No Japão antigo onde tudo teve um lugar e a sociedade teve regras rígidas de comportamento para todos seus cidadãos, os ninjas parecem uma anomalia, uma reflexão de uma cultura com uma personalidade fragmentada. Os ninjas eram o lado escuro do Japão, uma faceta não prestigiada que era usada e temida. Historiadores que tentam desvendar os mistérios dos ninjas (e poucos o fizeram) enfrentam um problema quase insuperável: não há nenhum registro escrito que fale diretamente deste grupo, ou escrito por eles. Considerando que eles eram uma série de organizações secretas, os ninjas não deixaram nenhuma informação sobre eles. Então, informações sobre eles vem da sociedade japonesa popular, que possuem uma visão preconceituosa.
Considerando que os ninjas originais normalmente executavam tarefas que as classes de guerreiro e de samurai não faziam, os mantinham como membros da classe hinin (ou “não-pessoas”). Entre estes estavam artistas, mendigos, criminosos exilados e os “etas”, desterrados hereditários que quase foram cortados completamente de sociedade japonesa. Matar um “eta” ou qualquer hinin não era considerado um crime. Os ninjas tinham grande sentimento de revolta pela maioria ser excluída socialmente, o que os tornou furtivos e com movimentos difíceis de localizar. Para sua liderança, porém, é provável que os ninjas tivessem escolhido alguns dos muitos guerreiros e líderes de clã que perderam em um das lutas de poder que saquearam o Japão. Este hinin novo, muitos deles peritos nas artes de guerra, desenvolveram muitas técnicas de guerrilha e subterfúgio, provavelmente os primeiros da historia.
Uma segunda teoria é que os ninjas devem sua origem a cultos chineses que acharam o caminho para o Japão. Estes monges chineses possuiam um repertório vasto de conhecimento de artes marciais que lhes concederam alto lucro como mestres espiões e assassinos causando terror a todos. Talvez a verdade provavelmente seja uma combinação dos dois.
Devido à variedade de habilidades exibidas pelos ninjas, é provável que os membros tiveram uma grande gama de estudos, técnicas de guerreiros, de artesãos e de cientistas. Os ninjas estão entre os primeiros a usar explosivos e armas de pólvora negra; as suas habilidades de adaptação foram uma das razões para o seu sucesso. Não era provável que os nobres exilados tivessem tido esta flexibilidade. Por outro lado, os etas deviam pouca lealdade à sociedade japonesa – afinal de contas, seu trabalho era fazer as coisas que a maioria dos japoneses não faziam. A combinação dos dois, e a adição de técnicas de artes marciais sofisticadas de guerreiros-monges exilados, poderia ter criado os aterrorizantes guerreiros-das-sombras.
Durante a Era das Províncias (século XVI), ninjas eram extensivamente usados em espionagem e missões de assassinato. Eles eram os mestres do disfarce; embora não pertencessem a qualquer classe social respeitável, os seus agentes treinados podiam imitar as classes mais altas com facilidade: seja padre, comerciante, nobre ou cidadão. A sua dedicação e paciência eram lendárias. Um assassino ninja esperaria por horas ou até mesmo dias escondido até seu alvo ficar dentro do seu alcance. Porém eles não toleravam fracassos; um ninja suicidava-se se fosse derrotado. Todo tipo de venenos e mecanismos eram utilizados, tudo calculado para meter medo nos inimigos e até mesmo nos clientes.
Não é estranho que a cultura popular cultive os ninjas. Aos olhos de muitos japoneses, os ninjas não eram humanos, mas demônios. Rumores de suas habilidades mágicas são abundantes. Já foi dito que eles podiam caminhar sobre a água ou subir por paredes, ou até vagar por multidões sem ser notado. No século XX, filmes, livros cômicos e a televisão Japonesa mostram que o ninja é um forte mito. Quando os ninjas se tornaram conhecidos na América, sua imagem foi exagerada, típico das produções de Hollywood.
Os ninjas criaram muitas armas e táticas que chegaram a superar guerreiros blindados, principalmente pela surpresa. Os ninjas eram normalmente mais numerosos e menos bem-armados. Em um confronto corpo-a-corpo, um samurai montado e vestido com armadura completa acabaria com um único ninja. Porém, o mesmo samurai poderia ser pego por um laço, poderia ser arrancado do seu cavalo e poderia ter o rosto perfurado com uma shuriken envenenada arremessada a metros de distancia; esse é o jeito ninja de lutar.
Para a maioria dos leitores Ocidentais (incluindo a maioria dos jogadores) jogar com o samurai, como um guerreiros valente que desafia os outros em duelos individuais, é o mais romântico e heróico dos dois. Afinal de contas, os ninjas estavam só interessados em resultados, enquanto os samurais possuíam dever e honra a ser mantida. Ambos tem o seu lugar.
Leia também A Quintessencia do Ninjitsu.
Este artigo é uma tradução livre feita por Fernando Jr de um texto presente no excelente Gurps Martial Arts, da Steve Jackson Games.