Conspiração Total

Capítulo II: Passado e Emoções

 

EUA, Aeroporto de Seattle, 29 de Janeiro de 1987

 

Kaneda, Hwoarang, Chong-Li e Key esperavam sentados a hora de entrarem no avião. De fato, ainda faltavam uns 50 minutos, e eles aguardavam. Enquanto Kaneda e Key trocavam afagos Hwoarang não escondia sua falta de afeição para com Chong-Li, que retribuia os olhares raivosos. De fato, Hwoarang era muito divertido, mas sempre teve uma certa dificuldade em aceitar compania. Sua amizade repentina com Kaneda foi uma exceção.

'Até quando terei que aguentá-lo?', pensava Hwoarang ao olhar para Chong-Li. Este então desistiu de encarar o coreano e virou-se para ver as bonitas mulheres que passavam. Era um dia de temperatura razoável, mesmo em pleno inverno. Hwoarang, sem nada para fazer, levantou-se e pegou um papel derrubado no chão por um homem muito alto e forte que havia passado há alguns minutos.

– Eu sabia, um lutador!

Chong-Li assustou-se com a frase e ficou olhando, mas não quis perder seu tempo tentando conversar com Hwoarang. Kaneda também virou-se, e levantou para olhar o papel:

– O que houve, Hwoarang?

– Um cara muito bombado passou aí e derrubou isso.

– Do que se trata?

– Humf, um torneio. Um grande torneio em Okinawa!

– Individual?

– Isso ae!

– Estou começando a gostar...

– É... Eu também... Quando encontrar meu pai lá, vou pedir pra ele me dar um treino extra.

– E quando é esse torneio?

– Deixa eu ver... Hum... Achei! Dia 1º de Março!

– Que bom, ainda temos algum tempo!

– Muito interessante! Acho que também lutarei nesse torneio!

 

Kaneda e Hwoarang se viraram rapidamente. Se assustaram com o rapaz que havia acabado de chegar. Ele era alto, forte, e seus cabelos ruivos se pareciam muito com os de Hwoarang. Seu olhar expressava uma grande altivez, apesar de seu rosto mostrar grande camaradagem.

– Quem é você? – Quis saber Hwoarang, mais precipitado que os outros.

– Deixe eu me apresentar; meu nome é Iori Hakushu. Eu soube que você ganhou o torneio, Hwoarang.

– O quê?! Como me conhece? É um Street Fighter?

– Não, ainda não... Mas na verdade estou procurando você, Kaneda!

– E-eu?

Kaneda olhava para Iori. Ele, sem dúvida, parecia apenas um garoto forte que se achava mais do que era capaz. Mas Kaneda sentiu algo dentro dele. Seu corpo emanava um Chi, um Chi diferente do normal. Assim como o Chi de Kaneda causava sensação de calma, paz e leveza nos outros, o de Iori trazia fúria, irritação e um grande poder.

– Isso mesmo!

– Como me conhece?

– O nome Hakushu não lhe faz lembrar algo?

– ...

– É, parece que se esqueceu do seu passado, Kaneda. Meu pai, assim como o seu, morreu investigando a Yakuza!

– O quê?!

 

Kaneda se assustou muito com isso! Agora olhava os olhos de Iori Hakushu, procurando algum indício de sua mentira. Mas ao que parecia, ele não mentia. Ao tocar no assunto, o sorriso de Iori se desfez, e Kaneda acabou ficando em dúvida. Ele olhou para Key, e ela também estava assustada. Chong-Li então se pronunciou:

– Beleza, já que já conhecem, por que não chama esse cara para completar o time?

– Não se intrometa! – protestou Hwoarang, vendo a seriedade do assunto.

– Por que me procura?

– Não compreende? Eu, assim como você, estou querendo vingar meu pai! E eu te procuro para que o façamos juntos, droga!

– Como sabe de meu objetivo?

– Takashi-sama me contou.

– C-conhece Sensei Takashi?

– Sim.

– Isso mesmo! Vou falar com ele e assim terei certeza se o que diz é verdade!

– Não acredita em mim?! Fale com ele, se quiser. – disse Iori, com um certo desapontamento.

 

Kaneda se dirigiu até um telefone próximo. Iori estava um pouco constragido com os olhares de Hwoarang, Chong-Li e Key, que pareciam fazer uma análise geral nele. Depois de uns cinco minutos, Kaneda enfim voltou, com algumas moedas na mão – havia trocado o dinheiro por moedas para poder telefonar.

– Me desculpe, Sr. Hakushu!

– Tudo bem, Kaneda. – disse Iori, com um sorriso.

– Estamos voltando para Okinawa. Se quiser, venha conosco!

– Tudo bem! Ah, se o convite de... Como é mesmo seu nome?

– Chong-Li.

– Isso, se o convite de Chong-Li estiver de pé, eu aceito entrar para o time de vocês.

– Tudo bem! – concordou Kaneda.

Iori já tinha uma passagem. Ele sabia que todos iriam para Okinawa. Os cinco entraram no avião. Lá dentro, Iori se distanciou, pela poltrona que ficava longe. A viagem inteira Hwoarang mostrou que não concordava com a entrada dele no time. Mas Kaneda e Chong-Li (principalmente Chong-Li) o fizeram desistir. Após um dia inteiro de viagem, finalmente puderam ver a ilha de Okinawa. Mais um dia amanhecia. Todos – com exceção de Kaneda – estavam ansiosos para conhecer sua nova moradia.

 

Japão, Okinawa, 30 de Janeiro

 

Okinawa ainda era pouco urbanizada. Mas ainda assim havia sinais do progresso. Após alguma caminhada, finalmente pôde ser visto o dojô de Takashi. Um lugar muito bonito, lembrando muito construções orientais da Era Meiji. Do lado da casa havia um jardim com muitas árvores. Só pelas marcas nas árvores já dava para perceber que os treinamentos ocorriam ali. Kaneda chamou todos para entrarem.

– Fiquem aqui!

Ele entrou em outro aposento, onde Takashi provavelmente estava. Todos ficaram em silêncio durante os longos minutos que Kaneda ficou lá dentro. É claro que as trocas de olhares aconteceram. Então, finalmente, Kaneda voltou, e com Takashi. Era um velho homem, já com cabelos grisalhos. Takashi chegou sorrindo:

– É um prazer conhecê-los, jovem guerreiros! Eu recebi uma carta de Kim, e pelo que Kaneda disse, você deve ser Hwoarang. – disse ele, apontando para o próprio.

– Isso mesmo, cara!

– E você, quem é? Chong-Li? – disse, apontando para Chong-Li.

– Isso mesmo. Eu não tenho um mestre, pois aprendi com o Tao Of Jeet Kune Do.

– Ah, um adepto dessa nova arte! Muito interessante...

– É... Eu pensei quê... Talvez...

– Hum... Entendo... Posso te ensinar algumas coisas sim! – então, virando-se para Key – E quem é você, garota?

– Ah! Meu nome é Key! – disse ela, um pouco constrangida.

– Ah sim, a namoradinha de Kaneda! O amor de vocês é forte mesmo, hein! E então, Iori, tudo bem?

– Sim senhor. Eu queria ficar, mas vou voltar para Tóquio. Haverá um torneio daqui a um mês e quero me preparar com Yamazaki-sama.

– Está certo... Mande um abraço para seu Sensei!

– Sim senhor!

Iori cumprimentou todos e partiu. Antes de sair de Okinawa ele ainda fez a sua inscrição para o torneio e a dos amigos. Então pegou um vôo para Tóquio. Enquanto isso, no dojô, Kim chegou e reencontrou o filho, parabenizando-o por ter vencido o torneio. Todos descansaram nesse dia, pois um árduo treinamento começaria.

A noite já havia chegado. Key e Kaneda namoravam no quarto dela. Os beijos estavam muito intensos. Kaneda, empolgado, começou a tocar o corpo da linda garota. Ele foi avançando, até que começou a tocar em um de seus seios. Assustada novamente, ela se afastou dele com muita rapidez.

– O que foi agora, Key?!

– Me desculpa, Kaneda...

– Que droga! – Kaneda se levantou e colocou a mão na maçaneta da porta, para abri-la e sair.

– Espere!

– O que foi agora?

– Me desculpe Kaneda... Eu sei que não vai acreditar, mas esperei tanto por isso quanto você...

– Não parece! – disse Kaneda, furioso.

– Tente me entender... Eu nunca fiz isso antes!

– Eu não consigo te entender não, porque comigo é a mesma coisa e não temo, porque confio em você!

Dessa vez Kaneda se levantou e saiu de vez. Assustada com suas palavras, Key nada pôde fazer. Após alguns minutos, Kaneda se virava na sua cama na esperança do sono chegar. De repente, a porta se abriu.

– Posso entrar?

– Key?!

– É...

– ...

– Kaneda, eu queria que me desculpasse.

– Tudo bem, a culpa foi minha. Acho que estou sendo muito precipitado.

– É, mas o que você disse é verdade... Eu devo confiar em você!

Kaneda ficou olhando para ela. Key se aproximou e se deitou ao lado dele. Kaneda então a abraçou e a beijou. 'Tem certeza disso?', ainda perguntou. 'Claro!', foi a resposta. O coração de Kaneda batia muito rápido. O de Key parecia acompanhá-lo.

Quando perceberam, ambos já estavam nus. Cada beijo, cada toque parecia ser algo muito grande. O medo de Key já havia passado há muito tempo. Os jovens descobriam algo novo, uma nova forma de se amar.

 

Japão, Okinawa, 1º de Março

 

Kaneda e Hwoarang observavam atentos a luta de Chong-Li. Seu oponente, Mike Stern, era um exímio boxeador. Mas Chong-Li o sobrepujou com seus rápidos chutes e rasteiras. Mike caiu em quatro ou cinco golpes. Kaneda e Hwoarang apenas se olharam, pela grande habilidade de seu companheiro de time. De repente, foram surpreendidos:

– E aí, como estão?

– Iori! – disse Kaneda, ainda assustado.

– Fala, rapaz! E então Hwoarang, tudo bem?

– É, vai indo... – Hwoarang não escondeu a falta de afeição por Iori.

– E então, treinaram muito?

– É, acredito que o suficiente.

– Espero lutar com você na final, Kaneda!

– Ih, já ouvi essa história... – murmurou Hwoarang.

 

Já era fim de tarde. Kaneda, Iori, Hwoarang e Chong-Li lutaram muito bem, e agora eram os quatro semi-finalistas. O público gritava alucinado. A primeira luta seria entre Kaneda e Chong-Li. Ambos subiram na arena, e se preparam. Logo, Kaneda se pôs na sua típica pose de luta, com os pés enrijecidos no chão. Chong-Li, pelo contrário, dava pequenos saltos, se movimentanto muito.

– LUTEM! – gritou o juiz.

Chong-Li avançou com um forte chute voador, defendido por Kaneda. Para a sorte de Kaneda, seus poderes elementais o fortaleciam contra ataques aéreos, e com isso sofreu poucos danos. Chong-Li tentou algo diferente: uma rasteira.

No entanto, Kaneda foi mais rápido, e o acertou com seu Bola de Fogo Múltipla. Além de tomar muitos danos, Chong-Li caiu feio no chão. Ele demorou um pouco para se levantar, e nessa hora Kaneda apenas se afastou um pouco.

Chong-Li, furioso, tentou acabar com a luta usando um poderoso Ataque do Trovão – ele subia aos ares numa poderosa cabeçada. Mas Kaneda, mais rápido, acertou um soco em sua face, nocauteando. Kaneda agora já era um dos finalistas e iria enfrentar Iori ou Hwoarang.

– Eu venci!

– E O VENCEDOR É... KANEDA!

Kaneda saiu da arena, e fez um sinal de positivo para Hwoarang, pela vitória. Ele então se sentou, e logo recebeu o abraço de Key, que saiu correndo da platéia para abraçá-lo.

 

Hwoarang e Iori já estavam na arena. Kaneda colocou Key no seu colo e começou a observar atentamente a luta. 'Veremos se esse Hakushu é bom mesmo!'.

Hwoarang olhou para Iori, buscando intimidá-lo. Este fez o mesmo, com um sorriso confiante. Ambos se colocaram em posição de luta. Hwoarang arrumou seu gi, e fez um sinal de positivo para o juiz.

– COMECEM!

Hwoarang avançou com um lento chute duplo. Mas Iori, mais rápido, acertou-o com um surpreendente soco em chamas! Hwoarang sofreu alguns danos, mas não o suficiente para debilitá-lo. Seu chute acertou Iori, na perna e na face. Hwoarang manteve o pé do chute no alto, na famosa postura do Flamingo.

Iori então tentou avançar com um chute, mas Hwoarang, mais rápido, acertou com um forte Chute Tesoura. Iori caiu no chão. Hwoarang olhou para a torcida e gritou bem alto, levantando o punho.

Ele então decidiu terminar tudo com um forte chute rodado. Mas Iori, mais rápido, fez algo que ninguém imaginava que ele soubesse fazer.

– Shoryuken!

– ...

– Surpreso, Hwoarang? Ainda posso fazer muito mais!

– Ah, agora você vai ver!

Iori avançou, tentando acertá-lo com uma rasteira. Mas o chute rodado de Hwoarang foi mais rápido e dessa vez acertou, derrubando Iori novamente. Dessa vez Hwoarang apenas preparou a postura do Flamingo, certo do que iria fazer. Iori se levantou e já desferiu um novo Soco do Dragão. Mas o golpe de Hwoarang já estava preparado, e isso garantiu que seu Chute Tesoura acertasse Iori antes!

Os dois chutes acertaram a face de Iori. Os dois golpes pegaram em cheio, mandando-o para a inconsciência. Hwoarang olhou para Kaneda com um sorriso. 'Humf, de novo contra Kaneda!', pensou.

– E O VENCEDOR É HWOARANG!

O público não parava de gritar. Hwoarang foi até Kaneda, que olhava para o nada, apenas refletindo. O coreano se aproximou, e com um sorriso, fez com que Key saísse. Ela apenas deu mais um beijo em Kaneda e desejou boa sorte.

– Então nós dois na arena novamente, Kaneda!

– É... Grande vitória, hein!

– Hehe, obrigado... Está 1 a 1, hein!

– Ah, é mesmo!

– DAQUI A MEIA HORA, A GRANDE FINAL! KANEDA VERSUS HWOARANG!

A meia hora passou voando. Iori e Chong-Li ainda dormiam no quarto para feridos. Era uma pena, mas não assistiriam a grande final. Kaneda e Hwoarang subiram na arena. Se encaram um pouco. Antes do juiz autorizar, ainda trocaram palavras:

– Boa sorte, Kaneda!

– Pra você também!

– LUTEM!