Conspiração Total

Capítulo XIII: A Energia Maligna

 

Tailândia, Hospital de Bangkok, 1º de Abril de 1993

 

Uma sensação muito ruim. Kaneda parecia ter sido atropelado por um cometa. Tudo doía. No entanto, mesmo ouvindo as vozes familiares de Chun Li, Sakura e Kim ao seu redor, ele não conseguia parar de pensar em Hwoarang. O amigo agora estava morto. Kaneda mal se lembrava de como acabou a luta na praia. Finalmente abriu os olhos.

– Ele acordou! – disse Sakura.

– Oi Kaneda, que bom que voltou! – disse Chun Li.

– Kaneda, você foi um herói! O maior de todos! – disse Sakura, abraçando-o.

– ... – Kaneda viu o olhar triste de Kim, num canto do quarto.

– É, Kaneda! Vocês quatro acabaram com a tirania de Mriganka! – disse Chun Li.

– Me perdoe, Kim! Eu falhei, me perdoe, por favor! – disse Kaneda, derramando muitas lágrimas.

– O quê...? Não foi sua culpa... – disse Kim, chorando também.

– Eu não cumpri minha promessa! Por favor, me deixem sozinho! – disse ele.

– Mas, Kaneda... – disse Sakura.

– Se você quiser ficar comigo, pode ficar... – ele começou a limpar as lágrimas e se acalmou um pouco.

Chun Li e Kim saíram. Chun Li o abraçou. Logo depois ela foi para o quarto de Ryuji e Shiryu, pois tinham acabado de acordar também. No quarto de Kaneda, Iori ainda dormia profundamente. E Sakura o abraçava.

– Você é forte, Kaneda, muito forte... E você vai se recuperar e vai pegar M. Bison! – ela disse. Não eram as coisas mais adequadas para o momento, mas Sakura sempre foi impulsiva e inconseqüente.

– O quê?! Ele ainda está vivo?! – Kaneda se assustou.

– Droga, me desculpe... Não era pra falar isso agora...

– Mas tinhamos certeza de que ele estaria lá! Por acaso também é imune a explosões nucleares?

– Não... De algum modo ele ficou sabendo, e acabou fugindo. – Sakura disse friamente.

'Droga, Hwoarang o avisou!', pensou Kaneda. Mas ele já estava bem ciente do seu estado, e só mesmo dormindo poderia se recuperar. Kaneda segurou firmemente a mão de Sakura e deu um beijo nela. 'Obrigado por confiar que eu voltaria', ele disse. Depois fechou os olhos e tentou dormir.

 

– Bom, eu já vou indo, Detetive Li.

– Tudo bem, Agente Cammy. Muito obrigado por salvar meus amigos... Quer dizer, por salvar meus agentes! – disse Chun Li.

– Eu só cumpri meu dever... Fazia uma missão numa cidade próxima, e com a explosão da ilha, fui até a praia para averiguar. Daí vi todos eles caídos.

– Muito obrigado mesmo! – disse Chun Li, com um sorriso. – E acho que nos veremos no Torneio, não é?

Cammy fez um sinal de positivo e se foi. 'Ela nem imagina que eu sabia da missão, e que por isso estava lá para salvá-los. Bom, como nem imagina isso, também não desconfiará... daquilo!', pensou Cammy enquanto se afastava.

 

Japão, Okinawa, 7 de Abril

 

Amanheceu um dia nublado e frio. Kaneda olhava para a espada que levou da casa da mãe pouco antes de partir de Tóquio pela primeira vez. Parecia olhar pra ela como se fosse a última vez. E talvez fosse mesmo. Ele pegou a espada e saiu do quarto. Antes, porém, observou Sakura dormindo e deu um beijo no seu rosto.

Lá fora, Kaneda viu Ryuji e Shiryu trocando alguns golpes. Iori arrumava suas malas. Ele ia partir para Tóquio juntamente com Yamazaki, que retomaria o dojô. Iori teria os últimos dias de treinamento antes do Torneio dos Guerreiros Mundiais.

Ele já tinha se despedido de todos no alvorecer, menos de Sakura, que só dormia. Até se assustou quando Kaneda o deteve:

– Espere.

– O que foi, cara? – perguntou Iori.

– Tome isso. – disse Kaneda, entregando a espada que ficou gerações na sua família para Iori.

– Que brincadeira é essa?

– É sério. Meu pai está vingado. Não preciso mais dela.

– ...

– Pegue, Iori. É um presente meu!

– M... Mas... Cara, ela é da sua família... Você gosta tanto dela...

– Será muito mais útil em suas mãos! – disse Kaneda, com um sorriso.

– Nem sei como agradecer! Ela é tão... tão fina! – Iori apreciava a beleza da espada.

Kaneda abraçou o amigo. Se despediram, e Kaneda disse que esperava vê-lo no torneio. Antes de Iori sair, no entanto, ele viu Shiryu pulando o muro sorrateiramente. Ryuji tinha ido ao banheiro, e ninguém mais tinha visto isso. 'Tem algo de errado nesse garoto... Agora me lembro! Ele nem nos ajudou nas lutas na missão! Tem algo de errado mesmo.', pensou Iori.

– Sensei.

– O que houve? – perguntou Yamazaki.

– Vá para o aeroporto que eu te encontro lá. Tenho que resolver umas coisinhas por aqui. Aliás, eu te vejo amanhã em Tóquio!

– Tudo bem, discípulo. Mas o que houve de tão importante? – insistiu o mestre.

– Depois eu te conto.

Yamazaki sabia que Iori não contaria. Mas ele se foi mesmo assim. Iori saltou o muro também, com muita destreza. Viu Shiryu conversando num celular a alguns metros. Iori foi se aproximando sem fazer barulho. Shiryu parecia muito concentrado na conversa.

– Sim... Vai ser mais fácil... É, primeiro acabo com Kaneda, pois ele é perigoso... Eu sei, o Ryuji deve pagar... Iori?... 'Tá indo pra Tóquio; eu pego ele lá... Eu nunca trairia a Yakuza! Podem ficar tranqüilos, o Ryuji não vai me corromper... Sim... Nos falamos mais tarde!

Ao ver que a conversa tinha terminado, Iori saltou o mais rápido e o mais longe que pôde, caindo dentro do dojô. Kaneda se assustou com o salto repentino, mas Iori disse que queria treinar mais um pouco com ele. Disse também que ficaria. Shiryu ouviu o salto e a queda, mas quando se virou não viu nada.

– Bah! Esses animais desse mato me assustam! Não vejo a hora de voltar para Tóquio!

Shiryu entrou e viu os dois treinando. Logo depois pararam. Kaneda foi meditar um pouco com Takashi. Iori virou para sua nova espada:

– Parece que temos algo pra fazer, amiguinha...

 

No fim da tarde, Kaneda, Sakura, Ryuji, Iori e Shiryu observavam o pôr-do-sol enquanto conversavam agradávelmente. Takashi apenas observava. De repente, Ryuji se levantou:

– Kaneda, não é nada pessoal, mas eu te desafio! – ele disse.

– Hein? Mas por que isso agora?

– Eu quero me tornar um Guerreiro Mundial e lutar no torneio! Também quero ter a chance de derrotar M. Bison! – disse ele. Não parecia ser Ryuji, havia um tom de ódio muito estranho em suas palavras.

– Eu te entendo... Mas garando que não facilitarei! Sakura!

– Fale, Kaneda.

– Telefone para os juízes Hoi'den e Kusanagi! Fale para virem até daqui a uma hora, que serão muito bem pagos!

– 'Tá!

Sakura saiu correndo, com seu jeito de menina. Ela podia até hesitar em obedecer aos comandos de alguém (mesmo se fosse Kaneda), mas a garota sempre gostou de emoções. E uma luta entre Kaneda e Ryuji era tudo o que ela queria ver!

'Muito bom... Agora é só jogar um verde...', pensou Iori. Ele sentiu que essa era a chance de fazer com que Shiryu o desafiasse. E logo seria desmascarado! Iori sempre foi muito volátil, mas dessa vez preferiu comer o frio prato da "vingança". Ele nunca confiara em Shiryu, e enfim percebeu que tinha razão.

– Bem que o Ryuji podia ter me desafiado... Eu estou muito afim de um exercício...

– Não seja por isso! Eu te desafio, Iori! – disse Shiryu, percebendo a chance de eliminar Iori, podendo até mesmo dizer que foi um acidente. Iori já esperava que ele fosse fazer isso.

– Hein? Eu não devia aceitar teu desafio... É um novato nisso, sabia? – Iori falou com um tom de ironia.

– Eu te desafio! E se fugir será tido como covarde!

– Eu ainda peço que reconsidere... Pois se eu te vencer, vou te matar!

Kaneda e Ryuji se viraram, assustados. Mas concluíram que Iori não chegaria a esse ponto.

– Mas isso não vai acontecer! – disse Shiryu.

Algumas horas depois, os juízes já tinham chegado. Eles ligaram e validaram os dois desafios. Um terceiro juiz veio com eles, para gravar as lutas. Não eram lutas sem importancia, e sim lutas onde dois Guerreiros Mundiais mostravam sua força!

Kaneda foi o primeiro. Se posicionou dentro do quadrado que representava a arena. Ryuji fez o mesmo. Takashi sorriu para o aluno. O juiz enfim autorizou.

– Comecem!

Ryuji avançou com uma voadora, defendida por Kaneda. Ryuji, já esperando um Bola de Fogo Múltipla, deu um salto, com mais um chute. Mas Kaneda sabia que jamais devia ser previsível. Instantaneamente começou a voar, e o acertou com um poderoso Soco do Dragão. O golpe que representa o seu estilo, o Karatê.

– O Dragão Ascendente adora um oponente que vem por cima! – disse Kaneda, enquanto Ryuji tentava se recobrar do ataque.

Kaneda desceu do vôo. Ryuji se levantou. Parecia furioso. Sacou sua espada. Enquanto ele fazia isso, um jato de ar o atingiu na face. Mais um dos golpes surpresos de Kaneda!

– Ha, agora vai usar uma arma? Uma arma contra um oponente desarmado?

– Cale a boca! – gritou Ryuji, correndo pra cima de Kaneda.

– Ryuji, o que há?

Kaneda tentou se defender, desviando o ataque da espada. No entanto, ele fez um corte no seu braco. Mas Ryuji percebeu que acabara de cometer um erro. Kaneda já preparava um ataque, e por isso não pôde se defender com tanta precisão. As partículas congelaram Ryuji. Kaneda apenas olhou para o seu corpo congelado.

– Agora é o momento. Shinkuu... Hadouken!

As seis bolas de fogo de Kaneda atingiram Ryuji com muita força. Ele foi jogado no chão quase que instantaneamente. Foi um grande impacto, jogando gelo para todos os lados. Ryuji não se levantou mais.

– O vencedor é Kaneda.

– Parabéns! – disse Sakura, beijando-o.

– Obrigado... Mas bem que você podia lutar às vezes também, não é? – disse ele, com um sorriso.

– É verdade... Mas vou esperar o Torneio passar. Mas chega de papo que o Iori já 'tá na arena!

– Ok... (Nossa, como essa garota só pensa em luta!) – pensou Kaneda.

 

Iori entrou na arena. Shiryu olhou pra ele com muita raiva, e sacou sua espada. 'Oh, com armas?', disse Iori, sacando a arma recém adquirida. Ao contrário do olhar de Shiryu, Iori o olhou com desprezo.

– Podem lutar!

Shiryu avançou com um rápido ataque de espada. Iori colocou a sua na frente, e o golpe apenas tocou o seu braço. Não foi ferido. Shiryu apenas teve uma fração de segundos para ver o sorriso malicioso de Iori e sua perna se levantando. Shiryu preparou a defesa. Mas ele viu que o golpe não seria tão forte assim. Uma pena que advinhou errado!

– Tatsumaki... Senpuukyaku! – gritou Iori enquanto chutava Shiryu inúmeras vezes.

Shiryu ficou atordoado pelos múltiplos chutes. Ele tentou inutilmente se levantar. Quando enfim conseguiu ficar de joelhos, ele ergueu a cabeça e encarou Iori. A última coisa que viu foi a bela espada samurai cortando. Cortou primeiramente o ar, e depois a pele de seu pescoço. Ela atravessou-o, jogando a cabeça de Shiryu longe.

Sakura olhava horrorizada. Quando ela foi buscar o abraço de Kaneda, percebeu que ele não estava mais ali. Kaneda saltou sobre Iori, derrubando-o no chão.

– É assim que usa a espada da minha família?! Pra matar um inocente?

– Olha, Kaneda, eu até entendo que não goste do que viu, mas eu vou te dizer duas coisas: a espada foi inventada para matar, e eu sou como um samurai! Eu avisei que ele morreria, e se mesmo assim quis lutar, é responsabilidade só dele. E ele...

– Idiota! – Kaneda socou Iori.

– ... Por que fez isso? Você é um artista marcial, mas eu sou um guerreiro, um bushi!

– Mas precisava matar nosso... amigo?

– Amigo?! Ha, ha, ha, boa piada! Kaneda, olha isso! – disse Iori, pegando o celular no bolso de Shiryu.

– Isso é o celular dele... Mas o que tem demais?

– Olha isso, droga! – disse Iori.

Kaneda olhou e viu que era a última ligação de que Shiryu tinha recebido. Kaneda ainda olhava para Iori sem entender, mas este apertou o botão para ligar. Kaneda pegou o telefone e ficou sem falar nada.

– Alô!... Alô!... Shiryu, o que houve?... Shiryu, por que não fala nada?... Shiryu, ainda está vivo? A missão falhou?...

Kaneda jogou o telefone contra a parede, e este se quebrou na hora. Ele continuou olhando pra Iori. 'Me desculpe', disse ele. Iori apenas olhou para o amigo, sorrindo. Quando Kaneda menos esperava, o soco atingiu sua face. 'Isso é pelo soco que me deu!', disse Iori, se levantando.

Kaneda então viu Sakura olhando pro corpo de Shiryu, perplexa. 'E-eu... Eu nunca tinha visto uma morte antes', disse ela. A garota saltou nos braços de Kaneda e o abraçou com força, derramando algumas lágrimas. 'Tudo bem, eu estou aqui.', disse ele. 'Que vergonha! Eu, uma guerreira, com medo!', disse ela, chorando mais ainda.

'Até os guerreiros temem, Sakura. Todos nós temos medos interiores. Mas sempre que tiver medo, se lembre que estarei aqui, do seu lado!', finalizou Kaneda, pegando-a no colo. Eles convidaram os juízes para entrar – pois já era tarde – e faziam o mesmo, quando Kaneda falou com Iori:

– É uma pena pelo Ryuji... Ele estava tão feliz com esse novo amigo... – disse Kaneda.

– É verdade... Mas ele vai entender... Assim espero!

 

Ainda amanhecia quando Ryuji acordou. Ele viu todos dormindo, mas não encontrou Shiryu. Ryuji saiu pelo dojô procurando o amigo, e enfim o encontrou. Seu corpo estava junto com a cabeça num saco. O sangue já tinha sido retirado do chão da arena. Mas Ryuji concluiu o óbvio: Iori matou Shiryu!

– Iori, você vai pagar! – gritou Ryuji, puxando-o da cama.

Depois de muito barulho, toda a casa tinha acordado. Até mesmo os juízes, que passaram a noite por aqui. Sakura ainda bocejava, mas mesmo assim ficou com os outros em volta da arena, onde Ryuji olhava pra Iori com muita raiva.

– Ryuji, ele era um Yakuza, tente entender... – disse Iori.

– É verdade, Ryuji. – completou Kaneda. – Descobrimos isso ontem.

– Não interessa! Eu te desafio, Iori! – gritou Ryuji. – E se perder, também vai morrer!

– Ah, é assim? Você é quem sabe... Eu tentei ajudar, mas se não quer entender...

Quinze minutos depois já estava tudo pronto para o desafio. Ryuji parecia cada vez mais furioso. Iori sacou a sua espada. Mas Ryuji nada fez. Iori não entendeu, mas como o oponente estaria desarmado, jogou a sua espada longe também.

– Podem começar!

Iori começou a fitar o oponente. Ryuji foi em sua direção com um golpe muito forte, que para a surpresa de todos era um... Soco do Dragão! Kaneda olhou para Takashi sem entender: como um Ninja dominava esse golpe? Iori nem teve tempo de questionar; o golpe acertou-o e jogou-o longe.

Iori tentou se levantar, segurando o braço do bloqueio, muito ferido. Mas Ryuji nem ligou pra isso: partiu em sua direção. Ele segurou Iori, e os dois ficaram no meio de muita luz, uma inigualável concentração de Chi. Iori sentiu todas as células do seu corpo sendo feridas, queimando. E não viu mais nada.

– P-parece quê... O vencedor é Ryuji. – disse o juiz principal, assustado.

– Iori?! Droga! – Kaneda correu na sua direção. Uma poça de sangue estava ao seu redor.

– M-mestre Takashi...? – isso foi tudo que Sakura pôde dizer.

– Shun Goku Satsu... Mas como? – disse Takashi, ainda pasmo.

 

Japão, Tóquio, 9 de Abril

 

Ryuji veio. E Iori percebeu que não era pouca coisa. Ele o segurou. Seus olhos emitiam um vermelho muito forte. Iori sentiu seu poderoso Chi. E o golpe o atingiu. Não pôde ver o que era, mas pôde sentir. E percebeu que era o fim da linha. Iori sentiu o sangue na sua boca. E caiu. Ainda podia abrir os olhos. Ryuji o olhou com um sorriso sarcástico. Seu pé se aproximava para esmagar sua cabeça. E chegou muito perto, mas... Iori acordou!

– Droga! Foi só um pesadelo... Mas onde estou? – ele falava sozinho. – Não consigo... Não consigo mexer minhas pernas... O Ryuji vai pagar! Eu ainda vou matar aquele desgraçado!

 

Enquanto isso, em Okinawa, Kaneda finalmente chegava de viagem. Ele ligou para Chun Li e partiu para Tóquio, levando Iori. A encontrou lá, e ficaram com o amigo ferido. Kaneda resolveu voltar, pois o Torneio logo começaria. Ele enfim chegou, e logo chamou Takashi para umas explicações. Sakura também se sentou para ouvir.

Ryuji, desde o incidente com Iori, desapareceu. Algumas informações da Interpol diziam que ele estava no Brasil, no Amazonas, onde enfrentaria Blanka. Blanka era o seu oponente no Torneio. Por sorte, Ryuji se tornou Guerreiro Mundial no dia 8 de Abril, o último dia permitido para desafios antes do Torneio dos Guerreiros Mundiais.

– Então, Sensei, o que era aquilo? – perguntou Kaneda.

– Vocês dois, prestem muita atenção no que eu vou dizer. Aquele golpe era o Shun Goku Satsu. É o golpe mais letal que existe, um golpe criado para matar. Goutetsu, o homem que ensinou Gouken e Akuma, desenvolveu-o, assim como desenvolveu o Hadouken, o Shoryuken e o Tatsumaki Senpuukyaku. Ele ensinou-o para Akuma, entretanto, logo depois ele percebeu – por meio de Gouken – que uma energia maligna consumia seus usuários. Mas Akuma quis continuar com o golpe.

– Mas... No que consiste esse golpe? – perguntou Sakura, interessada.

– Nem pense nisso, minha jovem. É um grande poder. Ele pode matar instantaneamente cerca de 99% da pessoas do mundo. Alguns indivíduos podem sobreviver.

– Como Iori... – disse Kaneda.

– Isso. No entanto, ela tem um efeito colateral: a maioria das técnicas das artes marciais usa o seu Chi Yang, que o leva para o caminho do bem. Por isso os golpes não podem ser usados para matar inocentes, para a tirania ou para qualquer outro tipo de atitude desonrada. No entanto, golpes como o Shun Goku Satsu, ou mesmo os golpes do Ler Drit de M. Bison, como o seu controle de mentes, usam o Chi Yin. E desse modo a pessoa vai sendo arrastada para o mal, e o Chi Yin vence o Chi Yang em seu corpo.

– M. Bison... Mas não é um golpe só de Karatê? Então como Ryuji tem esse poder? – perguntou Kaneda.

– Essa é uma boa pergunta, Kaneda. Mas enquanto esteve fora, eu tive uma conversa com Ryuji. Logo depois ele partiu. Ryuji tem treinamento de Ninjitsu, mas também tem de Karatê. Ele não quis contar como aprendeu o Shun Goku Satsu, mas o fato é que ele o aprendeu. E sobre Bison, no Karatê é despertado o Shun Goku Satsu, mas no estilo de Bison é o Psycho Power. São energias praticamente ”irmãs”.

– Intrigante...

– Mas tem algum jeito de vencer essa influência negativa, Sensei? – perguntou Sakura.

– Vejo que está muito interessada neste golpe. Se tem algum jeito, eu não sei. Mas o único jeito conhecido é fazendo com que o Chi Yang vença o Chi Yin. Isso não é fácil. Quando fazê-lo, as coisas mundanas não interessarão mais pra você. Mas para fazê-lo, jamais deve utilizar o golpe novamente...

'Deve ter outro jeito... Se eu pudesse aprender esse golpe talvez eu pudesse descobrir um jeito... Mas deixa pra lá!', pensou Sakura.

– Precisamos salvar Ryuji!

– Vejo que em nenhum momento se interessou pelo golpe, jovem Kaneda. Agora percebo que acertei em te treinar. Mas é melhor que se prepare agora, pois sua luta é amanhã.

– Sério? E contra quem?

– Veja você mesmo. – disse Takashi, entregando-lhe a carta que tinha chegado.

'Com Chun Li! Droga, é uma pena... Ela queria tanto enfrentar M. Bison...', pensou Kaneda. Ele se levantou, cumprimentou o seu mestre e foi arrumar a pequena mala. Sakura também levou poucas coisas. Logo eles se despediram de Takashi e saltaram na moto, indo para o aerporto.

 

China, Pequim, 10 de Abril

 

Amanheceu um dia de sol, apesar do frio. Como de costume, a rua estava cheia. Kaneda e Sakura cumprimentaram Chun Li. Logo Iori também apareceu. E para a surpresa de todos, estava andando!

– Iori! – se assustou Kaneda.

– É, estou andando novamente...

– Mas... Como?!

– A Interpol fez um pequeno implante cibernético na minha medula espinhal.

– Que bom! Vai poder lutar no Torneio.

– Só que não consigo usar meus poderes elementais desde que coloquei esse implante. Parece que a natureza não pode conviver com a tecnologia...

– Nossa, que pena. Mas, cadê a Chun Li? – disse Kaneda, virando-se.

 

– Você aqui... – disse Chun Li para Ryu, um pouco sem graça.

– É. Eu vim te desejar boa sorte! – disse ele, com um sorriso.

– Ah, 'tá...

– ...

– Ryu... – disse ela, se aproximando.

– Eu não creio que isso seja o melhor a ser feito...

– Mas, Ryu... Por quê?

– Sua luta já vai começar... Depois conversamos. – disse ele, apontando para Kaneda, já pronto.

 

– Boa sorte, Chun Li.

– Boa sorte pra você também, Kaneda.

– Lutem!

Kaneda ficou observando. Chun Li saltou sobre Kaneda com um chute. Ele apenas se defendeu, desviando sua perna para o lado. Chun Li tentou continuar seu ataque, mas Kaneda usou sua Rajada de Gelo para congelá-la. Chun Li ainda tentou se defender, mas não adiantou.

– Me desculpe, Chun Li... Shinkuu... Hadouken! – gritou Kaneda, enquanto a atacava com seu projéteis de fogo.

As seis bolas de fogo atingiram a jovem com muita força, derrubando-a no chão. Chun Li ainda tentou se levantar, gemendo muito. Sua vontade de acabar com M. Bison era muito grande. Mas não adiantou. Chun Li perdeu.

– E o vencedor é... Kaneda!

– Muito bem, Kaneda! – disse Sakura, abraçando.

– Parabéns. Grande vitória.

– Obrigado, Ryu! Agora, com licensa. – disse ele.

Kaneda voltou e pegou Chun Li no colo. 'Vamos pra casa dela', ele disse. Ryu se despediu e tentou partir, mas Kaneda o segurou. Os quatro foram pra casa da jovem. Mas logo Iori se despediu, pois tinha que viajar para a Índia, onde lutaria com Dhalsim.

 

Após algumas horas, enfim Chun Li despertou.

– Você me venceu... Parabéns, Kaneda, nem tive chances... – disse ela.

– Tudo bem, eu peguei pesado mesmo. Me desculpe.

– Não precisa se desculpar... Mas... – ela olhou e percebeu que Ryu também estava ali.

– Chun Li, eu vou vencer M. Bison por você! E por mim também! Agora eu e Sakura temos que partir.

Kaneda puxou a namorada e foi saindo, deixando Ryu e Chun Li sozinhos. Com certeza, acabariam se entendendo...

 

– Nossa, Kaneda, o Ryu deve ficar bravo com você. Vive atirando ele na Chun Li! – disse Sakura.

– É isso que os dois querem. Além do mais, o Ryu não consegue "se encontrar" porque não tem motivos para lutar. No começo lutou para honrar Gouken, e depois para preencher o vazio. Mas não adianta lutar sempre para preencher o vazio, pois no fim, a luta só aumenta o vazio. Ryu deve ter um motivo para lutar. Quem sabe eu estou ajudando.

– Sabia que além de ser um gato e muito bom na porrada até que você filosofa muito bem? – disse ela, sorrindo.

– Hehehehe...

 

Índia, Tibete, 10 de Abril

 

Iori descia a montanha para chegar ao belo vale. O templo de Dhalsim ficava lá, e já podia ser visto. Iori sentiu uma paz que não sentia há anos. 'É um belo lugar', pensou ele. Enfim chegou, e foi bem recebido.

Um vasto templo. Alguns elefantes e uma serpente adornavam o local. Alguns minutos depois um homem chegou. Muito magro. Careca, com pinturas em vermelho na cabeça e crânios de macacos presos num colar no pescoço. A descrição bateu.

– Você deve ser Dhalsim! – disse Iori, empolgado.

– Sim, meu jovem. Pelo visto, você merece o título de Guerreiro Mundial. Posso sentir o fogo que arde dentro de você.

– Ih, qualé, meio gay isso que falou, hein! – Iori sorriu.

– É uma pena que não use sua força para o bem.

– Ei, como assim?

– Eu sei que luta pelo bem, mas dentro de você o mal cresce a cada dia. Ou melhor, a cada golpe.

Iori ficou apenas olhando pra ele. Dhalsim percebeu que ainda não era o momento do jovem entender isso queria dizer, e fez um sinal para o monge que ia arbitrar e fazer valer o combate. Ele autorizou o seu início.

Iori partiu pra cima de Dhalsim focalizando seus poderes do fogo no punho direito, enquanto tentava acertar um soco. No entanto, seus poderes não apareceram, e o soco acertou Dhalsim no estômago enquanto este pegava Iori pelo braço. Dhalsim começou a dar socos na sua cabeça. Logo Iori se livrou.

– Tem sorte, Dhalsim. Eu não...

– Não pode usar seu poderes. Você busca a resposta para isso, mas já tem, no seu íntimo.

– A natureza não convive com a tecnologia, então... Que seja!

Iori partiu pra cima de Dhalsim, que o atacou com chamas. Dhalsim concentrou o seu Chi e o expeliu pela boca, numa labareda. Iori pôde apenas colocar os braços na frente para não sofrer queimaduras graves. Dhalsim tentou dar um chute alto, mas Iori foi mais rápido. Invocou o espírito do furacão e atingiu Dhalsim inúmeras vezes com o seu Chute Furacão.

– Tatsumaki... Senpuukyaku!

Dhalsim ainda tentava se levantar. Iori pensou em atingi-lo, mas as palavras do monge apareceram na sua mente. Iori deu sua mão para ele, ajudando-o a se levantar.

– Eu desisto. – disse Dhalsim.

– O quê?! – Iori se assustou.

– Parece que minha missão já está cumprida nesse Torneio. O resto é com você e seus amigos.

– ...

– Mas cuidado, Iori. Continue no caminho da honra. Reserve sua fúria para combater o mal.

– Espere... Eu tenho medo...

– Medo? – questionou Dhalsim.

– Eu não sei se conseguirei continuar nesse caminho... Por favor, me guie. – disse Iori, ajoelhando-se.

– Tudo bem, Iori. Mas antes, faça o que deve ser feito. Depois volte para o templo, que eu te guiarei. E sei que seu amigo Ryuji passa por problemas maiores. Convença-o a vir também!

– Sim, senhor!

 

Enquanto isso, no Brasil, Ryuji e Blanka travavam um brutal combate. Blanka o atingiu com duros golpes. Ryuji partiu pra cima dele com um forte chute, mas foi jogado longe ao tomar uma poderosa descarga elétrica. Blanka se atirou pra cima dele no seu clássico Rolamento Voador, onde ele se joga na direção do oponente como se fosse uma bola.

Ryuji se defendeu do ataque. Blanka deu um gancho, que acertou bem na face de Ryuji. Ainda rindo do "patético" golpe, Ryuji o agarrou. Seu Chi fluiu por todos os seus poros, atingindo Blanka como numa explosão nuclear. Uma poderosa luz cegou a todos, e quando se dissipou, Blanka jazia no chão. Ryuji venceu.

Venceu e partiu, sem dizer nada pra ninguém. Talvez nem mesmo Ryuji soubesse o que tinha dentro dele...

 

Espanha, Barcelona, 13 de Abril

 

Kaneda fitava os frios olhos de seu oponente, Vega. Ele olhou para a platéia e identificou os agentes da Interpol que o ajudariam caso algo desse errado. Afinal, Vega de qualquer forma era um general de M. Bison!

Kaneda se assustou com o barulho das grades descendo e isolando a arena do resto do restaurante. Vega deu um sádico sorriso pra ele e colocou sua máscara. Ainda ajeitou suas garras. Enfim falou algo:

– Te darei uma morte lenta. Me procurará e não me achará, assim como os touros. Verá como sou rápido. Lutadores formosos nunca perdem!

– ...

Vega partiu pra cima de Kaneda com seu poderoso Ataque com Cambalhotas. Deu várias cambalhotas e acertou o braço de defesa de Kaneda inúmeras vezes, ferindo-o gravemente. No fim de seu movimento, Kaneda saiu do chão. Vega ainda acertou um fraco golpe de garra no japonês, que em pleno ar, o acertou com uma salva de seis bolas de fogo.

– Shinkuu... Hadouken! – gritou Kaneda, já descendo ao chão novamente.

Vega agonizava no chão. Com certeza foi um golpe muito forte. Kaneda se afastou e preparou mais um golpe. Vega foi correndo na sua direção, acertando-o com uma rasteira. Kaneda já concentrava seu Chi e apenas assumiu uma postura defensiva, um pouco prejudicada. Logo depois de tomar o chute, se virou e jogou uma rajada de gelo contra Vega.

– Se você se acha tão belo assim, então é melhor que fique congelado pra sempre, para que todos o apreciem num museu!

Kaneda socou rapidamente o gelo, sem causar muitos ferimentos. Vega caiu no chão, nocauteado. Kaneda tirou de dentro do seu gi um par de algemas, prendendo Vega. Muitos dos espectadores eram membros da Shadaloo e servos de Vega, mas os agentes da Interpol deram conta deles. Kaneda apenas observou a ação, mas sua mente estava longe. Pensou no próximo combate.

 

Japão, Okinawa, 14 de Abril

 

Iori levantou cedo e começou a se preparar. Kaneda e Sakura observavam. Ryu também apareceu para assistir a luta, depois que ficou sabendo sobre o Shun Goku Satsu de Ryuji. Enfim o oponente chegou. Iori se lembrou da outra luta, há alguns dias, quando quase morreu. Mas seria mais esperto dessa vez, e não deixaria Ryuji usar aquele golpe novamente!

– Dessa vez vou acabar com você, Hakushu! – gritou Ryuji.

– Não vai ser tão fácil! – Iori respondeu.

– Comecem!

Ryuji partiu pra cima com um chute giratório, que acertou Iori na face. Iori não fez por menos, e derrubou o oponente com uma rasteira. Ryuji se levantou e desferiu um Soco do Dragão. Já esperando isso, Iori acertou-o com o mesmo golpe, derrubando-o no chão.

– Shoryuken! – gritou Iori.

– Aaarrghh! Vai pagar!

Ryuji partiu preparando o Assassino do Inferno. Já esperando isso, Iori saltou pra trás. Ryuji fitou-o furiosamente. Iori saltou sobre ele com um chute voador, mas Ryuji se esquivou dando um passo pra trás enquanto sacava sua espada. Iori não teve nem tempo de falar nada. O golpe cortante o atingiu no peito, derrubando-o no chão.

Iori ainda tentava se recuperar. Ryuji jogou a espada longe logo depois do golpe desferido. Aproveitando-se da posição atual de Iori, Ryuji partiu em sua direção e usou o seu Assassino do Inferno. Novamente Iori foi derrotado por esse golpe.

– O quê?! O Shun Goku Satsu?! – Ryu se surpreendeu.

– É, Ryu... – disse Kaneda, sendo interrompido.

– Oh não, Ken! Posso dar um telefonema?

– S-sim... Está na sala.

Ryu saiu correndo. Ele ligou para o amigo, que mora em Nova Iorque. Ken era o próximo oponente de Ryuji, e ele devia ser avisado sobre o Shun Goku Satsu dele. Kaneda pegou Iori, usando seus poderes de cura nele. Foram ferimentos superficiais dessa vez. Ryuji nem comemorou. Partiu com pressa.

– E... Espere, Ryuji... – Iori abriu os olhos, surpreendendo a todos.

– ... – Ryuji se deteve, mas não disse nada.

– Eu sei quê... Que não é mal... Eu sei, droga!... Dhalsim me pediu... Se quiser se livrar disso... Procure-o depois... Depois do Torneio...

– Eu o procurarei! – disse Ryuji. Ninguém percebeu a lágrima em seus olhos. Ele partiu para Nova Iorque, onde logo lutaria.

 

Mais tarde, Ryu se despedia de Kaneda:

– Você terá um grande oponente amanhã, Kaneda. Mas quero que vença. Se nós dois vencermos, enfim nos enfrentaremos!

– Tudo bem, Ryu. Eu irei vencê-lo. Até a próxima luta, então.

– Até.

Kaneda observou a figura partindo. E percebeu que talvez não fosse nunca mais vê-lo. Talvez amanhã fosse o seu último dia de vida. Kaneda resolveu dormir.

 

Japão, Okinawa, 15 de Abril

 

Amanheceu um triste dia nublado. A luta seria às 10 da manhã. Kaneda treinava alguns golpes no ar. Sakura lhe disse algumas palavras de confiança. Iori, já recuperado, lhe desejou sorte. Enfim chegou a hora.

Kaneda viu seu oponente, M. Bison, entrando no dojô. Muitos homens chegaram com ele. Era raro que lutasse fora de casa, e se tinha vindo até aqui, é porque considerava Kaneda um alvo muito importante.

– Eu não queria sujar minhas mãos com você, Kaneda Jones, mas isso se tornou inevitável depois da prisão de Vega e da destruição de Mriganka. Eu já te derrotei no passado com muita facilidade, e o farei novamente! – disse M. Bison.

– Eu melhorei muito desde aquele dia.

– Assim espero, senão não terá nenhum divertimento! Hahahahaha!

– ...

Kaneda só podia sentir raiva. Ali estava o homem que encomendou a morte de seu pai e de Key. O homem que controlava a mente de Hwoarang. E agora esse homem tinha que pagar pelos seus crimes. Mas lá no fundo, Kaneda sentia muito medo. E talvez tivesse razão em sentir esse medo...