadas por becos escuros e barulho de sirenes policiais a todo momento. Kaneda e Iori estacionaram suas motos e desceram, junto com Key e Kimberly. Hwoarang e Ryuji desceram do táxi, e o coreano pagou. Hwoarang se perguntava o que estava fazendo nesse lugar. De repente, Iori se virou para Kaneda:

– É esse o lugar?

– Sim.

– Parece uma boite qualquer.

– Basta entregarmos isso para o cara. – disse Kaneda, mostrando o cartão que Chun Li havia dado para ele quando passaram por Hong Kong.

– Ei, se é o lugar mesmo, por que não entramos logo ao invés de ficarem os dois batendo papo? – disse Hwoarang, afetado pelo ansiedade de estar num lugar tão hostil.

– Calma, Hwoarang. Sinto que está nervoso. – disse Ryuji.

– Ryuji, eu quero que lute amanhã. Você também, Hwoarang. Eu quero que cuidem de Key e Kimberly, na boite. – interrompeu Kaneda.

– Pode ficar frio que eu cuido da Key, Kaneda. – disse o coreano.

– E você, nada de gracinhas com a minha mina, hein! – disse Iori apontando para Ryuji.

– Para com isso, eu não sou o Tetsuo!

Eles pagaram e entraram. Após alguns minutos, Kaneda fez um sinal para Hwoarang e sumiu no meio da multidão. Antes de ir atrás dele, Iori ainda deu um beijo em Kimberly. Ela estava muito tensa com a situação, e o beijou como se fosse o último beijo deles.

Já lá dentro, Iori se levantou. Virou-se para Kaneda:

– Agora vou derrotar dez oponentes de uma vez só!

– ...

– Não acredita, né? Vai ver!

O silêncio de Kaneda não foi por não acreditar. Foi porque tentaria algo maior. Logo viu Iori conversando com seus futuros oponentes e acertando com os juízes, que anotaram em seus computadores. Os oponentes não paravam de rir, subestimando o desconhecido. Logo já estavam na arena, e a luta começou. Kaneda observava atentamente.

Três ou quatro correram na direção de Iori, que os recebeu com chamas. De sua mão saiu uma língua de fogo, atingindo todos. Cortesia de seu elemento. Os outros, furiosos, partiram em sua direção, cercando-o. Grave erro. Iori se levantou do chão num poderoso Chute Furacão. Abraçou o espírito do furacão, girando e desferindo chutes para todos os lados. Dois de seus oponentes não se levantaram mais.

Os outros se recuperaram do ataque de fogo. Eram quatro, mas um não se levantou também. Foram na direção de Iori, desferindo chutes voadores. Ele acertou somente um deles, com seu Soco do Dragão, mandando-os para a inconsciência também. Tomou dois chutes, que não surtiram tanto efeito assim.

Agora Iori tinha sete oponentes. Eles cometeram o erro de cercá-lo novamente, para levarem um novo Chute Furacão. O número, sua única vantagem, agora fora reduzido para três.

Os três, desesperados, partiram pra cima de Iori, desferindo seus melhores golpes. Um o acertou com um chute duplo, o outro com um soco giratório e o último com uma forte cabeçada. Iori foi muito ferido pelos golpes, mas ainda pôde acertá-los com um chute giratório, pondo um fim no combate.

– Humf, é só isso que podem fazer?

Toda a multidão estava calada. Iori saiu da arena, gritando e levantando o braço. Kaneda batia palmas. Ele se sentou do lado do amigo.

 

– Acho que estou pronto para missão, né?

– É... Mas meu teste será mais duro! – disse Kaneda, se levantando.

Iori o viu chamando muitos oponentes. Depois, os juízes anotaram seus nomes no computador. Todos subiram na arena. Iori começou a contá-los.

– VEJAM SÓ, PARECE QUE ESTÁ VIRANDO MODA ISSO! ESSE OUTRO ESTÁ DESAFIANDO... QUINZE OPONENTES! – disse o narrador.

– Vamos acabar com esse japa!

– Esse cara não é de nada!

– Hahaha, que fracote!

 

Iori não entendia nada. Se ele quase perdeu, como poderia Kaneda vencer quinze oponentes? Todos se alinharam, quase não cabendo na arena. Kaneda se posicionou no meio. O juiz então autorizou. Todos partiram pra cima dele. Kaneda arremessou 5 bolas de fogo em cinco deles. Depois se virou e atingiu mais cinco, e por último os cinco que restavam, que já tinham alcançado ele.

– Shinkuu... Hadouken!

– Esse cara é um monstro!

Dos quinze oponentes, três pularam para fora da arena, e fugiram do desafio, muito assustados com esse poder. Dos doze, dez estavam em volta de Kaneda. Ao ver inúmeras pernas e braços, ele apenas se desviou, e acertou um soco num deles, que caiu e não se levantou mais.

E essa cena se repetiu inúmeras vezes. Quando sobravam ainda mais sete oponentes, Kaneda se distanciou deles e arremessou mais cinco Bolas de Fogo. Mais rápidos que eles foram seus oponentes, que arremessaram facas em Kaneda. O karateca ficou muito ferido, mas agora só restavam dois oponentes.

Um deles avançou loucamente para cima de Kaneda, e o grito do outro não o deteve. Mas antes que ele pudesse atingir o karateca, um jato de ar o atingiu, mandando-o para o mundo dos sonhos. Kaneda se virou para o último o oponente e começou a encará-lo. Agora ele estava sozinho, e contra um Street Fighter de Posto 5 muito poderoso.

Sem ter o que fazer, e vendo os vários ferimentos no corpo de Kaneda, ele avançou correndo, pegou uma faca no chão e jogou contra Kaneda. Kaneda se jogou para fora da arena, que era bem elevada e se abaixou. A faca passou por cima dele. Ele então pulou de volta. Seu oponente foi correndo e gritando em sua direção, desesperado. Um soco atingiu o seu queixo com muita força, e Kaneda subiu muito no ar.

– Shoryuken!

Todos ficaram calados. Depois de alguns segundos, começaram a gritar sem parar. Iori correu até Kaneda, muito ferido, e parabenizou-o. Kaneda usou o Chi que lhe restava e se curou um pouco. Seus poderes elementais já tinham evoluído muito.

 

– Ele é o homem mais forte do mundo!

– Com certeza vencerá até Ryu!

– Que nada, esse cara teve sorte!

– Ha, ele pagou os quinze para perderem!

– Se foi isso, por que então levou tantas facadas?

Eram esses os comentários que rodavam pelo salão que ficava no subsolo da boite. Daí pra pior. Algumas horas depois, Kaneda e Iori já estavam contando tudo para Key e Kimberly do lado de fora. Hwoarang e Ryuji, após ouvirem a história, entraram novamente, para dançarem mais um pouco. De repente, muitos homens cercaram todos. E pediram para se entregarem, a mando da Yakuza.

Kaneda apenas olhou para Iori, e eles rapidamente saltaram sobre suas motos, seguidos pelos saltos mais modestos de Key e Kimberly. Saíram cantando pneus, mas Iori fez mal a manobra e ficou um pouco pra trás. Um dos homens, que carregava uma grande caixa, tirou uma bazuca dela e armou-a rapidamente.

Iori ainda pegava velocidade depois da derrapagem mal feita quando foi pego. A explosão da bazuca, juntamente com o do tanque de gasolina da moto jogou tudo para o ar. Iori, mais resistente contra fogo, rastejava no chão. Ao ver isso – ou melhor, ouvir – Kaneda derrapou e voltou, para pegar o amigo.

No chão, Iori abraçava o corpo carbonizado e sem vida de Kimberly, após a explosão. Os homens agora se aproximavam. Kaneda pegou o amigo pela mão e o puxou para sua moto, apertando-o muito. Ele ainda levou o corpo de Kimberly. Os homens atiraram com seus fuzis, acertando o braço de Key.

Duas horas depois, já estavam no hospital mais próximo:

– Você vai ficar bem, amor! – disse Kaneda, dando um beijo de leve nos lábios de Key.

– Ai, dói muito... – ela ainda tinha lágrimas nos olhos.

– Estou aqui com você! Agora durma.

– Como dormirei?! A minha melhor amiga está morta! – e começou a chorar copiosamente de novo.

Kaneda a abraçou. Ele também sofria, por causa do amigo Iori. Até quando isso iria acontecer? O que mais perderiam por causa dessa richa com a Yakuza? Kaneda então se lembrou de Key, e sentiu uma dor muito grande, seguida de um medo maior ainda. Tinha que acabar logo com isso! Ele percebeu que ela já dormia, e a deitou suavemente na cama. De repente viu Iori.

– Como você está, Iori? – disse, tocando em seu ombro.

– Não me toque!

Kaneda se afastou, assustado. Iori estava, além de deprimido, furioso. Ele então olhou para Kaneda e sua face assustada. Percebeu que o amigo nada tinha culpa disso. Então o abraçou e começou a chorar.

– Que droga, Kaneda?

– Eu entendo, já senti isso.

– Eu vou acabar com essa Yakuza!

Nesse momento Kaneda se lembrou dele mesmo, há mais de dois anos atrás, quando seu filho morreu. Kaneda se perguntava como a Yakuza podia ser tão forte. Será que ela estava sozinha? Mas isso não importava, pois de uma forma ou de outra acabariam com ela!

 

No dia seguinte, Kaneda e Key acompanhavam Iori no velório de Kimberly. Hwoarang e Ryuji lutavam no bar enquanto isso – mesmo durante a tarde ainda haviam oponentes, apesar de estarem em menor número.

– Vai se meter com bandido, é isso que acontece!

O comentário do pai de Kimberly enfureceu ainda mais Iori. Sua mãe parecia muito entristecida, com seu choro calado. Mas seu pai parecia ser um monstro. E o último comentário foi muito forte. Poderiam comparar Iori a qualquer coisa, menos a um bandido.

– Está me chamando de Yakuza, seu velho? – disse, agarrando sua roupa. Kaneda e Key ficaram sem ação. – Do que vcoê sabe? Você não sabe nem um pouco da dor que eu passei! Não sabe o que é perder um pai quando se tem sete anos, ou perder o amor de sua vida, não é?

Iori saiu correndo. Kaneda e Key foram atrás dele, tentando fazer alguma coisa para acalmá-lo. Mas nada poderia acalmar a fúria de Iori Hakushu, elementalista do fogo!

 

Japão, Okinawa, 21 de Julho

 

Iori observava o Sol se pondo. A vida já não era mais a mesma para ele, desde a morte de Kimberly. Mas já estava um pouco recuperado. Iori sentiu o vento quente que chegava. Se animou um pouco. Logo desceu, e foi tomar um banho.

A noite já havia chegado. Hwoarang, Kim, Takashi, Ryuji e Key comiam. Kaneda estava no quarto de Iori, convencendo-o a comer. Todo dia era a mesma coisa. Depois de algum tempo, Kaneda saiu, e chamou Key para darem um volta. Também era assim todo dia.

Já na rua, os dois sentaram na praça, e após namorarem um pouco, começaram a se lembrar do incidente de quase três anos atrás, onde Key perdera o filho. Kaneda a abraçou, consolando-a, quando ouviu barulho de luta.

– Key, você ouviu isso?

– O quê, amor?

– Droga!

Kaneda a pegou pela mão e saiu correndo. Logo que virou a esquina viu cinco bandidos cercando um homem que vestia um gi. Kaneda olhou e então se lembrou da luta na televisão três anos atrás. Era Ryu, o Grande Mestre dos Street Fighters! Ele estava se saindo muito bem na luta, mas Kaneda percebeu que um dos homens estava sacando uma pistola.

Kaneda invocou o seu elemento e o atacou com uma rajada de ar. O infeliz caiu no chão sem nem saber o que o tinha atingido. Mas o outro havia sacado uma pistola, e o tiro atravessou o braço de Ryu! Ele se abaixou, segurando o membro ferido.

Kaneda partiu pra cima do bandido, acertando-lhe um chute. Os outros dois que ainda estavam de pé tentaram atacá-lo, mas foram atingidos antes. Um chute derrubou um deles, e uma espadada derrubou o outro. Kaneda se virou e viu os amigos Hwoarang e Ryuji.

– Sempre na hora certa! – disse Key.

– O que rolou aqui? – perguntou Hwoarang.

– Eu te apresento... Ryu! – disse Kaneda, apontando para o Grande Mestre.

– Aquele que venceu Sagat?! É um prazer conhecê-lo! – disse Ryuji.

– O prazer é todo meu. Graças a vocês, estou salvo.

– Não por completo... Mas nada que eu não possa resolver. – ao terminar de falar, Kaneda se concentrou e Ryu sentiu uma leve brisa. Quando olhou, seu braço estava curado.

– Muito obrigado! Você é muito habilidoso garoto. Como se chama?

– Meu nome é Kaneda... Kaneda Jones.

– Você é Kaneda, discípulo de Takashi-sama? – perguntou Ryu, interessado.

– Conhece meu mestre?

 

Alguns minutos depois, Takashi, Kaneda e Ryu conversavam sem parar, como se fossem velhos conhecidos. Para se distraírem, Key, Howarang e Kim jogavam um antigo jogo de cartas. Ryuji se aproximou, e também foi aceito. Após perder mais uma vez para Key, Hwoarang se levantou, chateado.

– Bah, sua viciada! Vou na padaria comprar uma Coca...

Antes que Hwoarang pudesse abrir a porta do dojô, pôde ver alguém batendo nela.

– Posso entrar?

– Chun Li! Que surpresa!

A jovem entrou no antigo dojô, sendo cumprimentada por todos. Iori, que estava em seu quarto, saiu dele e a cumprimentou também. Key finalmente conheceu sua "rival". Ela a analisou completamente, e enfim pôde perceber que os rapazes falavam a verdade. Se levantou.

– Vou preparar o jantar!

– Espere! Você é a Key? – perguntou a chinesinha.

– Hein? É, sou eu sim!

– E quem são os que não conheço?

– Esse é Takashi-sama, esse é Kim e esse é Ryu, o Grande Mestre dos Street Fighters. – respondeu rapidamente Kaneda. Key não gostava do jeito que Kaneda tratava a moça.

Chun Li olhou para os três cumprimentando-os, e sendo cumprimentada também. Mas seus olhos pararam no terceiro. E pararam de jeito que ela não conseguia retirar. Ela então percebeu que ele estava um pouco sem-graça, e que todos estavam olhando. Chun Li disfarçou e se sentou, com a pele um pouco avermelhada.

– E então gata, a que veio? – perguntou Hwoarang, ainda de pé na porta.

– Podemos conversar depois do jantar. Se é que estou convidada!

– Deixa de bobagens, Chun Li! – falou Kaneda. Com essa última frase Key finalmente foi para a cozinha, batendo os pés com força no chão a cada passo.

– Bom, acho que já vou indo. – disse Ryu.

– O que é isso? Fique, pupilo de Gouken. – repreendeu Takashi.

– Mas é quê...

– Fique e festeje conosco o seu aniversário.

– É aniversário dele? – perguntaram todos. – Parabéns!

Todos começaram a cumprimentar Ryu, que ficou meio sem-graça com a situação. Na hora do abraço de Chun Li, trocaram mais olhares. Ficaram alguns segundos se olhando novamente. Ryu não entendia o que a jovem tinha visto nele. Key, que acabara de chegar da cozinha, gostou de ver isso. Os outros não puderam conter algumas risadinhas. Enfim Iori acabou com tudo.

– E faz quantos anos, Ryu?

– Ahn? Ah, 26. – disse ele, se livrando rapidamente do abraço da linda chinesa.

– Sempre tem que ter um Hakushu pra estragar... – disse Hwoarang.

– Estragar o quê, hein? – disse Chun Li, já com um tom de brincadeira.

Key pôde perceber que ela tinha uma intimidade com todos, e se sentiu boba, infantil. Alguns minutos depois, no jantar, já estava conversando com Chun Li como se fossem velhas amigas. E a chinesinha não parava de olhar para Ryu.

 

No fim da noite Ryu finalmente estava se despedindo.

– Muito obrigado por tudo!

– Que nada, volte quantas vezes quiser! – respondeu Takashi.

– E Kaneda, espero vê-lo no próximo Torneio dos Guerreiros Mundiais. Não vejo a hora de poder lutar com você.

– Eu também! Não sei porque, mas tenho esse desejo também.

– Vejo que é um verdadeiro guerreiro, assim como eu. Mas tenho que ir mesmo, senão perco o barco. Espero revê-los em breve, guerreiros!

– Eu também...

A frase de Chun Li saiu instintivamente. Ela não pensou para falar isso, saiu do coração. Todos olharam para ela, inclusive Ryu, que olhou várias vezes para trás antes de sumir no horizonte. Depois entraram. E Chun Li finalmente revelou o motivo da visita, trazendo de volta o sorriso ausente há semanas na face de Iori.

 

– Então finalmente acabaremos com isso!

– Sim, amanhã vocês partem para Tóquio. Eu os encontrarei uma semana depois. Enquanto isso, deverão seguir esse passos. – disse Chun Li, entregando alguns papéis.

– Certo. – disse Kaneda, pegando-os.

– Agora preciso ir. Assim como o Ryu, tenho compromissos. Não posso perder o avião!

 

Japão, Tóquio, 22 de Julho

 

Mesmo sendo um lindo hotel, ainda estava muito estranho. Kaneda e Iori vasculhavam o quarto, procurando alguma coisa estranha. Eles podiam sentir que tinha alguém no lugar. Kaneda podia sentir isso!

Kaneda sentiu que tinha alguém na parede atrás dele, que dava no banheiro. Entrou lá, esperando encontrar um fraco capanga ou um assaltante. Esperou errado. Kaneda só pôde ver os dois fuzis, que atiraram nele sem parar.

Iori chegou correndo, mas já viu o corpo do amigo no chão. Também levou vários tiros. Os dois ficaram no chão, perdendo sangue. Não conseguiam falar nada com clareza. As poças de sangue foram aumentando.

De repente tudo ficou escuro.