Conspiração Total

Capítulo XXII: Grandes Inimigos

 

Japão, Zona Rural, 5 de Janeiro de 1998

 

Amanheceu um dia muito frio e nublado. Geou na noite passado. Mesmo assim Kaneda fazia o máximo para aquecer o seu corpo. Uma luta ia começar. Seu oponente Sean e os juízes já tinham chegado. Kaneda não o conhecia, apenas sabia que era o mais novo discípulo de seu colega Ken Masters. Devia ser bom.

– É um prazer conhecê-lo, Sr. Kaneda Jones! – Sean sorriu e reverenciou o oponente.

– ... Já me conhece? – Kaneda assustou-se, reverenciando também.

– Meu mestre falou muito sobre o senhor. Ele disse pra eu dar tudo de mim nessa luta. Eu aprenderia muito, mesmo se perdesse.

– ... – Kaneda apenas sorriu. – Vamos começar então?

– Sim senhor! – Sean sorriu mostrando os dentes.

Kaneda fez um sinal para os juízes, que autorizaram o início da luta. Nesse lugar não há público algum. Apenas o vento e os animais ocasionais podem ser ouvidos. Kaneda ficou em posição de defesa. Afoito, Sean partiu com tudo pra cima dele, atingindo seu punho de defesa com seu famoso Encontrão do Sean.

Um ataque forte, por ser seguido de uma corrida e muito bom. Mas Kaneda estava preparado para o soco. E seguiu com um poderoso golpe. 'É a primeira vez que usarei isso', pensou. Concentrou seu Chi no punho direito. E subiu aos ares num Soco do Dragão, que acertou o queixo de Sean. O garoto já estava caindo, mas Kaneda prossegiu com o Deslocamento do Dragão, conhecido por sua criadora, Sakura, como Shououken. Sean foi acertado várias vezes e jogado contra o duro chão do dojô.

– Shin... Shoryuken! – Kaneda gritou.

Sean ficou por alguns instantes imóvel no chão. Os juízes chegaram a acreditar que a luta estava definida. Kaneda se afastou, continuando na posição de defesa. O garoto brasileiro se levantou, com a boca como um rio de sangue.

– Grande... golpe...

– Humf... Você tem fibra, garoto! – disse Kaneda.

– Agora verá o meu melhor golpe!

Sean correu na direção de Kaneda. Ele concentrava muito Chi. O elementalista do ar apenas ficou esperando pelo ataque. Primeiramente, Sean chutou seu braço de defesa, talvez apenas para distraí-lo. E Sean seguiu com um grande golpe.

– Aaaarrrgghhh! Shoryu Cannon!

– Você perdeu, Sean! – gritou Kaneda.

E ele estava certo. Por mais que o golpe de Sean estivesse carregado de energia, o de Kaneda foi mais rápido. E numa luta isso é essencial. O Soco do Dragão de Kaneda acertou o jovem novamente no queixo, enfim nocauteando-o.

Kaneda refletiu um pouco. Talvez fosse isso que Ken queria que o garoto aprendesse. A não atacar com impulsividade. Ken era assim, e por isso perdeu para Kaneda no passado. Kaneda sorriu e se despediu dos árbitros. Levou Sean para um quarto, onde cuidou dos seus ferimentos.

 

Enquanto isso, mais lutas aconteciam. Na manhã fria de Londres, o boxeador Dudley perdeu para o americano Alex. Os dois gigantes têm algo contra Gill: Dudley quer o carro que seu pai deixou de lembrança e que Gill roubou e Alex quer Patricia, filha do seu mestre Tom e seqüestrada por Gill. O grego fez isso para forçá-los a lutar, e para descobrir se são os Escolhidos.

Em Hong Kong, Ryu derrotou o dono da casa Yang, exímio lutador de Kung Fu que lutava apenas para honrar seus ensinamentos. O irmão gêmeo de Yang, Yun, lutaria no mesmo lugar no dia seguinte. E mais tarde, na Inglaterra, uma luta teria início.

– Interessante... Uma capoeirista! – Hwoarang sorriu.

– Ouvi muito sobre você, Hwoarang, mas por que não lutou no torneio passado? E por que saiu de circulação? – ela sorriu.

– Tive meus motivos.

Elena apenas olhou pra ele. Ela lutava apenas para se divertir, pois adorava desafios! Em 1996 e em 1997 o Street Fighting passou a ser legalizado em vários países, e graças a isso a queniana conheceu o circuito. Ela adorava saber que agora estava sendo vista na televisão de metade dos países do mundo!

– Podem começar!

Elena e Hwoarang ficaram se olhando. A arena de Cammy – e agora também do coreano – ficava num antigo castelo, numa ponte de três metros de largura apenas! A ponte de pedra ligava duas partes do castelo. Um vento frio batia no lugar. 'Se Kaneda venceu com facilidade, também devo fazê-lo!', pensou Hwoarang, que tinha acordado mais cedo para ver Kaneda na TV.

Elena saltou com um forte chute, que Hwoarang defendeu. Ela tentou dar um chute ascendente com muita força, que ela chama de Chifre do Rinoceronte, por compará-lo com o chifre de um rinoceronte. No entanto, ele, mais rápido, a chutou 4 vezes com o seu mais novo golpe:

– Shin... Dankuukyaku!

Ela rolou e caiu a alguns metros de distância muito ferida. Hwoarang deu uns chutes no ar enquanto a garota se levantava. Ela sorriu, mesmo com a dificuldade que teve para se levantar e com o sangue escorrendo pelo nariz aparentemente quebrado.

Hwoarang preparou um chute contra ela, mas a garota foi para bem longe. Elena começou a se concentrar para usar um poder muito raro de se ver: se curar! Mas Hwoarang não deu esse tempo a ela. Seu famoso Chute Tesoura a acertou duas vezes. Ela não se levantou mais.

 

Enquanto isso, na Índia, Iori via a luta pela televisão. Então foi tomar o café da manhã. Estava maravilhado com a riqueza da família de Pullum. Ele comeu com pressa e logo foi encontrá-la no jardim. Estava linda, como sempre. Era um dia quente e o céu estava límpido.

– Oi, Iori! – ela sorriu.

– Oi. E então, vai me mostrar a arena onde lutarei hoje? – perguntou ele, depois de beijá-la.

– C-claro! Venha comigo!

A jovem saiu correndo. Iori demorou um pouco para segui-la. Observava como ela era feliz, como sua adolescência era feliz. A dele não tinha sido nada parecida. Ela parou, olhou para trás e chamou-o novamente.

Ele correu e saltou sobre ela quando chegaram no lugar. Rolaram um pouco no chão, mas logo Iori parou, maravilhado. Era um lindo templo. Um tapete estava no chão, e pilares subiam até o teto, com detalhes em ouro. Por fim, uma bela vista da casa era cedida pela arena, que ficava num lugar um pouco alto.

– Meu Deus, acho que você assistia muito Aladdin! – ele sorriu.

– Seu bobo! E então, gostou?

– Se gostei?! Claro que sim!

– ... – ela apenas sorriu.

– Bom, vou me preparar, pois minha oponente logo vai chegar.

– Eu vou lá para recebê-la, caso chegue.

– Ok!

Pullum o beijou e se foi. Antes, porém, ela disse 'Boa sorte!'. Iori se aqueceu. E estava certo! Logo Pullum chegou com os juízes e com Ibuki, a adversária de Iori. Uma ninja mascarada, filha de Geki, um dos participantes do Torneio de 1987.

– Humf, então você é Iori Hakushu... Eu esperava mais!

– Cuidado, garota, as aparências enganam. E então, com armas ou sem armas?

– Isso se define no meio da luta! – Ibuki sorriu.

– É esperta... Está sendo cautelosa. Vamos começar!

Ibuki não lutava por opção. Na verdade, ela procurava um meio de encontrar Gill. Ela precisava dos Arquivos-G, que continham as informações usadas no projeto que gerou Necro, Eiffie e, por último, o ser de metal líquido Twelve, todos já mortos. Lhe empregaram essa missão.

'Vou acabar com ela depressa, assim como Kaneda e Hwoarang!', pensou Iori. E ele esperou o ataque da ninja, que foi um forte chute. Iori se tornou insubstancial e atravessou-a, indo para atrás dela. Ele atacou com o seu Fúria do Dragão, mas Ibuki se defendeu.

As chamas arderam no ar, e ela foi empurrada para trás. Iori tentou continuar seu ataque, com um chute, mas Ibuki prosseguiu com um poderoso Chute Voador, jogando-o longe no chão. O golpe acertou Iori no queixo, e ele demorou para se mexer. Pullum ficou aflita.

Iori, apoiando-se nas mãos, tentava se levantar. Mas Ibuki não lhe deu tempo para isso. Ela seguiu com três chutes, lembrando a Giratória Dupla de Cody, mas era um golpe diferente! Quando Iori caiu no terceiro chute, recebeu mais um no chão, característica essa do Tsumuji do Ninjitsu!

'Agora acabo com ele!', pensou a ninja. Ela seguiu com o seu Raida. Concentrou muito Chi na palma da mão esquerda e o atacou. Iori, no entanto, saltou para longe, muito assustado. Como podia ter sido ferido tão gravemente?

– Que golpe sujo!

– Então quer lutar de longe, Hakushu? – ela sorriu maliciosamente, apesar de Iori não poder ver isso por causa da sua máscara.

Iori viu três shurikens em cada uma de suas mãos. Ela os arremessou contra ele. Mas, ao invés de assustar-se, o karateca sorriu. Usando uma técnica recém-aprendida, rebateu-os, todos contra a ninja. Ibuki ainda gritou antes e cair no chão.

Ela se levantou, desesperada. Mas Iori foi mais rápido. Acertou-a com um Soco do Dragão, jogando-a longe. Ibuki sentiu muito o golpe. Ainda tentava se levantar, muito fraca. Mas Iori não perdoou.

– Pagará na mesma moeda! Destroyer Raging Dragon!

Muito Chi foi concentrado no punho direito de Iori. Invocando os poderes do fogo, ele subiu numa forma muito mais poderosa do seu Soco do Dragão flamejante. A garota foi acertada duas vezes pelo poderoso golpe, no estômago e na mandíbula, caindo inconsciente.

– Humf, esses ninjas...

– Você venceu, Iori! – gritou Pullum, correndo e saltando sobre ele.

– Mas não foi uma boa vitória. Não fui um artista marcial de verdade nessa luta!

Ele saiu do seu abraço e voltou para o seu quarto. A jovem foi atrás dele, correndo. Ela já estava se acostumando com o temperamento do filho do fogo. E enquanto isso acontecia, Kaneda telefonava para Hwoarang.

 

– Fala, Kaneda!

– Parabéns pela sua vitória!

– Você também! Mas e então, o que é que manda?

– Eu vou enfrentar o americano Alex aqui. E você vai lutar com o Ryu, advinha onde?

– Serio mesmo, cara?!

– Ahan. Então estive pensando: por que não vem pra cá logo? Seria bem divertido!

– É uma boa! Já 'to arrumando as malas então!

– Ok!

Kaneda desligou o celular. Ele pensou um pouco. Amanhã teriam as três lutas que faltavam da primeira fase. E ele temeu por Ken, que enfrentaria nada menos que Fênix! Kaneda não teve dúvidas, ia falar com Ken, nem que fosse por telefone!

 

Índia, Calcutá, Noite de 5 de Janeiro

 

Iori treinava sozinho no quarto. Ele sabia que Ken não venceria Fênix, mesmo que a luta ainda não tivesse acontecido. E sabia que teria que parar o suposto deus. Iori se sentia com essa responsabilidade.

– Iori!

– Pullum? O que faz aqui? – ele perguntou, continuando seus movimentos.

– O delegado amigo do meu pai disse que viram um cara que bate com a descrição daquele que você procura aqui na cidade.

– O quê?! – ele parou. – O Kairi?

– S-sim... – ela se assustou um pouco com o jeito com o qual ele falou.

– Onde ele foi visto?

– Não fale assim com ela! Ela não é sua subordinada! – Darun entrou no quarto também.

– Não enche! Onde ele foi visto?

– No metrô, numa praça aqui perto e no shopping central, tudo hoje. – disse Pullum.

– Certo. Então vamos!

– Estou precisando de um pouco de ação. Vamos procurar seu amigo! – Darun sorriu. – Aqui é tão entediante... Mas teremos que nos dividir.

– É... Pullum, você vai para o shopping, porque lá tem bastante gente. Eu vou para o metrô.

– Ok!

– Ok, fico com a praça.

 

Algum tempo depois, Iori já estava no metrô. Ele, acostumado com Tóquio, estranhou como o lugar era macabro, mesmo para um metrô. Tudo abandonado, as coisas de ferro enferrujadas, muitos mendigos, enfim, um lugar muito esquecido pela cidade.

Logo Iori sentiu uma energia vibrando. 'Algo está errado!', pensou ele, já saindo correndo. Após uns 300 metros viu uma cena peculiar. Uma jovem estava sentada, apoiada na parede rachada. A rachadura devia ter sido causada pelo choque do corpo dela contra a velha parede de concreto. Era Nanase!

– Na... Nanase!

Ela virou a cabeça assustada. Estava muito ferida! Em pé, de frente para ela, estava aquele que Iori tanto procurava. Kairi olhou para ele. 'Ah, é você...', ele disse sorrindo. 'Essa luta já acabou, e essa fraca não é minha irmã!'. Ele se virou e se foi na escuridão.

– Droga... – Iori não soube o que fazer. O último encontro o deixou amedrontado. – Nanase, está bem?

– Iori... Você veio... Me... Sal... Var... – ela fechou os olhos.

 

Algumas horas depois, Iori, Pullum e Darun esperavam o diagnóstico no hospital. Ele tinha telefonado para os dois, que prontamente foram atrás dele no metrô. Pullum enfim se levantou da cadeira desconfortável.

– Ah, isso vai demorar... Iori, vou pra casa.

– Ok. – ele disse, beijando seus lábios.

– Vamos, Darun?

– Vamos.

 

Japão, Zona Rural, Manhã de 6 de Janeiro

Kaneda acordou cedo e começou a praticar alguns golpes. Uma camada de neblina podia ser vista, dando um sombrio ar para a floresta. De cima da arena podia escapar de tudo isso. Seus socos ainda cortavam o ar quando viu uma figura se aproximando. Logo Kaneda o reconheceu.

– Hwoarang!

– Fala, Kaneda! – o coreano abraçou o amigo. – E então, o que conta?

– Bom, nem o Ryu e nem o Alex chegaram. Mas ontem eu liguei para o Ken.

– O Ken?

– É. Daqui a pouco ele enfrentará a Fênix.

– Droga...

– Tentei convencê-lo a não lutar. Foi inútil. Mas eu o entendo.

– Sei...

– Pedi que não fosse sozinho. Agora temos que torcer.

– E poderemos ver a luta?

– Bom... – Kaneda pensou um pouco. – Tenho um amigo na cidade, onde deixo minha moto. Vamos lá, te levo voando!

 

Índia, Calcutá

 

Iori acabou dormindo no hospital. Dormiu mal, meio sentado, e acabou tendo um pesadelo com Kairi. Não, Iori não sentia medo dele. Mas sentia medo de falhar. Já amanhecia quando o médico veio. E ele já veio com Nanase! Ela acordou o filho do fogo.

– Ahn...?

– Acorda, Iori!

– Nanase... Você está bem?

– Sim... Graças a você. – ela sorriu.

– Ela se recuperou bem. Esperava que ela ficasse um dia aqui, mas já posso dar alta. – disse o médico.

– Que bom. Vamos então, Nanase?

– Sim. Mas pra onde?

Os dois pegaram um táxi e foram. Nanase ficou maravilhada com a mansão dos Purna. Ela e Iori entraram. A garota até tinha se esquecido de tudo pelo que passava, se sentindo uma princesa. E Iori era o seu príncipe. Mas...

– Oi, você deve ser a Nanase! Eu sou Pullum, a namorada do Iori.

– Namorada...? – Nanase se assustou.

– É... E esse é Darun, um amigo da família, também Street Fighter. – a ingênua Pullum não tinha percebido o que se passava.

– Qual vai ser meu quarto? – o tom de voz de Nanase mudou.

– Eu te levo. – Iori, percebendo a situação tentou abafá-la.

Eles caminhavam. Mesmo sabendo mais ou menos o que se passava, Iori não tinha entendido. A jovem Nanase percebia que seu sonho na verdade era um pesadelo. Sua família estava arruinada e seu amor não a amava. A garota derramou algumas lágrimas.

– Muito obrigado por tudo, Iori, mas eu tenho que ir. – ela nem olhou para ele, escondendo que chorava.

– Mas... Espere! – Iori a segurou pelo braço.

– Me larga! – a garota se soltou e saiu correndo.

– Humf, quem pode entender as mulheres!

 

Enquanto isso, no Egito um combate chegava ao fim. Por mais que tentasse, Ken não ia conseguir se soltar da mão de Fênix, que apertava seus olhos. Mas seu oponente decidiu abandonar o golpe, jogando-o longe. Ken olhou para ele. O sangue escorria do canto de seus olhos.

– Você vai pagar! Shoryu Reppa!

– Hum...

Ken partiu com o seu mais poderoso golpe pra cima de Fênix. Este apenas sorriu. E o americano levou o maior susto da sua vida ao ver que Fênix fazia o mesmo movimento. E era mais rápido. Ken foi atingido duas vezes pelo soco, sendo jogado longe. E não se levantou mais.

Enquanto os soldados e servos de Fênix vibravam, os mordomos de Ken pegavam seu corpo. O colocaram com pressa no helicóptero e partiram para Cairo. Ken precisava de um médico.

– Eu provarei que sou invencível. Eu sou Rá! – gritou Fênix.

 

Japão, Zona Rural, Tarde de 6 de Janeiro

 

Kaneda e Hwoarang treinavam, depois de tanto tempo. Mas não estavam felizes. Cansados, desistiram, com medo de ferir um ao outro. Hwoarang olhava para o chão, enquanto Kaneda, distraído, observava as nuvens.

– Não acredito ainda que o Ken tenha perdido daquela forma... – Hwoarang se lamentava.

– Hein?... Ah sim, é verdade.

– Quais foram os outros resultados mesmo?

– Oro venceu Yun e Gill venceu seu irmão Urien.

– E as próximas lutas?

– Eu contra o Alex, você contra o Ryu, Iori contra a Fênix e Oro contra Gill. – Kaneda começou a olhar para o portão. – Ei, tem alguém ali! – e saiu correndo.

– Esse Kaneda... E então, o que era? – perguntou o coreano, quando o amigo já voltava.

– Correspondência. Tenho até pena do carteiro que vem no meio da floresta entregar isso aqui...

– Haha! – coreano se divertiu.

– Ih, é pra você!

– O quê?! – ele arregalou os olhos. – Como me acharam aqui?

– Nem me pergunte...

 

O coreano apanhou o envelope. Rasgou-o e começou a ler. Kaneda percebeu que suas feições foram mudando. Ele começou a ficar com raiva. Kaneda, preocupado, pediu a carta. O coreano entregou pra ele.

 

"Sr. Hwoarang

Geralmente eu procuro as pessoas, e não elas me procuram. Mas sei que quer algo de mim. Sei que quer uma resposta. Por que a Cammy não morre nem vive? É isso que se pergunta todas as noites, não é?

Eu costumo me divertir lutando contra poderosos oponentes e acabando com eles. A minha diversão é provar que sou muito superior aos seres humanos. Eu sei que não lutaria comigo se não tivesse um forte motivo, e por isso ataquei Cammy assim.

O que fiz com ela é apenas uma amostra do meu poder. Para te forçar a lutar comigo, interrompi a ligação entre o seu corpo e a sua alma. Ela sofre em sonhos, me enfrenta. Não sei até quando a manterei como refém. Venha lutar comigo, e sua namorada estará livre.

Garuda"

 

Kaneda nem bem terminou de ler e rasgou o papel em dois. Estava mais transtornado que o próprio Hwoarang, e nem percebeu que tinha alguém atrás deles. Hwoarang, muito atento, se virou. E viu uma figura conhecida, de pé, com seus trajes habituais.

– Ryu!

– Olá Hwoarang. Como está?

– Bem. Enfim vamos lutar, né?

– É... E você, Kaneda?

– ...

– Kaneda? – perguntou Hwoarang.

– Ahn...? Ryu?! – ele se levantou, assustado.

– Estava perdido, meu amigo?

– Mais ou menos. Mas então, por onde andou?

– Estava resolvendo uns problemas em Pequim.

– Ahn... Sei... – Hwoarang sorriu.

– Ryu, que bom que chegou. Quero que me diga o que acha disso.

Ryu apanhou o papel e juntou-o, para lê-lo. Kaneda e Hwoarang perceberam que sua face foi mudando, assim como a deles deveria ter mudado também. Logo, Ryu jogou o papel no chão. Kaneda e Hwoarang ficaram esperando uma resposta.

– Eu pensava que Garuda fosse uma lenda. E agora vejo que é, é uma lenda viva!

– O que vamos fazer? – perguntou Kaneda.

– Só você terá que lutar com ele, Hwoarang.

– E ele cumprirá a palavra? – perguntou o taekwondista.

– Não precisará. Mas se por algum milagre você vencê-lo, ele cumprirá sim. Terá que treinar muito, Hwoarang.

– Vou fazê-lo. E acabarei com ele!

 

Índia, Calcutá, Noite de 7 de Janeiro

 

Iori socava o ar. Ainda sentia algum medo. Seu oponente não era qualquer um. Pullum estava com ele, treinando e confortando-o. Seria sua maior luta até então. Começou a esfriar, e isso parecia complicar mais ainda as coisas.

– Pullum, se eu perder, eu não quero que interfira. Mesmo se ele tentar me matar!

– 'T-tá... – ela se assustou.

 

Mas Fênix ainda não tinha chegado. E a noite já tinha avançado mais no Japão, onde um combate já ia começar. Ryu e Hwoarang observavam, atentos. Kaneda e Alex se cumprimentaram. O americano tinha chegado pela manhã, e era bem amigável.

– Boa sorte, Kaneda.

– Pra você também!

Alex saltou sobre ele usando o seu corpo, e Kaneda apenas se defendeu. O grandalhão prosseguiu com um de seus melhores golpes: o Power Bomb! Mas Kaneda, astuto, saltou para longe. Ele então jogou uma rajada de gelo contra Alex, que além de se esquivar do ataque, o atingiu com o seu pesado corpo.

– Kaneda não está bem... – disse Hwoarang.

– Calma, a luta só começou. – Ryu sorriu.

Alex tentou pegá-lo novamente no seu Power Bomb, e Kaneda deu dois passos para trás antes que seu oponente pudesse fazer alguma coisa. 'Droga, estou confuso!', Kaneda pensava vendo a derrota chegar. Alex atacou-o novamente com seu corpo, num ataque aéreo. 'Será que essa cara só faz isso?', havia pensado Kaneda na segunda vez que recebeu o ataque.

Mas nessa já estava preparado. Concentrou seu Chi e enrijeceu a pele, num poder que aprendeu com um mestre norte americano de Combat Ki, arte marcial que enfatiza o controle da energia espiritual. Alex acertou-o, sem causar grandes danos. E Kaneda atacou. Subiu aos ares no seu mais poderoso ataque: Shin Shoryuken.

Alex ficou bastante tempo deitado no chão. Kaneda, concentrado, se afastou. O americano, cambaleando, se levantou. Kaneda o olhou furiosamente. E Alex voou sobre ele, dessa vez atacando com o ombro num poderoso golpe ascendente. Kaneda apenas se defendeu. E contra-atacou, dessa vez com um antigo golpe:

– Shinkuu... Hadouken!

Suas seis bolas de fogo atingiram o braço de defesa de Alex, que tremeu um pouco. Os dois ficaram se olhando. Alex estava visivelmente mais ferido. Kaneda sorriu, ainda em posição de luta.

– Eu preciso vencer... Eu vou salvar Patricia!

Alex saltou sobre Kaneda, que preparou um Soco do Dragão dessa vez. Os dois foram se aproximando. Ryu e Hwoarang pareciam ver o movimento, que devia ser o final da luta, em câmera lenta. No entanto, o gongo soou quando Alex ainda estava no meio do salto.

– Luta encerrada! – gritou o juiz.

– Boa luta, Alex.

– Parabéns, Kaneda. Seus golpes me pegaram de surpresa.

Alex parecia transtornado. A vitória tinha alguma importância especial para ele. E, de fato, ele tinha perdido mesmo. O resultado foi revelado, e ele cumprimentou Kaneda, Hwoarang, Ryu e os juízes. Pegou sua mochila de se foi, no meio da escuridão.

 

– Acho que agora somos nós, Ryu!

– Enfim terei a honra de lutar com você.

– Ah, deixa disso!

Kaneda se sentou. Estava visivelmente cansado. Ryu e Hwoarang se alongaram e deram alguns golpes no ar. Enfim os dois avisaram para os juízes que já estavam prontos. E eles autorizaram. De cara, Hwoarang chutou Ryu, que apenas de defendeu.

O coreano prosseguiu, com seu Chute Tesoura. Ryu se defendeu novamente. E o coreano prosseguiu com os ataques, desferindo vários chutes em seqüência. Finalmente Ryu decidiu sair da retaguarda. Vendo a força do golpe, Hwoarang achou melhor se defender.

– Tatsumaki... Senpukyaku!

Ryu acertou o coreano com seu Chute Furacão, mas não causou muitos danos. 'Já chega!', pensou Hwoarang. Atacou Ryu com seu Dankuukyaku, e o karateca apenas se defendeu. Hwoarang prosseguiu, chutando-o incansávelmente. Algumas vezes Ryu atacava, mas sem muita eficácia.

O combate já tinha cansado os dois, e estava próximo do fim. Eles ficaram cerca de meio minuto apenas se olhando, preparando um ataque. Kaneda se levantou, sentindo isso. Hwoarang resolveu tomar a iniciativa, e subiu aos ares com um novo golpe. O seu golpe mais poderoso.

– Shin... Dankuukyaku! – ele gritou.

Ryu o esperava em posição de defesa. No entanto, o karateca estava muito confiante. Parecia ter algum ás na manga. Enquanto isso, na Índia, Iori já estava frente a frente com Fênix, depois de quatro anos. Estava mais altivo ainda, e também mais forte.

 

– A vingança tarda, mas não falha. Começarei hoje.

– Humf, eu melhorei muito, Fênix! – Iori sorriu.

– Ninguém pode chegar ao nível de um deus!

– Comecem!

Fênix atacou com um Soco do Dragão. Iori apenas se defendeu. Esperando um contra-ataque, Fênix se pôs em posição de defesa. Mas, esperto, Iori atacou com um golpe que não usava há muito tempo. Socou o chão, e uma onda de choque atingiu Fênix, que caiu.

– Onda de Energia!

Fênix levantou furioso. Iori percebeu isso. E o egípcio o atacou com um Chute Furacão. Iori apenas se esquivou, abandonando a corruptível matéria no seu Ashura Senku. Ele então decidiu dar tudo em seu próximo golpe. Atacou Fênix com seu Destroyer Raging Dragon.

Mas, infelizmente, o vilão já esperava por isso, e usou uma técnica muito eficaz de defesa de socos que aprendeu há muito tempo com o Mestre Xaudo. Sofreu alguns ferimentos, mas o golpe de Iori foi tão desviado que foi como um leve jab.

– Droga! – gritou Iori.

Fênix apenas riu. 'É a minha vez', ainda disse. Concentrou muito Chi e o atacou com o seu Shoryu Reppa. Iori foi atingido, e rolou no chão. Fênix o pegou pelos olhos e começou a feri-lo. Vendo que o japonês já estava derrotado, jogou-o longe.

– Venci novamente, hahahahahahaha!

Ele já ia saindo. Pullum viu Iori caído no chão. Nesse instante, ela sentiu uma raiva que nunca tinha sentido antes na sua vida. Encheu o peito e gritou para o seu inimigo:

– Você não vai vencer sempre, sabia??!!

Ele parou. A força desesperada do grito o comoveu. Ele voltou. Olhou para a jovem, que já estava de joelhos no chão. Sorriu.

– Você é bem bonita. Talvez seja minha esposa quando eu estiver dominando o mundo. Hahahahahaha!

 

Enquanto isso, no Japão, Hwoarang acertava o braço de Ryu com o primeiro chute do seu Dankuukyaku. O segundo chute partia para o alvo, mas Hwoarang se desequilibrou no ar. Ryu, aproveitando-se disso, jogou a perna do coreano para trás, derrubando-o.

E Ryu seguiu com mais um ataque. Concentrou seu Chi e desferiu um Soco do Dragão duplo, que feriu muito Hwoarang. O coreano ainda tentava se levantar quando o gongo soou. Furioso, ele abandonou a arena. Já sabia da derrota. A vitória tinha escapado no último instante!

 

Índia, Calcutá, 8 de Janeiro

 

Iori enfim tinha acordado. Depois de uma noite muito mal dormida. Ele viu um envelope. Era da Interpol. Estava sendo convocado para ir ao Egito. Kaneda, Hwoarang, Guy e Gill também iriam. Pullum quis ir junto, mas Iori não deixou – e pela primeira vez Darun concordou com ele.

– Você vai ver, Fênix! Vou te provar que, apesar de ter renascido, não é digno de carregar esse nome!