Conspiração Total
Apêndice: Batalhas
do Passado
Japão, Osaka, 10 de Outubro de 1600
Amanheceu um dia muito frio. Estava quase nevando. Mesmo assim os jovens Takezo,
Shun e Yu atravessavam uma grande planície atrás de um velho mestre. Atrás do único
homem que podia ajudá-los. Em pouco tempo chegaram.
Era uma casa simples. Normal para um mestre zen que queria terminar os seus últimos
dias com um merecido descanso. Longe dos problemas. Longe da civilização. E, principalmente,
longe de um mal que assombrava a cidade. Longe de Garuda!
– Entendo... Querem detê-lo.
– Sim. Me disseram que o senhor sabe como fazê-lo. – apontou Takezo.
– Sim. Mas é algo muito arriscado.
– Não temos medo! – o irritadiço Shun já teve seu humor alterado.
– Olhe como fala.
– Ah, me deixe em paz, Yu!
Com certeza, nem passava pela cabeça de Yu e Shun que 400 anos depois seus descendentes
teriam a mesma raiva que eles tinham um do outro. Uma antipatia que contrastava
com a amizade existente entre os dois. E Takezo, no meio, apenas mediava os conflitos.
– Assim não conseguirão. Terão que agir em equipe! – o velho Takuan
apontou.
– Me desculpe. Eles... Nós agiremos em equipe. Mas por favor, ensine-nos a
aprisioná-lo!
Os três estavam desesperados. Procurar Takuan já mostrava que não tinham outra alternativa.
Garuda era um ser muito poderoso, um ser que não pertencia a esse mundo. Na verdade,
acreditava-se fortemente que não pertencia a mundo algum. E ninguém entendia os
seus objetivos. Ele apenas aparecia nas academias, enfrentava os mais poderosos
guerreiros e os matava. Mas isso tinha que acabar.
– Tudo bem. Mas só devem usar isso como última opção, estão entendendo?
– Sim! – a voz dos três soou ao mesmo tempo.
– Esse ritual só pode ser feito por três pessoas, porque emprega muito Chi.
É estranho, talvez nem seja coincidência, mas vocês são as pessoas certas para isso.
Os três poderes... Era assim comigo e os pais de vocês... Mas Garuda os matou. Fizemos
errado... – ele abaixou a cabeça.
– Nossos...
– ... Pais? – Shun completou a frase de Takezo.
– Isso mesmo. Só essas três famílias podem selá-lo.
– M-mas... Onde eu entro na história? – perguntou Yu.
– Humf... – ele sorriu. – A vida nos prega peças, meu neto.
– ... – todos arregalaram os olhos, em silêncio.
– Seu pai foi para a Coréia do Sul para fugir do seu destino. Não queria ser
morto por Garuda. Um covarde? Talvez. Mas o que importa é que você nasceu e que
veio para cá.
– O senhor... Meu avô... – ele lacrimejou.
– Sim. Mas não temos muito tempo para reconciliações. – com certeza
era muito amargo. – Agora passarei a técnica para vocês. – Takezo, Shun
e Yu ficaram em silêncio, sentados. – Primeiramente, tenho que ver se estão
prontos. Precisam ser mestres em seus poderes.
Ele passou a analisá-los. Sentia seus poderes. Ele sorriu para Takezo e para Shun.
Estavam prontos. Mas não Yu. Então ele concentrou o seu Chi. O que faria? Logo Takezo
e Shun perceberam e gritaram. Boom! O raio de energia atingiu o peito de Yu, jogando-o
longe. Depois de alguns segundos, começou a se levantar.
– Mestre...
– Yu. Eu já sei o que vai perguntar. Ataquei-o para despertar seus poderes.
Na verdade, seus poderes psíquicos são muito grandes, mas ainda não tinham sido
despertados. Esse é o poder de sua família. É bom que passe isso para seus filhos
e descendentes.
– M-mas... – ele ainda não entendia como tinha um poder tão grande,
agora despertado.
– Mas tome cuidado. Muitos querem esse poder. Talvez, no futuro, seus descendentes
sofram por terem isso dentro deles.
Parecia que ele profetizava o destino de Hwoarang nas mãos da Shadaloo, mas era
apenas um palpite. Yu agradeceu e sorriu. Depois ele se levantou, pegou um pergaminho
e entregou nas mãos de Takezo. 'Cuide bem disso', ele disse. 'Passe adiante. Agora
vou ensiná-los', e ele se sentou. Ele ajudou-os por toda a tarde, e o ritual consistia
em juntar seus poderes para quebrar a realidade e aprisionar alguma criatura em
algo morto.
Eles tentaram, mas estava muito difícil. Quase impossível. No entanto, quando o
sol já estava se pondo, eles conseguiram. 'São mesmo as pessoas certas. Aprenderam
muito rápido.', o velho mestre disse. Já estavam partindo quando Takezo se lembrou
de algo.
– Ah, mestre?!
– Diga, jovem Takezo.
– Se, por um acaso, morrermos na batalha, o que acontecerá?
– O poder para selar Garuda morrerá com vocês. Devem ensiná-lo para seus filhos
antes, por isso eu dei o pergaminho. No entanto, devem ser seus filhos, homens da
mesma linhagem, que carregarão o poder que há em vocês. E somente os primogênitos
terão poder suficiente para completar o ritual.
– Então se alguém morrer sem ter filhos...
– O poder morre com ele.
– Entendo... Mestre, por que confiou na gente e passou esse poder tão sagrado?
– Senti que poderiam selá-lo. – ele sorriu.
Takezo sorriu de volta e se virou. Os três se foram, refazendo o tortuoso caminho.
Resolveram não passar em casa, e apenas deixaram bilhetes nas portas. Takezo e Shun
tinham jovens filhos, Genjiro e Yamagata, respectivamente. Eram dois garotos muito
precoces, já nos seus 10 anos de idade e quase dominando por completo seus poderes
elementais. Já Yu, não tinha filhos. Desde que chegara em Osaka se apaixonou pela
jovem Agomi, filha de um dos seus poucos inimigos. Eles até tiveram uma noite de
amor, mas depois ela foi proibida de vê-lo. E isso o preocupava. E se morresse?
Enfim chegaram numa campina com algumas árvores. Eram oito, no total, fazendo uma
espécie de círculo. Eles podiam sentir a poderosa presença de Garuda. Sacaram suas
armas. Takezo sacou sua fina katana – aquela que mais tarde seria dada a Iori
de presente, por parte de Kaneda -, Shun o seu kusari-gama e Yu um bastão. Enfim
Garuda apareceu. Era um ser muito estranho, trajando uma armadura de guerra samurai
com um elmo. Dentro da armadura, apenas o vazio.
–
Eu queria enfrentá-los, mas vejo que vieram até a mim.
– Nessa noite você morre! – gritou Shun, agitando sua arma.
– Humf... Enfim terei alguma diversão. Os três melhores de Osaka, e ao mesmo
tempo!
– Vamos! – Yu partiu pra cima, tentando acertar os seus pés.
No
entanto, Garuda desapareceu. Os golpes de Takezo, Shun e Yu acertaram o ar. E ele
reapareceu. Eles tentaram atacar novamente, mas levaram três chutes na face, um
em cada um. Muito feridos, deixaram suas armas caírem. Garuda sorriu e pulou em
cima do bastão, quebrando-o. Além disso apanhou o kusari-gama e jogou-o longe, num
rio. Mas se distraiu demais.
Takezo gritou enquanto sua espada atravessava o corpo de Garuda. O monstro se virou,
levantou-o pelo pescoço. Estava pronto para acabar com ele. Nesse momento, uma rajada
de fogo o atingiu. Era Shun!
–
Largue o meu amigo!
– Você vai pagar pela sua insolência!
Garuda
saltou sobre ele, mas levou um ataque nas costas. Yu. Um poderoso chute duplo, proveniente
de seu Tae Kwon Dô, arte que ainda se desenvolvia no potencial de combate desarmado.
Mas já era muito eficiente. Garuda percebeu que não seria tão fácil assim. Teria
que apelar.
–
Como vê, nós juntos podemos acabar com você! – gritou Takezo.
– Humf... A diversão apenas começou.
Garuda
desapareceu novamente. Os três ficaram ali, esperando. Ele então repareceu, e com
a espada de Takezo empunhada. O golpe foi muito forte, arrancando a perna direita
de Yu! Ele gritou de dor. O sangue jorrou.
Takezo e Shun, furiosos, o atacaram. Mas ele sumiu uma vez mais. Um novo golpe foi
desferido. E o braço direito de Shun também caiu no chão. Ele agonizava. Por fim,
Takezo, já totalmente assustado, levou o golpe final. Suas entranhas caíram no chão.
–
Hahahahaha! Viram? Eu sou invencível!
A chuva começou a cair. A água era vermelha, levando o sangue dos três. Garuda fincou
a espada no chão. Por mais que fossem preparados, Takezo, Shun e Yu não podiam fazer
mais nada. Tinham perdido. Mas não podiam perder!
Se lembraram de suas mulheres. Takezo e Shun se lembraram que tinham filhos e que
suas esposas, Otsu e Akemi, eram lutadoras, e seriam os próximos alvos. Yu se lembrou
também que Agomi e seu pai eram grandes mestres num estilo. Logo morreriam.
–
Temos que acabar com isso! – gritou Takezo. – Concentrem-se!
– O quê?!
Garuda
não entendeu. Mas os três, deitados, invocaram seus poderes. E um grande círculo
de energia apareceu. Era um furacão de fogo com raios psíquicos. Garuda então se
lembrou do ataque anterior. Se lembrou de Takuan, que jurou ensinar o poder para
as pessoas certas. Por que não tinha matado Takuan?!
–
Nãããããão!
A energia
atingiu o monstro. Depois se dissipou. No chão apenas uma pedra, com um desenho
do elmo do Garuda. Fora aprisionado na primeira coisa que tinha aparecido. A espada
de Takezo estava fincada no chão também. Nesse instante, chegaram Otsu, Akemi e
Agomi.
–
Oh não!
– O que houve aqui?
– Yuuuu!
Os gritos puderam ser ouvidos. Com suas últimas forças, Takezo, Yu e Shun contaram
a história. Takezo entregou o pergaminho para Otsu e pediu que o ritual fosse passado
adiante. Tinham perdido muito sangue. Logo estariam mortos. Elas e os filhos compreenderam,
e choraram muito. Yu se lembrou do pior.
–
E eu não tenho filhos... O ritual vai morrer.
– Está... Enganado... – Agomi ainda chorava. – Estou esperando
um filho seu...
– ... – ele abriu um largo sorriso, e encostou a mão na sua barriga.
– quê... Bom... Se Garuda despertar... – Takezo já estava sem forças.
– Meu filho acabará com ele! – Shun sorriu, mesmo morrendo.
Eles ainda respiraram o ar do mundo por mais algumas vezes, e enfim morreram. Primeiro
Takezo, depois Yu e por fim Shun, que perdeu sangue num ritmo mais lento. Elas choraram
muito. Depois de algum tempo, já tinham recuperado as forças. Otsu apanhou a espada
no chão; seria de Genjiro. Akemi foi atá a cidade. Buscou suas coisas mais importantes
e as de Yamagata, Genjiro e Otsu, além de buscar os garotos. Elas conseguiram um
transporte e foram com a grande pedra para o porto. Pegaram um navio.
–
Onde deixaremos isso? – perguntou Akemi.
– Meu pai era um mercador. Eu conheço uma ilha deserta perto da costa tailandesa.
Se chama Mriganka.
– E depois? – perguntou Agomi.
– Iremos para Tóquio. É o melhor que faremos. Mas, caso Garuda desperte, deveremos
ficar longe uma da outra, entenderam?
– Sim.
– Sim.
O navio
continuou. Em alguns anos seus filhos já passaram a cuidar delas, e não se preocuparam
com mais nada. O jovem Yu, o filho de Yu e Agomi, cresceu muito forte e poderoso.
Elas morreram sem ter grandes preocupações. O mesmo aconteceu com eles e futuras
gerações. Mas...
Ilha de Mriganka, 7 de Novembro de 1973
Essa ilha sempre foi desabitada. Em 1600 três jovens e alguns homens apareceram
nela e largaram uma grande pedra. Mas nada mais. No entanto, esse não era um dia
comum. Uma revolução ocorreu na Tailândia, e o ditador M. Bison foi deposto. Numa
fuga desesperada, ele encontrou Mriganka. Seus 200 soldados começaram a vasculhar
o local.
– Senhor.
– Diga, Major! – Bison se virou. Estava furioso e entediado.
– Encontramos algo interessante, senhor.
– O que é?
– Uma pedra... Emana uma certa luminosidade e também alguma energia. Os homens
temeram que fosse radia...
– Ótimo! – um sorriso sádico encheu a sua face enquanto se levantava.
– Me leve até lá. Vamos ficar ricos vendendo plutônio para os russos e retomar
aquele país maldito!
Foi uma longa caminhada. Era uma escura caverna. M. Bison tinha ordenado escavações.
Os homens trabalhavam muito bem. Confiavam nele. Todos entraram na cúpula onde estava
a pedra. M. Bison sorriu. Mas não era plutônio.
– O que será isso...? Será radioativo?
– Estranhamos, senhor... Emite uma luz branca. – apontou um dos homens.
– Entranho... Ahn?!
'Vejo sua mente', soou a voz na cabeça de Bison. 'Você quer poder, não é? Todo tipo
de poder! O poder já mora em você, só precisa ser despertado...', a voz continuou.
Era sombria. 'Quem é?... O que é isso?!', falou M. Bison. Seus homens estranharam
ao vê-lo falando sozinho. Um raio saiu da pedra e o atingiu no peito. Com certeza
já era uma questão de tempo para Garuda escapar. O Chi de muitas pessoas o acordou
novamente.
– Ugh! – ele caiu no chão.
– Está bem, senhor? – os homens o ampararam.
Mas com certeza estava bem. M. Bison sentiu-se furioso, muito mais do que já estava.
'Me soltem, insolentes!', ele gritou. Raios psíquicos cruzaram o ar. Os quinze homens
que o cercavam caíram mortos instantaneamente. Mas Bison não se importou com a sua
atitude impensada. Se maravilhava com seu novo poder. Não só com ele, mas também
com a pedra e a misteriosa voz.
– O que há nessa pedra...?
'Eu libertei seu poder, agora me liberte!', a voz continuou. 'E por que eu faria
isso?', perguntou M. Bison, ainda mais preocupado com seus novos poderes. Concentrou
seu Chi e canalizou-o nas mãos. Sorriu. 'É simples: posso te dar muito mais. Vejo
que o ódio ocupa todo o seu coração. Através disso você terá a imortalidade!', Garuda
disse.
Um sorriso maior ainda ocupou a face do ditador. 'Como te libertarei?', ele perguntou.
'Segure com as duas mãos na pedra e canalize suas energias...', Garuda se animou.
Bison o fez. Ele sentiu que estava sendo drenado! Mas não foi muito. Apenas forneceu
o Chi suficiente para Garuda despertar. Um rastro de luz saiu da pedra, e uma figura
de energia se formou. Depois a luz se dissipou e ele virou uma sombra.
– ... – M. Bison não sabia o que dizer.
– Meu antigo traje... – Garuda falou após a sua antiga armadura samurai
entrar pela caverna e revestir o seu corpo.
– O que é você?!
– Humf, isso não vem ao caso. Mas agora te darei o poder que quer!
Garuda concentrou seu Chi e um ataque atingiu M. Bison. Ele caiu no chão novamente,
mas dessa vez não se levantou mais. 'Será que não será capaz de viver pelo ódio,
de dar vida a esse corpo sem vida e sem morte? Vamos, levante!', ele gritou. Os
olhos de Bison se abriram. Ele sentiu que não pertencia mais a esse mundo. Sentiu
que agora seria eterno.
Por um instante ele pensou em atacar Garuda e matá-lo. Mas podia sentir que não
seria capaz de fazê-lo. Ele se levantou e sorriu. Mas um fato o intrigou: ainda
tinha forma física! Por que Garuda não o tinha? Ele perguntou.
– Mas eu nunca fui um humano corruptível! Eu nasci assim. Nasci do ódio dos
humanos. Nasci de suas guerras, de suas matanças. Em você, apenas cortei o elo entre
a vida e a morte, entre o Yin e o Yang. Depois disso, se levantar e andar só dependia
de você.
– Intrigante... Há outros como eu? – ele perguntou.
– Atualmente não. Mas já senti poderosas energias em alguns cantos do mundo.
Cairo, Osaka... Ah, Osaka. Ainda me vingarei! – Garuda apertou aquilo que
deveria ser o seu punho.
– O que quer de mim? Nesse mundo tudo tem um preço.
– É muito esperto. Eu quero apenas obediência. Guarde minhas palavras: dessa
ilha nascerá o maior império do mundo. Você o comandará. Só precisarei de seus recursos
algumas vezes. Tenho assuntos pendentes com algumas famílias.
M. Bison sorriu. Por mais que não levasse isso que Garuda disse a sério, quis ver
até onde ele podia chegar. Em algumas semanas ele já tinha revelado um meticuloso
plano a M. Bison. E logo nasceu um novo país. M. Bison usou seus poderes para controlar
mentes e desviar muito dinheiro para suas contas. Se tornou poderoso novamente.
E, ao mesmo tempo, melhorou seus poderes. Cada vez estava mais forte. Mas ele temia.
O que Garuda ia pedir em troca de tudo isso?
Japão, Tóquio, 12 de Janeiro de 1977
Nesse dia, os amigos Mark e Seijuro acordaram muito preocupados. Mark era filho
de um japonês e uma norte-americana, mas tinha nascido em Seattle. Já Seijuro era
de total ascendência japonesa. Eram os descendentes de Takezo e Shun, respectivamente.
– É quase certo que ele despertou mesmo, Seijuro. – Mark falou.
– É... Essa foto está bem mal tirada, mas é melhor investigarmos. Mas o que
diremos para o pessoal?
Seijuro se referia a foto de uma turista que Mark tinha conseguido numa viagem a
Mriganka. Os dois conheciam a história. Os dois conheciam o ritual. E sentiam a
necessidade de investigar. Mark, naturalizado japonês após a morte da mãe, agora
era um policial, assim como Seijuro. Estavam investigando sobre um suposto despertar
de Garuda já há dois anos. Tudo começou com a Yakuza. Depois descobriram sobre ligações
com uma tal Shadaloo, e por fim essa foto. Decidiram ir investigar.
– Mas como assim, querido? – perguntou Kaori, esposa de Mark.
– É uma missão de nada. Só investigar alguns crimes.
– Quando você volta, papai? – perguntou seu jovem filho Kaneda.
– Logo. – ele sorriu, acariciando a cabeça do filho.
– Entendo... Boa sorte, então, amor! – Kyoko beijou Seijuro.
– Até mais, pai! E volte pra gente ter uma lutinha! – Iori, seu filho
de sete anos, sorriu e se foi.
– Eu voltarei...
– Não, vocês não podem fazer isso!
– Calma, Jhun. Vamos apenas investigar. – falou Mark ao telefone.
– Desliga logo isso. Fala pra ele que segunda a gente 'ta de volta. –
Seijuro já estava impaciente.
Jhun era da linhagem de Yu. Um exímio taekwondista, que rodava o mundo para se aperfeiçoar.
Ele estava acompanhando a história das suposições sobre Garuda, e temia que tudo
fosse verdade. Se lutassem, teriam que lutar juntos!
– Olha, Jhun, logo voltaremos. Agora tenho que ir, senão o Seijuro vai acabar
me deixando para trás. Até mais!
– Até... Droga... Que tudo seja mentira!
Mark e Seijuro caminharam por sombrias ruas, para chegarem até o aeroporto. Pegariam
um vôo para a Tailândia, numa pequena cidade costeira próxima de Mriganka. De lá,
iriam de barco. Em Mriganka, um novo país, já era grande a urbanização, e por isso
seria mais fácil para eles entrarem. No entanto, um fato os surpreendeu.
– Muito bem... Peguem-os! – gritou um homem vestido de preto que saltou
na sua frente.
– O quê?!
– Mas o que significa isso? – enfureceu-se Seijuro, vendo que estavam
cercados por quinze homens.
– Querem ir para Mriganka, não querem? Os levaremos para lá...
Enquanto isso, em Seul, Lya Quiann, a mulher de Jhun, mais uma vez se despedia do
filho Hwoarang. Ela, uma vez que Jhun estava sumido e sua carreira de lutador estava
em decadência, teve que aceitar um trabalho na sua agência de jornalismo que envolvia
Mriganka, o mais novo país do mundo. Seria perigoso. Um documentário secreto.
– Volte logo, mamãe!
– Eu voltarei, filho. Eu prometo. – ela o abraçou. Talvez a promessa
não pudesse ser cumprida.
Mriganka, Manhã de 13 de Janeiro
O lugar estava bem quente, diferente do frio do Japão nessa época do ano. Devagar,
aos poucos, Mark e Seijuro foram acordando, depois da surra que levaram na noite
anterior. Um homem olhava para eles. Se vestia como um ninja, apesar de estar sem
máscara.
– Olá? Enfim acordaram, rapazes.
– Quem é você? E onde estamos? – perguntou Seijuro.
– Meu nome não importa, e estão em Mriganka. Logo vocês morrerão. Mas isso
não cabe a mim nem a Yakuza; agora estão nas mãos da Shadaloo. Sintam-se honrados:
M. Bison virá pessoalmente ter com vocês! – ele sorriu, mas Mark sentiu uma
tristeza em seus olhos.
Ele se virou de costas. Depois de algum tempo, usou um comunicador e disse algumas
frases. 'Vamos!', ele disse, levantando Mark e Seijuro, que estavam com as mãos
amarradas para trás. Eles saíram da sala escura e perceberam que estavam no aeroporto.
Saíram pelos fundos. Logo foram jogados num carro preto.
Mark e Seijuro trocavam olhares. Por que não ouviram Jhun? Agora a morte dos dois
parecia ser certa. Eles cruzaram todo o país, e enfim chegaram em cima de uma grande
montanha, que mais tarde se tornaria o Monte Bison, onde as cabeças de Bison, Sagat,
Vega e Balrog seriam esculpidas. Mas agora, era apenas uma montanha rústica.
– Podem ir. – falou o yakuza, e só restaram Mark, Seijuro e ele.
– Eu não sei quem são vocês, mas o que queriam com a Yakuza? E o que queriam
com a Shadaloo? – disse M. Bison, aparecendo em seguida.
– ... – Mark nada disse, mas sentiu uma energia muito grande emanando
daquele corpo.
– Então estamos quites, porque não sei quem é você também não, cara! –
disse Seijuro.
– Solte-os.
– Sim senhor. – disse o yakuza, soltando-os.
– E então, vamos começar a nos divert...
Bison foi interrompido por um helicóptero. Quatro jovens surgiram do nada, terminando
sua escalada na pedra. Se surpreenderam ao ver que M. Bison e mais pessoas estavam
lá. Uma corda foi jogada. Três saltaram no helicóptero.
– Jin, pegue a moça! Ela está com uma câmera! – Bison gritou.
– Ah, então era você que fazia imagens daqui, não era... Escolheu um bom lugar
para fugir, mas terá um destino diferente dos seus amigos, e essa reportagem nunca
irá ao ar! – disse Jin, o ninja, agarrando-a.
– Me larga! – ela gritou e acertou um forte chute na região genital
de Jin, que caiu no chão. – Hiro, pegue a câmera! – e ela a arremessou
para o helicóptero.
– E você?
– Vão embora daqui! Vão embora! – ela gritava sem parar.
No helicóptero, os homens lamentavam e choravam. Principalmente Hiro. Por que tinha
deixado ela carregar a câmera, que era sua? Ele devia ter morrido em seu lugar.
Mas o sacrifício de Lya não seria em vão. O mundo conheceria o que era Mriganka!
– Lya...? – Mark se assustou, ao ver que era a mulher de Jhun.
– Oi, rapazes. O que fazem aqui?
– Não interessa! Agora vai pagar pelo que fez! – gritou Jin, furioso.
– Meu Tae Kwon Dô te vencerá, seu yakuza!
Ele voou sobre ela. Lya se defendeu do seu chute e acertou-o novamente, agora com
o famoso Chute Tesoura, golpe antigo da família de Jhun. Ele caiu no chão. Sacou
a espada. Não podia perder. Não podia.
– Bom, Jin cuidará da amiga de vocês. Agora, tenho que me divertir... Hahaha...
Venham, garotos, vão pagar por terem vindo até aqui! – Bison sorriu.
Eles saltaram sobre Bison, acreditando que essa era a sua única forma de escapar.
E talvez fosse mesmo. Os dois o socaram, mas ele foi mais rápido. Queimou seu corpo
e voou sobre eles, no seu poderoso Psycho Crusher. Eles sentiram sua pele queimando
e caíram no chão.
– Hahahahahaha! – M. Bison se divertia com suas expressões de dor. –
Agora acabarei com vocês. – e ele começou a concentrar energia.
– Não vai não! – o grito de Lya parecia lhe dar mais forças do que tinha.
Seu chute acertou Bison na nuca, quase derrubando-o.
– O quê?! Ah, é você, hehehe...
– Então você que oprime esse povo... E é você que me quer morta.
– Eu quero e terei! – ele gritou, partindo pra cima num... Chute Tesoura!
– Não é só você que sabe usar as pernas, minha jovem!
O golpe a acertou e jogou-a longe. Lya ainda tentava se levantar quando viu Mark
e Seijuro, que a amparavam. Sua perna estava quebrada. Mark concentrou o seu Chi
e curou-a, num dos melhores poderes do elemento ar. E os três viram M. Bison segurando
Jin pelo pescoço, com uma chama psíquica na mão.
– Vai morrer, seu imprestável...! – M. Bison se divertia matando Jin.
– O mesmo poder do...
– ...
Jhun. – Mark completou a frase de Lya.
– Então é isso... Com certeza foi ele que despertou Garuda! – Seijuro
gritou e correu pra cima de Bison. – Idiota, ataca seus próprios homens?
Sua mão em chamas atingiu o ditador, que emitiu um gemido abafado com gotículas
de sangue saindo pela sua boca. Ele se virou, furioso. Mas não teve tempo de atacar
Seijuro. O chute de Lya o acertou novamente; dessa vez um chute duplo. Se virando
para ela, ainda assim não pôde atacar, sendo derrubado por uma rajada de ar, vinda
de Mark.
– Ugh... Aaarrrggghhh! Vocês vão me pagaaaar! – ele tentava se levantar.
Concentrou muito Chi novamente. Viria mais um Psycho Crusher. O golpe derrubou os
três, um depois do outro. Sorrindo, M. Bison partiu pra cima deles. 'Agora acabarei
com isso, afinal', ele pensou, com seu eterno sorriso. Preparou um ataque. Uma grande
rajada de energia. Mas...
– Você não merece viver, seu traidor! – o grito de Jin foi seguido por
seis shurikens que ficaram cravados em Bison.
– O quê? Ainda está vivo?
– Vivo e pronto para te matar! – uma espadada atingiu o peito de Bison,
que cambaleou.
– Obrigado pela ajuda! – exclamou Mark.
– Não estou ajudando vocês... Apenas aproveito essa oportunidade para me vingar!
– Que seja. – disse Seijuro.
– E agora, Bison? – um sorriso confiante preencheu a face de Lya.
'Droga, eles, reunidos, têm poder para me vencer. O que farei?', ele pensou, descartando
a possibilidade de fuga. 'Não temas mais', soou uma voz soberana. E os olhos de
todos ficaram arregalados, inclusive os de Jin. Um estranho ser, animando uma armadura
samurai invadiu o local da batalha. Era Garuda!
– Oh não... – Mark sabia que estava ficando complicado.
– Quem é esse?! – se assustou Lya.
– Esse? Esse é o nosso maior pesadelo... Esse é Garuda! – Seijuro tinha
um humor negro.
– O quê?! Se ao menos meu marido estivesse aqui... Poderiam refazer o ritual
e prendê-lo novamente.
– Então... Então é... – Jin mal conseguia falar.
– Não haverá ritual dessa vez. – a voz fez Mark tremer. – Como
foram imprudentes, guerreiros!
– Então é verdade... Por Buda... Então vocês são os descendentes de Takezo,
Shun e Yu?! – a frase de Jin chocou a todos.
– Como sabe disso, seu yakuza? – Seijuro o agarrou pelo pescoço.
– Sou parente de Jhun. Um irmão bastardo com uma japonesa. – ele sorriu,
mesmo não gostando da sua condição.
– Sabe o ritual? – perguntou Mark, vendo uma ponta de esperança novamente.
– Sim, roubei o manuscrito da casa de Jhun a mando de Garuda. Ele sempre estava
fora... Eu li antes de entregá-lo e resolvi aprendê-lo. Também desenvolvi meus poderes
psíquicos natos.
– Oh, temos um traidor entre nós. – falou Garuda para Bison.
– E agora vai morrer, Garuda! – gritou Jin, enquanto chamas psíquicas
invadiam seus punhos.
Eles sorriram. 'Distraia-o, Lya', disse Seijuro. Ela partiu pra cima de Garuda.
Talvez Jin pudesse substituir Jhun. No entanto, Garuda desapareceu, enquanto seu
chute atingia o ar. Pelas costas, ela sentiu o fogo psíquico de Bison queimando-a
num novo Psycho Crusher. Ela já estava sem forças.
– Vamos! – gritou Seijuro.
– Oh, droga!
Garuda estava desesperado. A grande bola de energia ia envolvê-lo. Um furacão de
fogo com raios psíquicos. No entanto, tinha poucos raios. A energia, antes mesmo
de acertar Garuda, se dissipou. Mark e Seijuro não entenderam. Na verdade, Jin não
tinha poderes psíquicos natos. Apenas desenvolveu-os com muito treino.
– O que houve? – perguntou Mark.
– Não sei...
– Seu fraco! Teremos que lutar! – gritou Seijuro.
– ... – Jin ia sacar a espada, mas se lembrou que tinha caído no chão
após apanhar de Lya. Não estava em lugar algum.
– O ritual só funciona com aqueles que têm o sangue, seu idiota. O poder não
veio do pai de Jhun, e sim de sua mãe, a primogênita. Ela era descendente de Yu!
– gritou Garuda, ao aparecer atrás de Jin, enfiando a sua espada nas suas
costas. – Vai morrer, Jin. Vocês também vão, e nunca mais serei selado!
Jin caiu no chão, agonizando. Furioso, Seijuro socou Garuda. Foi um golpe muito
forte. No entanto, não teve efeito algum. O gigante apenas girou a espada e decaptou-o.
'Como aprecio espadas', ele disse, num tom irônico.
Enquanto isso, Lya já estava morta nas mãos de Bison, que feriu-a gravemente. Ele
jogou seu delicado – porém muito hábil – corpo contra o duro chão, com
um sorriso tirano no rosto. Garuda percebeu que a situação já estava sob controle.
– Seijuro... Seijuro... Seijurooooooooooo!!! – Mark não se continha.
– Agora é só você, Mark. Só você e Kim. O fogo se apagou. Não há mais como
me selar.
– Gosta de usar armas dos outros, não é? – mais calmo, Mark estava tentando
bolar alguma estratégia. Fugir era o único meio. Iori, o filho de Seijuro poderia
completar o ritual, após ser treinado com muito afinco.
– Acabe com ele, Bison. E depois mande entregarem os corpos para as famílias.
Me cansei disso.
– Com muito prazer! Venha, Mark!
Mark ficou observando Garuda desaparecer no horizonte. A noite já tinha chegado.
M. Bison ainda esperava que ele atacasse. Mas Mark, com um sorriso, começou a voar.
'Tchauzinho', ele disse, sorrindo. Mas M. Bison não queria vê-lo escapar. Com um
grande salto ele agarrou um dos pés de Mark, e puxou-o para baixo.
– Pensa que vai fugir? Agora verá meu ataque mais poderoso! Psycho Cannon!
Ele foi envolvido por muita energia. O ataque atingiu em cheio Mark, que ainda se
levantava. Foi jogado ao lado de Jin, que insistia em viver. Mark, ainda vivo, vomitou
muito sangue. Tinha no mínimo dez ossos quebrados. Mas ainda pôde ouvir Jin falar.
– Ryuji... Ah, Ryuji... Eu farei com que apague meus erros. De onde eu estiver!
– sua mão trêmula se fechou com muita força no ar.
– Agora chega de falar! – disse M. Bison, caindo com um pé no seu peito,
enfim matando-o.
– Nãããããão! – gritou Mark.
– Cale a boca também! – disse ele, enfim matando-o com mais um chute.
Coréia do Sul, Seul, 25 de Fevereiro
Jhun ainda sofria muito pela morte de Lya, Mark e Seijuro – nunca descobrira
a verdade sobre Jin. Mas ele tinha que continuar. Tinha uma luta pela frente. Ele
ia treinar Hwoarang, Kaneda e Iori seriam treinados e no futuro aprenderiam o ritual!
Era isso que tinha em mente.
Acordou repentinamente na madrugada. Ouviu uma movimentação próxima. Foi até o quarto
de Hwoarang, para observar pela janela. E viu muitos homens da Shadaloo entrando
na sua antiga casa. Com certeza procuravam por ele.
Mas não o achariam. Tinha sido muito esperto ao mudar seu nome para Kim. O mundo
não era apenas Osaka para eles. Estávamos no Século XX, e o campo de batalha era
todo o planeta Terra. Isso garantiria a vitória!
Souji, irmão de Seijuro, passou a se chamar Yamazaki, e ensinaria a Iori os poderes
do fogo. Joutaro, o pai de Mark, passou a se chamar Takashi e foi para Okinawa.
Nem mesmo as mães de Kaneda e Iori sabiam disso, e a ninguém bateria com a língua
nos dentes. Assim os três – Kim, Yamazaki e Takashi – pensavam.
Kim foi para perto do filho e acariciou sua cabeça. Com certeza ele – assim
como Kaneda e Iori – teria uma vida de batalhas sangrentas, perdas e muito
sofrimento. Ele não tinha culpa disso. Mas, de qualquer forma, Kim sabia que tempos
sombrios viriam. Garuda uma vez mais caminhava sobre o mundo. |