Conspiração Total
Capítulo XXIV: A Origem
do Mal
Egito, Cairo, Manhã de 9 de Janeiro de 1998
Todos dormiram muito bem. Kaneda não largou de Sakura a noite inteira! Nem bem amanheceu
e todos já queriam partir. E precisavam, pois tinham coisas importantes a fazer.
Mas não Kaneda...
– O que houve, Kaneda? – perguntou Sakura. – Você está pensativo
desde que acordou.
– É quê... Eu não sei se esse torneio importa ainda pra mim. Sabe, eu acho
que ser o melhor do mundo é muito mais importante para o Ryu!
– Mas se você vencê-lo, ele não será o melhor do mundo!
– Eu sei disso, Sakura... Mas não é só por ele... É que estou muito cansado.
Eu derrotei o Akuma ontem! Além disso, não faz tanto sentido continuar assim...
Estou cansado de enfrentar o Ryu todo machucado! – ele sorriu.
– ... – Sakura não sabia o que pensar.
– Já provei o gostinho de ser o Grande Mestre dos Street Fighters uma vez,
e isso de nada me alegrou...
– Eu te entendo! – ela sorriu e abraçou-o pelas costas.
Kaneda telefonou para a Grécia, para a Illuminati, para que seu nome fosse retirado
do Torneio. Mesmo com muitas indagações, ele foi prontamente atendido. Já era a
hora do almoço quando todos estavam no aeroporto se despedindo.
– Ainda precisamos pegar Urien ainda... – falou Gill, com um pouco de
amargura.
– ... E Garuda! – Hwoarang apertou o punho.
– Bom, mas enquanto isso não acontece, por que não vai lá pra casa comigo,
Hwoarang? A final vai ser lá. – propôs Kaneda.
– É uma boa... – ele sorriu, mesmo estando triste.
– Então vou aproveitar pra devolver a surra que me deu! – Sakura se
animou.
– Hehe, pode ser... Mas depois volto pra Metrocity!
– Eu vou passar lá antes. – Guy avisou.
– Pode dar uma olhada em Cammy por mim? ... Sei lá, quem sabe tenha melhorado.
– mesmo que não acreditasse nisso, Hwoarang tinha esperanças.
– De boa, amigo! – o bushin piscou.
– E você, Iori, vai?
– Não, Kaneda. Meu caminho já está trilhado, e é diferente do de vocês. Vou
levar Kairi de volta e continuarei cumprindo meus objetivos.
– Então qualquer dia a gente se vê. – Kaneda sorriu.
– Com certeza.
– Muito obrigado por tudo. – Kairi sorriu e foi com ele.
– Humf, já vai tarde! – assim como naquela noite há cinco anos atrás,
Hwoarang repetiu a frase.
Gill se virou, e foi chamando Kaneda, Sakura e Hwoarang para o seu avião. Iori pegaria
outro com Kairi, e Guy um terceiro. Alex e Dudley, ainda feridos, já tinham sido
enviados para os seus lares. Mas o bushin se lembrou de algo.
– Espere, Gill! E quero que devolva o carro de Dudley e a amiga de Alex. Os
Arquivos-G você não tem obrigação de entregar a Ibuki, mas quero que faça isso.
– Guy falou e Gill ficou pensativo.
– Humf... Tem razão... Já vi o que queria ver! – ele sorriu e entrou
no avião. Estalou os dedos e seu mordomo começou a dar uns telefonemas.
Kaneda foi buscar sua moto – que foi inútil na viagem – e voltou para
o lado de Sakura. Só agora, depois do banho que ela tomou é que ele foi perceber
que seus cabelos estavam mais longos. Kaneda comentou que ficou mais bonita, e ela
apenas sorriu.
Japão, Proximidades de Osaka, 10 de Janeiro
Iori pôde perceber o brilho nos olhos de Kairi quando ele viu a sua casa. Ele foi
correndo para lá, não sem antes se virar para Iori, que sorria calmamente, como
nunca tinha sorrido antes na vida. 'Talvez me faltem raízes', ele pensava.
– Não acredito... Apesar de minha mente ser um branco total, sinto como se
realmente fizessem cinco anos que não vejo esta casa! – Kairi gritou.
Kairi finalmente entrou na casa. Iori ainda caminhava calmamente, afetado pela emoção.
Nesse momento ele se lembrou de seus amigos Kaneda e Hwoarang, que agora eram sua
família. Se lembrou do erro que cometera. Sim, ele precisava deles. E então viu
o mestre Hanzo.
– Mestre Hanzo, como prometi, trouxe seu filho Kairi. Suas filhas voltaram,
né? – Iori não escondia a preocupação para com aquelas que eram como suas
irmãs.
– Sim. – Hanzo estava muito feliz, sorrindo e recuperado. – Muito
obrigado, Iori. Você realmente honrou o que te ensinei. Agora pode seguir o seu
caminho.
– Kairi! Não acredito que conseguiu, Iori! – exclamou Hokuto, aparecendo
e abraçando o irmão.
– Iori... – Nanase também veio e se aproximou de Iori.
– ...
– ... – ela se aproximou mais e o beijou, e depois saiu correndo chorando.
Hanzo, Kairi e Hokuto não viram, por estarem entretidos.
– ... – Iori, assustado, nada conseguia dizer. – Bom, parece que
meu trabalho terminou por aqui.
Ele se foi. Iori não sabia pra onde ir. Pensou em ir para a Índia, mas queria ver
a final. Quem venceria? Ryu ou Gill? No entanto, Iori não queria dar o braço a torcer.
Resolveu ir assistir escondido.
Japão, Zona Rural, 11 de Janeiro
Amanheceu um dia muito frio, embora com o céu limpo. Ryu prefere lutas noturnas,
e por isso todos ficaram ansiosos o dia todo, esperando pela luta. Chun Li e Guy
também apareceram para ver a luta. Enfim tinha chegado a hora.
– Chun Li, a quanto tempo! – ele a abraçou.
– Kaneda! Eu soube que estava vivo, mas nunca mais o vi! – ela derramou
algumas lágrimas.
– Olá, gatinha! Eu não ganho um abraço só por não ter morrido? – Hwoarang
sorriu.
– Seu bobo! Também estava com saudades! Mas e a Cammy?
– ... – o sorriso de Hwoarang desapareceu. – Ela não 'tá bem.
'Tá no hospital.
– É uma longa historia. Depois eu te conto. – falou Kaneda.
– 'Tá.
– E aí, rapaziada! – apareceu Guy.
– Olha só quem está aí... O bushin de All Stars! – Hwoarang se animou
novamente.
– Trademark! – Guy sorriu.
– Ei, eu também uso All Stars! – Sakura se intrometeu.
– Copiona!
– Há, você que copiou, 'tá!
Kaneda, Chun Li e Hwoarang riram. Mas depois todos voltaram suas atenções para o
ringue. Gill e Ryu começaram a conversar. A luta ia começar a qualquer momento,
pois já estavam aquecidos e na distância inicial de três metros.
– Dê o seu melhor, Ryu.
– Eu sempre faço isso. E espero o mesmo de você! – o karateca sorriu.
Kaneda sorriu. Ele torcia pelo amigo. Ele sabia que era pra isso que Ryu vivia.
Mas, de repente, Kaneda sentiu algo estranho. Alguém estava ali! Ele se concentrou.
Conhecia aquela energia. Era Iori!
– Hwoarang, percebeu um Chi conhecido aqui perto?
– ... Iori? – o coreano arregalou os olhos.
– Ele está aqui, em algum lugar. – Kaneda sorriu, em saber que o amigo
não os tinha abandonado.
– Vai começar! – alertou Sakura.
Ryu se colocou em posição de luta, e Gill fez o mesmo. O juiz enfim autorizou. Gill
arremessou uma bola de fogo em Ryu, que apenas se defendeu. Ele tentou chutar o
karateca, mas este, com muita rapidez, jogou um poderoso ataque nele, que derrubou-o
no chão.
– Shinkuu... Hadouken!
– Pô, o mesmo nome do meu golpe... – Kaneda comentou sorrindo.
– Ótimo golpe... – Gill sorriu, se levantando.
Ryu retribuiu o sorriso. E se pôs em posição de defesa novamente. Mas dessa vez
Gill foi mais esperto, jogando uma rajada de gelo contra seu oponente. Ryu ficou
congelado, e nada pôde fazer.
– Droga, Ryu! – Iori disse por impulso.
– Ele está aqui mesmo! – disse Kaneda, virando-se para a direção de
onde veio a voz.
Gill se levantou no ar. Asas apareceram em suas costas. Se todos tinham certeza
de que Gill não era um deus, começaram a duvidar. Um luz saiu de seu corpo e acertou
Ryu, jogando-o longe.
– Mas o quê...? Ih, olha o loirão! O cara ‘tá parecendo um anjo...!
– se assustou Hwoarang.
Ryu demorou para se levantar. Gill, já no chão, estava ofegante. Mas sorria. Ryu
o olhou com um pouco de medo. Gill partiu pra cima, acertando um soco e dois chutes,
todos defendidos por Ryu. Depois do último chute, Ryu jogou a perna de Gill para
longe, desequilibrando-o. Gill tentou continuar seu ataque com um soco giratório,
mas Ryu o levou para cima.
– Shin... Shoryuken!
– De novo! – Kaneda falou. Hwoarang e Sakura riram.
Gill gemeu um pouco de dor. Com muito esforço, se levantou. Ryu se pôs em posição
de luta novamente. O suposto deus sangrava pela boca. Tinha uma expressão cansada.
– O que eu queria ver eu já vi. Nos encontraremos futuramente, Ryu. –
ele sorriu e se foi.
– Mas... Não entendo... – Ryu se assustou.
– Bom, acho que é campeão, Sr. Ryu. – falou o juiz principal.
– Ele acredita mesmo naquilo... – falou Guy, segurando-o pelo braço.
– Me desculpe pelo julgamento que fiz de você, Gill.
– Parece que está caindo na realidade, jovem ninja.
– Não, hehe... Não haverá Revolução!
– Ainda bem que descobri que é um escolhido a tempo, Guy. Com essa falta de
crença, dificilmente seria descoberto. Mas me lembrarei de você. – Gill sorriu.
– Touché! – o ninja fez um sinal de positivo com a mão.
Ryu levantou o braço, mas não estava feliz. Kaneda, Hwoarang, Sakura, Guy e Chun
Li o parabenizaram. Iori, aproveitando o momento, se foi. 'Já esperava isso... Mas
Gill me surpreendeu!', ele pensava.
Na manhã seguinte, Ryu conversava com Chun Li em seu quarto. Ela já o aceitava como
ele era, e sabia que seria uma nova despedida. Mas ela era feliz com a vida que
tinha. Era feliz com o amor que tinha.
– Chun Li...
– Já sei, vamos nos despedir novamente! – ela sorriu, mesmo não estando
feliz.
– S-sim... Quando te visitei em Pequim, depois da minha primeira luta, me
encontrei com Oro, o homem que foi derrotado por Gill. Conversamos muito. Ele vai
me ensinar algumas coisas. É o último mestre de um estilo de luta, e ele não quer
que sua arte morra com ele.
– Entendo... Bom, então também vou partir. Mas quando puder me ver, já sabe
onde estarei, não é?
– Quando puder passarei em Pequim!
Ela sorriu. Os dois se beijaram. Ryu, que já tinha arrumado suas coisas, partiu.
Mas não sem antes se despedir de Kaneda, Sakura, Hwoarang e Guy. O bushin ainda
estava muito ferido pela luta com Ibuki. Chun Li também arrumou suas coisas e se
foi, se despedindo de todos.
– Guy, por que não quer que eu te cure? – perguntou Kaneda.
– Não... Você deve reservar suas energias para a batalha que está por vir.
– Batalha...?
– Olhem isso!
Ele tirou um envelope do bolso. Foi abrindo. Era uma carta. Entregou para Hwoarang.
O coreano a leu com muita raiva. Também sentia um pouco de medo. Com certeza, era
o momento. Mas não lutaria só por ele, e também por Cammy.
– O que é isso? – perguntou Kaneda.
– Garuda. Eu estou indo. Vou salvar Cammy!
– Eu vou com você!
– Eu também! – disse Sakura.
– Não, você fica! Não pode lutar... Lembre-se, o Ryu disse pra evitar emoções
fortes!
– Mas ficarei preocupada...
– Não se iluda... Só vou assistir... E evitar a morte de Hwoarang. –
ele sorriu.
– Hwoarang, sem que você soubesse, eu trouxe a Cammy para o Japão. Eu me encontrei
com Garuda em Metrocity, pois ele esperava que você fosse pra lá. Eu não sei porque
ele cismou justo com você, ele não quis dizer. É melhor levá-la, pois somente ele
pode curá-la...
– ... Obrigado, Guy... – ele sorriu. – Vamos, Kaneda?
– Sim.
– Cammy está em Osaka. Lá vocês a pegam e levam-na. Garuda irá curá-la, e
depois você terá que lutar com ele, Hwoarang. Eu não sei o que ele quer, mas boa
sorte.
– Eu não o deixarei morrer, Guy! – assegurou Kaneda.
Eles so foram, sumindo no horizonte. A carta falava que a morada de Garuda era nas
proximidades de Osaka. Na cidade, pegaram a moto de Kaneda e foram o mais depressa
possível. Enquanto isso, no aerporto de Osaka, o telefone celular de Iori tocou.
– Alô.
– Oi, Iori. Aqui é o Guy.
– O que houve?
– Eu sei que não quer ajudar seus amigos, mas achei que deveria saber. Eles
foram atrás de Garuda, nas proximidades de Osaka.
– Osaka?! Eu estou em Osaka!
– Bom, eu acho que Urien estará com Garuda... Não tenho certeza. Só sei que
será perigoso.
– Isso não tem a ver comigo mais.
– ... Se quiser ajudá-los, estarão numas terras muito sombrias no km 13 da
estrada Norte.
– Até mais, Guy.
– Até.
Iori foi seco. Mas no fundo, ele temia por Kaneda e Hwoarang. Ficou pensativo. O
que faria? Olhou para sua passagem. Calcutá podia esperar. Pullum podia esperar.
Agora tinha algo para fazer! Olhou para a espada. Sorriu. A luta ia começar!
Enquanto isso, Guy conversava com Sakura no dojô de Ryu:
– Entendo... Quer explicações. Sim, tem razão, eu menti quando disse que não
sabia o que Garuda queria. Pode começar com as perguntas.
– O que é o Garuda?
– É um ser além de nossa compreensão, Sakura. Ninguém sabe de onde veio e
do que é feito, mas há muito tempo ele atormenta o lugar para onde Kaneda, Hwoarang
e, se Deus quiser, Iori foram.
– ... – ela ficou olhando para ele, que continuou a falar.
– Ele é um ser totalmente feito de energias negativas. (E era um dever só
MEU detê-lo...)
– ... E o que ele fez com Cammy?
– Ele quebrou a ligação do corpo com a alma... Geralmente faz isso para quebrar
o espírito de poderosos guerreiros. E a razão de sua existência será semear a destruição.
Mas Rose estava ajudando Cammy a se manter forte.
– E ela acordará mesmo? – Sakura estava preocupada.
– Sim. Não é do interesse de Garuda levá-la. Ele até queria levar Kairi, e
há rumores que estava atrás de Akuma. Mas não Cammy. Só o fez para atrair Hwoarang.
E ele o fará, pois acredite, ele quer enfrentar Hwoarang! E não só Hwoarang.
– ... E por que você ligou pro Iori?
– É essencial que ele esteja lá. A batalha se repetirá! – ele se levantou
e deu as costas para ela.
– Batalha...? Guy, volte aqui! Me explique isso melhor!
A jovem saiu correndo em sua direção. Enquanto isso, em Osaka, Kaneda e Hwoarang
apanhavam Cammy com alguns homens do M-12. Kaneda a pegou no colo e foi voando,
enquanto Hwoarang foi em sua moto. 'Cammy... Vou te salvar... Só queria saber porque
eu!', ele falou, quando a velocidade da moto jogava seus cabelos para trás. Mal
sabia Hwoarang; ele teria muito mais respostas do que imaginava e até mesmo do que
queria...
Japão, Proximidades de Osaka
Kaneda e Hwoarang estranharam como o lugar era sombrio. Apesar do dia estar iluminado,
algo os amedrontava. Um Chi muito maligno saía daquele lugar. Os dois caminharam
e atravessaram uma pequena elevação no terreno que os impedia de ver o que havia
adiante. Kaneda estava sentindo uma energia conhecida – Iori -, mas nada comentou.
E enfim viram Garuda.
Era um local completamente estranho. Uma construção meio abandonava cercava o estranho
ser. Árvores e animais pintados, de uma forma ridícula, nas paredes, parecendo adquirir
vida, se movimentavam intensamente – o que fez Kaneda, Hwoarang e Iori, que
os seguia escondido, arregalarem os olhos. 'Onde diabos eu vim parar?', eles pensavam.
– Estou aqui, Garuda! Não sei qual é a sua, mas cumpra sua palavra! –
gritou Hwoarang.
– Sim. – ele sorriu. – Só espero que cumpra a sua também.
Nesse momento, Cammy abriu os olhos. 'O que houve? Onde estou?', ela perguntou.
Kaneda a amparou. Hwoarang pediu, e ele foi com ela pra um pouco longe, num lugar
de onde a batalha não podia ser vista. 'Fique aqui!', ordenou Kaneda. Ele ia voltar,
mas alguém apareceu no seu caminho.
– Opa, opa! Onde pensa que vai?
– Urien?! Como escapou da batalha? E o que faz aqui? – Kaneda se mostrou
muito assustado.
– Humf... Garuda se interessou no meu potencial quando lutei com Gill. Gill
não é nada; ele é muito mais poderoso! E agora vou te matar, cumprindo as ordens
do meu mestre!
– Tudo bem... Mas vamos acabar logo com isso, pois tenho que ajudar Hwoarang!
– Não vai precisar... Ele vai morrer depressa!
– Antes de começarmos, me diga; por que eu? – perguntou Hwoarang.
– É simples: no passado, um ancestral seu me prejudicou muito. Passei centenas
de anos sofrendo por causa dele! E agora me vingarei! – ele gritou.
– Ancestral...?
– Chega de conversa!
Hwoarang preparou a perna do flamingo enquanto Garuda desaparecia e aparecia na
sua frente. O monstro executou um Soco do Dragão e Hwoarang tentou se defender,
mas ele era muito rápido! O coreano foi jogado longe pelo golpe, e antes de poder
se recuperar levou três chutes na cara. Não se levantou mais.
– Agora vou brincar um pouco com você... Vai pagar por tudo que me fez sofrer!
– Garuda preparou mais um golpe...
Lá fora, Urien derrubou Kaneda com uma poderosa bola metálica. Ele agonizava no
chão, mas o desertor saltou sobre ele para quebrar sua coluna. No entanto, algo
aconteceu. Ou melhor, alguém. O Chute Voador de Cammy jogou Urien longe.
– Vá, Kaneda, ajude Hwoarang!
– C-cammy... Está bem?
– Sim! Não sei o que está havendo, mas vá ajudá-lo!
– Pra dizer a verdade, nem eu!
Ele terminou de falar e se foi. Ela olhou com raiva para os olhos de Urien. Enquanto
isso, Garuda olhava raivoso para Iori, que tinha acertado-o com o seu poderoso Fúria
do Dragão, e mesmo após o demônio defender ele tinha sofrido muitos danos.
– Você aqui, Iori Hakushu?
– Humf... Soube que tinha mais um servicinho a ser feito. – ele sorriu.
– É um problema muito maior do que imagina! – gritou Garuda. Ele acertou-o com um Soco do Dragão, jogando-o longe. Iori, muito ferido, tentava se levantar, mas logo recebeu mais um ataque; três chutes voadores – assim como Hwoarang, mas ele se defendeu. Nesse momento, Kaneda também apareceu. Ele, ao ver Hwoarang no chão, invocou seus poderes e fez uma rápida cura nele, deixando-o acordado uma vez mais. Ao ver Kaneda, Iori e Hwoarang unidos, olhando pra ele, Garuda se lembrou do passado. E sorriu.
– Vocês três novamente... Mas dessa vez será diferente... Dessa vez vou me
vingar!
– Novamente...? – Kaneda não entendeu.
– Já que logo vão morrer, contarei toda a história para vocês. Há 400 anos,
aqui mesmo em Osaka, três idiotas apareceram no meu caminho. Esses três idiotas
não concordavam com o destino inevitável dos grandes mestres de artes marciais,
de morrerem nas minhas mãos. Um deles era um sul-coreano chamado Yu, que tinha vindo
pra cá e logo se tornou amigo dos japoneses Takezo e Shun. Eles me enfrentaram numa
noite chuvosa. E eu ia os derrotar. Tudo teria acabado ali. Mas eles tinham vindo
prevenidos. Conheciam minha história. Conseguiram me prender num lugar muito ruim.
Um lugar que eu só podia chamar de inferno!
– ...
– ...
– ...
– Takezo, – olhou para Kaneda – Shun, – olhou para Iori
– e Yu. – terminou olhando para Hwoarang. Pensei que nunca mais encontraria
vocês. Ou melhor, seus descendentes. E os descendentes da geração anterior, quando
eu despertei, sabiam como me selar novamente. Mark, Seijuro e Jhun... Hahahaha...
Mas não tiveram a chance.
– Desgraçado! – gritou Iori.
– Espere... Deixe ele contar toda a história. – Kaneda estava com raiva,
mas queria saber de tudo.
– Sempre estive vigiando. Jhun estava pelo mundo, aprimorando suas técnicas,
e Mark e Seijuro investigavam a Shadaloo. Eles suspeitavam que eu fosse o mestre
de M. Bison, suspeitavam que só eu pudesse ter dado aqueles poderes para ele. E
estavam certos! A pedra onde me prenderam caiu nas mãos de Bison e ele me despertou.
– ... – Hwoarang só podia sentir raiva.
– No entanto, os peguei antes de chegarem até a verdade. E Jhun tinha saído
pelo mundo. Não puderam completar o ritual. E morreram sem passá-lo para seus filhos!
Como o destino podia ser tão bom? Não sei. Só sei que terminei matando a mulher
de Jhun e o pai do jovem Ryuji, que sabiam da história e tentaram impedir a morte
dos dois.
– O quê?! – Hwoarang olhou com muita raiva para a criatura.
– Pobre moça... Pobre Ryuji... Semeei o Shun Goku Satsu em seu corpo e não
pode estar aqui para realmente vingar o pai.
– Meu... Pai... – Kaneda lacrimejou.
– Desesperado, Jhun passou o seu Tae Kwon Dô para seu filho, Hwoarang. E Jhun
foi esperto, mudando o seu nome para Kim. Uma desculpa idiota e Hwoarang aceitou.
Sendo jovem, nem se lembrava mais. Ele, mais que depressa, ao saber que Kaneda lutaria
no Street Fighting, enviou seu filho. Só os garotos poderiam completar o ritual.
E outros também foram espertos. Souji, irmão de Seijuro, passou a se chamar Yamazaki,
e ensinou a Iori os poderes do fogo. Joutaro, o pai de Mark, passou a se chamar
Takashi e foi para Okinawa. Nem mesmo as mães de Kaneda e Iori sabiam disso, e a
história se tornou convincente demais. Mas Kaneda, Iori e Hwoarang não mudaram de
nome... E num certo dia o taekwondista saiu sozinho, numa boite em Okinawa. Não
se lembra de mim te surrando quando foi ao banheiro? Hein?!
– ... – Hwoarang começou a ter flashes de memória.
– É uma pena que escapou do meu controle mental. Uma pena mesmo... Mas agora
já sei de tudo.
– Vai pagar! – gritou Hwoarang.
– Não, não vou não. Vocês não sabem o ritual, e nem mesmo juntos têm o poder
de me matar! Ainda por cima estão feridos! Vão morrer, e como ninguém mais sabe
o ritual, vou ficar livre para sempreeeeeee! Hahahahahaha!
Kaneda concentrou seu Chi e atirou seis bolas de fogo em Garuda. Iori fez o mesmo
e atacou com o seu Fúria do Dragão, com as chamas em forma de dragão consumindo
a criatura. Hwoarang, muito furioso também, atacou-o com o seu Shin Dankuukyaku,
acertando-o quatro vezes.
– Shinkuu...
Hadouken!
– Destroyer
Raging Dragon!
– Shin...
Dankuukyaku!
– Hahahahahaha!
Como há quatrocentos anos... Mas agora
não há ritual algum! – Garuda tinha bloqueado todos os ataques!
Ele saltou, desferindo três chutes, acertando cada um dos três com um chute. Estavam
feridos, agonizando e quase sem energia. Força bruta não adiantaria. E então Kaneda
teve uma idéia...
– Me dêem cobertura! – ele gritou.
– Tramando algo, karateca? Humf, quero até ver do que é capaz!
– Iori! Hora de mostrarmos um furacão duplo! – sorriu Hwoarang, mesmo
estando à beira da morte.
– Boa idéia! – Iori jogou sua espada no chão.
Iori já ia subir aos céus no seu Chute Furacão, mas teve uma idéia. Hwoarang se
pôs de cabeça para baixo, e Garuda ia bloquear o seu ataque. Mas Iori, antes, jogou
uma onda de choques no chão, e Garuda se desequilibrou, levando todos os chutes
do Chute Furacão. Nesse momento, Kaneda atacou. E com uma rajada de gelo!
– Agora, usem seus melhores ataques! – o elementalista do ar gritou.
– Shin...
Dankuukyaku!
– Destroyer
Raging Dragon!
– Shin... Shoryuken!
Os golpes vieram de todos os lados. Enquanto pela esquerda foi bombardeado pelos
quatro poderosos chutes de Hwoarang, pela direita o dragão flamejante de Iori o
torrava. E por fim, pela frente Garuda tomou uma seqüência de versões e adaptações
do Soco do Dragão. Partículas de gelo voaram por todos os lados.
Uma luz cegou a todos. Com certeza, a morte de um morto-vivo como Garuda, tão poderoso
assim, era algo que não se via com freqüência. Depois da luz ter cessado e da fumaça
ter se dissipado, sua armadura pôde ser vista no chão. As peças jogadas, agora totalmente
mortas.
– Ei, rapazes, tudo bem com vocês? – soou a voz de Cammy, vitoriosa
da luta com Urien.
– Cammy! – gritou Hwoarang, juntando suas últimas forças para correr
até ela.
– Humf... Acho melhor deixarmos os pombinhos a sós. – Iori embanhou
a espada.
– É... Vamos pegar o Urien, ele deve ser preso.
– Achei que fosse te perder... – Hwoarang abraçou-a com muita força.
– Mas me conte, o que aconteceu? Quanto tempo fiquei apagada? – ela
retribuía o abraço.
– É uma longa história...
Japão, Zona Rural, 15 de Janeiro
Com o fim da batalha, todos ficaram se recuperando. Pullum, sabendo das novidades,
foi até a casa de Ryu para ver Iori. Foi um reencontro caloroso. Mas o tempo estava
passando. Guy já se despedia. E Cammy estava tendo uma importante conversa com Hwoarang:
– Amor, eu liguei pro Sr. Stefen hoje cedo... Eles me dispensaram. Me cansei
dessa vida!
– Sinceramente? Vou fazer o mesmo. Já chega pra mim também. Só quero ficar
com você agora... Ter "Hwoarangzinhos" e "Cammyzinhas". De repente,
ser feliz, né? Acho que todos nós merecemos isso.
– Que bom! – ela abraçou-o com força. Esperava isso dele.
– ... – ele a beijou como nunca havia beijado antes, afinal, nunca tinha
a perdido antes!
– Sabe, eu sempre quis conhecer o Brasil, o Rio de Janeiro, deve ser muito
lindo!
Enquanto isso, em outro quarto Iori tinha uma conversa com Pullum que não era tão
agradável quanto a de Hwoarang e Cammy:
– Mas por quê, Iori?
– Olha, eu não quero ser assim. Eu quero fazer meu amanhã, trilhar meu caminho.
– ...
– Por favor, Pullum, me entenda.
– No fundo acho que te entendo sim. – ela sorriu, mas com os olhos cheios
de lágrimas.
Ele a abraçou. E se beijaram. Logo estavam na cama, se amando. Só para ressaltar,
até este momento a jovem Pullum era virgem. E ela se entregou a Iori demonstrando
que o amava realmente, e que sempre seria dele.
– Eu prometo que nos veremos novamente... Ainda há muitos yakuzas na Índia!
– ... – ela sorriu.
Algumas horas depois, fora de casa, todos se reuniam (Kaneda, Sakura, Iori, Pullum,
Hwoarang e Cammy), no que parecia ser mesmo uma despedida. Mas todos sabiam que
não era. Sabiam que a vida os faria se encontrar novamente, mesmo com o seu destino
já cumprido.
– Pra onde vocês vão agora, Hwoarang? – perguntou Kaneda.
– Olha, meu velho, eu acho que vamos tirar umas férias prolongadas, sabe...
Minha gatinha 'tá afim de pegar um bronzeado lá no Rio de Janeiro! – Hwoarang
já estava no clima de festa.
– Ah, não vou poder me vingar mais... – Sakura brincou. – Mas
qualquer dia apareço por lá pra infernizar a lua-de-mel de vocês! – ela deu
o sorriso que só ela tinha.
– Só você mesmo, Sakura! – Cammy também riu.
– E vocês, Iori?
– Eu continuarei minha jornada... E Pullum voltará para casa.
– Entendo... Então é adeus novamente, não é? – Kaneda olhou para os
lados.
– A gente se esbarra, galera. Nossos filhos vão treinar juntos, não é mesmo?
– Hwoarang olhou para Kaneda e Sakura. – E o Iori vai ficar pra titio!
– e ele brincou, mesmo naquela hora.
– Humf... – Iori deu um pequeno sorriso.
Kaneda e Sakura os acompanharam até o aeroporto. Iori viajou com Pullum para a Índia,
e de lá continuaria sua jornada. Já Hwoarang e Cammy, como já estava decidido, foram
para o Brasil. Com certeza teriam férias bem prolongadas mesmo!
Japão, Zona Rural, 1º de Fevereiro
Desde que os outros se foram, Kaneda e Sakura trataram de cuidar de sua recuperação.
Como Ryu tinha recomendado, ela evitou emoções fortes e fez sessões de meditação
diárias. Kaneda a acompanhava nisso o tempo todo.
Como em todos os dias, nesse primeiro de fevereiro eles tinham meditado. Mas, depois
do almoço foram dar uma volta na cidade. Ao voltarem, sentaram na grama do jardim
e começaram a namorar um pouco. Numa das pausas, Sakura perguntou algo que a consumia
desde que Akuma fora derrotado, Fênix preso novamente e Garuda partido.
– Kaneda, será que ainda teremos mais aventuras?
– Você não consegue viver sem isso, né? – ele sorriu.
– Sim... Não sei se seria feliz tendo uma vida normal.
– Eu não sei se teremos mais aventuras, mas depois de tudo que eu passei,
só sei que serei feliz com o que a vida me der.
– É... Mas sinto que acabou mesmo...
– Não, Sakura. Diferente das histórias contadas por homens, a vida, quando
acaba, geralmente não tem um final feliz. É claro que continuaremos, mas pode ter
certeza que tomaremos um novo rumo. Assim como quando finalmente acabamos com a
Shadaloo, e as coisas mudaram tanto. Tivemos novos problemas, e agora os superamos.
Por isso não pense que as aventuras acabaram. Estou com 27 anos, e você apenas com
23. Na nossa profissão, nunca se vive sem aventuras.
Ela sorriu. O que Kaneda dizia era verdade. Mesmo que Sakura fosse ficar um bom
tempo sem lutar, até se livrar da energia maligna que a consumia, ainda podia esperar
um grande futuro. Kaneda a beijou.
– É estranho...
– O que houve, Sakura?
– Sabe, parece que vocês vieram a esse mundo para cumprir um grande destino...
– O que quer dizer? – Kaneda se mostrou interessado.
– Você e Iori tinham um desejo de vingança, que era o que os fazia viver.
Hwoarang não tinha, mas logo sofreu nas mãos da Shadaloo e também teve seus motivos
para querer se vingar. Depois que acabaram com isso, vocês todos ficaram meio sem
rumo. Mas algo aconteceu. A origem do mal apareceu, e estavam preparados para vencerem
novamente! – ela terminou de falar e deu um largo sorriso.
– Hum... Talvez esteja certa... E talvez esse destino ainda não tenha sido
cumprido!
– ...
– Mas agora vamos, você tem que continuar a meditação para se livrar disso.
– ... Tem razão!
Os dois saíram do jardim e foram para a fonte, lugar onde Ryu – em mais uma
jornada de aperfeiçoamento agora – costuma meditar quando está aqui. Enquanto
Sakura meditava Kaneda observou o pôr-do-sol. Ele sorriu. Sempre gostou de vê-lo.
O pôr-do-sol dava a Kaneda uma força extra para viver o amanhã. Uma força extra
para experar um amanhã. E ele sabia que era abençoado. Passou pelas mais duras batalhas
do mundo e sobreviveu. Sim, perdeu seu pai, perdeu Key e mais gente, mas sobreviveu.
E isso já era motivo para comemorar.
Então de repente se lembrou de algo. Acariciou os cabelos de Sakura e se virou,
fazendo o caminho para a arena sobre o dojô. Sakura, percebendo que se afastava,
deixou a meditação e se virou para ver o que ele ia fazer.
– Kaneda... O que foi?
– Como eu te disse, Sakura, a vida continua. E eu tenho uma luta pendente
com Hwoarang. Preciso me preparar!
Ela sorriu. Era isso que ela queria. E era isso que Kaneda devia querer também.
Um motivo para continuar. Um motivo para viver o amanhã. Um motivo para fazer o
seu amanhã. Ela continuou sua meditação. Afinal, tinha um longo caminho de pela
frente! |